Bee 10/03/2016
Persuasão e encantamento nas raízes linguísticas
A primeira coisa que você deve saber de Lexico, e eu vou colocar nestes termos, é que, sim, ele é um excelente livro para concorrer na sua lista de próximas leituras.
A segunda coisa é que, porra: poderia ser verdade. É tão intrigante, que nos faz pensar se não tem um fundo de verdade em toda essa ficção.
Escrito num estilo de frases que eu só tinha visto antes em "Garoto-Caranguejo", de Lavínia (Lavínia é um usuário do site Nyah Fanfiction, e "Garoto-Caranguejo" é uma fanfic; foda-se, estou comparando com uma fanfic sim ─ isso é século XXI), Max Barry constrói períodos que misturam duas frases cujos sentidos não tem tanto um a ver com outro. Isso facilita a leitura de um jeito novo, é como um caleidoscópio. Mas um que ajuda a construir mais rapidamente as cenas na imaginação, encaixando os detalhes menos importantes no thriller principal, sem parecer pretensioso. A primeira vez que vi essa técnica foi numa fanfic, a mesma anteriormente citada.
Entre a chuva de informações que posso escolher para falar da trama de Lexico, apenas uma ou duas poderiam ocupar essa resenha, para não deixar de fora os questionamentos pertinentes que são colocados aqui e ali, entre os capítulos do livro. São curiosidades que saem depois de uma cena de ação, cheia de "comprometidos", cuja história final que relatam nos jornais, na mídia, é completamente sugestiva, com o intuito de dar falsas explicações aos cidadãos de forma que eles não façam mais perguntas. É como um acidente em Roswell que é explicado ─ ou encoberto ─ no outro dia, como acidente com balão metereológico. E aí, o leitor começa a pensar em quantos casos mais já deixou passar o mesmo truque, sempre. Não dá para confiar nos jornais.
Lexico fala um pouco de PNL, em que as pessoas podem ser divididas em 228 segmentos de personalidades específicas, e para cada um desses segmentos, há uma "palavra mágica" que as deixa comprometida. Os agentes secretos dessa organização sem nome, os chamados poetas, justamente porque recebem nomes de poetas famosos ao longo da história: Virginia Woolf, T.S Eliot, Yeats, Charlote Bronte, definem sua personalidade por meio de perguntas simples, aparentemente aleatórios, e quando o conseguem, bastam que digam essas palavras mágicas e você as obedecerá em qualquer comando que seja. Mas tem uma palavra superior: a palavrárida, que consegue submeter qualquer pessoa, de qualquer língua, e de qualquer segmento que seja. E é em torno dela que gira toda a trama.
Uma trama realmente palpável sobre como conteúdo verbal pode persuadir, enganar, ou realmente comprometer uma pessoa à qualquer nível, por maior que seja. E não falo isso apenas pelos exemplos bestiais de vendedores de sapatos que sabem "abordar aquela pessoa da maneira certa", mas também pelos sociopatas reais que podem ser extremamente ardilosos em plantar uma ideia na sua mente, às vezes, criando novos léxicos. "Você não pode destruir uma ideia", op. cit. The Inception. E o livro de Barry ganha pontos porque ele não fica apenas na teoria vazia de um plot de ficção, mas chega a traçar os "comos" do seu próprio plot: seja sobre PNL, sobre raízes linguísticas e até o mito de Babel, para dar base à sua crítica. É muito bem pensado. Brilhante.
"... o poder sobre o desejo de uma pessoa por conhecimento era chamado de influência social informacional, ao passo que o poder sobre o desejo de uma pessoa de ser apreciada era chamado de influência social normativa. Aprendeu que se podia classificar a personalidade de um alguém em umas duzentas e vinte e oito categorias psicográficas, com um pequeno número de perguntas bem direcionadas, além da observação, e isso era chamado segmentação."
"... o fato era que, se prestar atenção, as pessoas tentavam persuadir umas às outras o tempo todo. Era tudo o que faziam."