Rui Alencar 29/08/2011
O meu gosto por este livro se assemelhou ao próprio título. Em alguns momentos achei chato e tentado a abandoná-lo; mas fui persistente e terminei por me agradar. Eis alguns recortes:
Todos nós criamos um olhar próprio sobre o mundo e o empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo significados do oceano de dados que nos inunda diariamente. (pag. 7)
...Em situações que envolvem o acaso, nossos processos cerebrais costumam ser gravemente deficientes; (pag. 7)
Este livro...trata dos princípios que governam o acaso... o título “o andar do bêbado” vem da analogia que descreve o movimento aleatório, (pag. 9)
A falta de informações freqüentemente leva à concorrência entre diferentes interpretações (Aquecimento global)...(Medicamentos: Seguros x Recolhidos do Mercado); (pag. 8)
Infelizmente, a má interpretação dos dados tem muitas conseqüências negativas, algumas grandes, outras pequenas (pag. 8)...
Os processos aleatórios são fundamentais na natureza, e onipresentes em nossa vida cotidiana; ainda assim, a maioria das pessoas não os compreende nem pensa muito a seu respeito (pag. 9)
A teoria da aleatoriedade surgiu de mentes preocupadas com magia e apostas,... (pag. 30)
Ao reconstruirmos o passado damos uma importância injustificada às memórias mais vívidas, portanto mais disponíveis, mais fáceis de recordar. (pag. 37)
Nosso cérebro não foi muito bem projetado para resolver problemas de probabilidade...O uso da probabilidade e da estatística nas cortes internacionais ainda é um tema controverso. O “julgamento pela matemática” apesar de raramente considerar argumentos matemáticos, freqüentemente empregam este tipo de raciocínio. (pag. 49)
...Em nenhum outro ramo da matemática é tão fácil para um especialista cometer erros como na teoria da probabilidade (pag. 65)
A Teoria de Bayes trata essencialmente do que ocorre com a probabilidade de ocorrência de um evento se outros eventos ocorrerem (pag 116)
Laplace, que era um homem brilhante e às vezes generoso, por vezes se utilizava dos trabalhos dos outros sem citar a fonte e se dedicava incansavelmente à autopromoção (pag. 132)
Os números sempre parecem trazer o peso da autoridade. (pag. 134)
Uma das grandes contradições da vida é o fato de que, embora a medição sempre traga consigo a incerteza, esta raramente é discutida quando as medições são citadas. (pag. 138)
Segundo um antigo editor da revista Wine Enthusiast, quanto mais nos aprofundamos no tema (de classificação de vinhos), mais percebemos o quanto tudo isso é enganador e ilusório...Classificações numéricas, ainda que duvidosas, dão aos consumidores a confiança de que conseguirão a agulha de ouro no meio do palheiro de variedades, produtores e safras... (pag 143)
Faraday notou que a percepção humana não é uma consequência direta da realidade, e sim um ato imaginativo. A percepção necessita da imaginação porque os dados que encontramos em nossas vidas nunca são completos, são sempre ambíguos. Por exemplo, a maioria das pessoas considera que a maior prova que podemos ter de um acontecimento é vê-lo com os próprios olhos... (pag. 181)
... como descobriu Faraday, a realidade está no olho de quem a vê. (pag. 184)
“se há 10 mil pessoas olhando para as ações e tentando escolher as vencedoras, uma dessas 10 mil vai se dar bem, por puro acaso, e isso é tudo que está acontecendo. É um jogo, é uma operação movida pelo acaso, e as pessoas acham que estão se movendo com um propósito, mas não estão. (pag. 193)
Os cientistas sabem que uma das maneiras mais claras de revelar o significado de um conjunto de dados é apresentá-lo em algum tipo de imagem ou gráfico. Quando vemos dados apresentados dessa maneira, muitas vezes tornam-se óbvias certas relações significativas que possivelmente teríamos deixado passar. O ônus é que, às vezes, também percebemos padrões que, na realidade, não tem nenhum significado. Nossa mente funciona dessa maneira – assimilando dados, preenchendo laculas e buscando padrões. (pag. 193)
...há um confronto fundamental entre nossa necessidade de sentir que estamos no controle e nossa capacidade de reconhecer a aleatoriedade (pag. 198).
“...ainda que as pessoas concordem da boca pra fora com o conceito do acaso, comportam-se como se tivessem controle sobre os eventos aleatórios” (pag. 199)
“a compreensão humana, após ter adotado um opinião, coleciona quaisquer instâncias que a confirmem, e ainda que as instâncias contrárias possam ser muito mais numerosas e influentes, ela não as percebe, ou então as rejeita, de modo que sua opinião permaneça inabalada” (Francis Bacon); (pag. 201)
Para piorar ainda mais a questão, além de buscarmos preferencialmente as evidências que confirmem nossas noções preconcebidas, também interpretamos indícios ambíguos de modo a favorecerem nossas idéias. Isso pode ser um grande problema, pois os dados muitas vezes são ambíguos; assim ignorando alguns padrões e enfatizando outros, nosso cérebro consegue inteligente consegue reforçar suas crenças mesmo na ausência de dados convincentes. (pag. 201)
Infelizmente, parecemos ter uma propensão inconsciente a julgar negativamente os que se encontram no lado mais desfavorecido da sociedade...Deixamos de perceber os efeitos da aleatoriedade na vida porque, quando avaliamos o mundo, tendemos a ver o que esperamos ver. Definimos efetivamente o grau de talento de uma pessoa em função de seu grau de sucesso, e então reforçamos esse sentimento de causalidade mencionando a correlação. (pag. 225)
O modo como enxergamos o mundo seria muito diferente se todos os nossos julgamentos pudessem ser isolados da expectativa e baseados apenas em informações relevantes (pag. 228)
“muitos dos fracassos da vida ocorrem com pessoas que não perceberam o quão perto estavam do sucesso no momento em que dessitiram” (Thomas Edison); (pag. 229)
E assim como os autores devem ser julgados por seu modo de escrever e não pelas vendas de seus livros, os físicos – e todos os que tentam ser bem-sucedidos – devem ser julgados mais por suas habilidades que por seus êxitos (pag. 229)
A linha que une a habilidade e o sucesso é frouxa e elástica...É fácil acreditarmos que as idéias que funcionaram eram boas idéias, que os planos bem-sucedidos foram bem projetados, e que as idéias e os planos que não se saíram bem foram mal concebidos. É fácil transformar os mais bem sucedidos em heróis, olhando com desdém para o resto. Porém, a habilidade não garante conquistas, e as conquistas não são proporcionais à habilidade. Assim, é importante mantermos sempre em mente o outro termo da equação – o papel do acaso (pag. 229/230)
...em algum lugar do mundo vagueiam os equivalentes de Bill Gates, Bruce Willis ... (pag. 230)
“Se você quiser ser bem-sucedido, duplique sua taxa de fracassos” (Thomas Watson, IBM), (pag. 230);