Léo 14/06/2017
Reinos, seres incríveis e muita magia e aventura. Leitura maravilhosa
"sentada sobre uma pedra cinza, na encosta das montanhas verdes de Darud, onde a mais fina poeira some ao encontro do vento, Eena acariciava o alto da cabeça de Garbof, adormecido em seu regaço... O bramir dos dragões cobria toda a Cidade Espelho. As magníficas feras, presas em correntes e ganhos, puxavam catapultas de ferro e imensas prisões para aprisionar os feiticeiros rebeldes..." Livros de fantasia são sempre muito admirados pelo leitor pois mostram ao mundo real, dentre tantos ensinamentos, o quanto de possibilidades há dentro do paralelo que muitos ainda consideram inexistente. A gama de raças, cidades, magias e linguagens, quando bem montada e apresentada, consegue tornar o enredo muito agradável e, ao mesmo tempo, elucidativo. Em Valera, a magia não deve morrer, a autora Mylena Araújo revela um reino lendário cheio de magia e seres apaixonantes. O enredo vai sendo intercalado entre o real contemporâneo e os fortes acontecimentos em Valera. Mylena Araújo evidencia uma história muito envolvente e consegue surpreender a cada capítulo, trazendo a tona uma diversidade de linhagem e curiosidades que agradam em todos os sentidos. "Que as masmorras de Largo sejam pouco para Barron enquanto este artigo é elaborado... Agora, feche os olho, abra os braços e deixe que o mundo te leve para o infinito..."
A descoberta da escrita formidável da autora e de sua técnica primorosa é uma proeza feita logo nos primeiros capítulos da obra, onde o leitor já pode se sentir seguro e muito entendido da base enredatória que encontrará pela frente. Uma sensação de serenidade transborda da escrita da autora, que transmite todos os acontecimentos com harmonia e um capricho indescritível em relação à ortografia, transformando o processo de leitura algo muito gostoso de ser feito. O detalhismo preciso quanto as características das personagens, lugares, acontecimentos e a paciência em transmitir as ideias com muita assertividade, são também traços acentuados da escritora cearense, que usa uma linguagem belíssima em sua composição.
Em um dos capítulos da obra, intitulado "A cidade dos anjos caídos", o leitor é levado direto a ares um tanto sombrios onde é revelado alguns motivos sobre tais maldições que cercam Valera: "Há muito tempo, quando Valera era conhecida pelo mundo humano, um grupo de anjos se revoltou contra a humanidade. Segundo eles, os homens não eram dignos da vida e, por sua vez, decidiram acabar com aqueles que tinham a alma manchada pelos piores pecados... Foram castigados à mortalidade em uma cidade onde o inverno prevalece... seus filhos, netos e bisnetos nasceriam com asas quebradas e imperfeitas".
Em pouco tempo o leitor está convicto de que todos os fatos estão perfeitamente ligados e que há uma coerência incrível no enredo. Como em todas as histórias fantásticas, as reflexões e embates ao mundo real não podem faltar. Neste intervalo a humanidade, seus pecados e condenações ficam em pauta. Dessa forma, pode se usar o termo clichê tanto visto em artigos sobre livros, quando se diz que "o leitor acaba se sentindo realmente dentro da história", pois realmente é o que acontece em Valera, a magia não deve morrer, quando o leitor se vê estimulado a continuar a aventura pelo reino e suas cidades. Isso se dá por razão da ótima prolusão da história, feita com muita atenção e inteligência, usando saídas instigantes para esclarecer algumas situações iniciais e deixando o ápice dos recursos para o momento mais propício.
Ritos de ódio, vingança, traição e imoralidade marcam os confrontos ocasionalmente gerados em busca de poder no reino lendário. Eena, — a garota da profecia e que carrega poderes —, conta com seus aliados e destemidos guerreiros na aventura repleta de segredos obscuros encobertos pelo tempo. A esperança é um fator determinante para o grupo, que acompanhado de dragões cativantes como Raio de Fogo e Garbof e mesclado com seres e heróis memoráveis como Pé de Coelho, chamam a atenção por conquistarem com capricho o leitor. É certo de que muitos leitores se apegarão ao grupo e torcerão por seus finais favoráveis em Valera. "Inúmeras vozes soavam ao mesmo tempo... figuras em armaduras de ouro apareceram. Eram seis arqueiros de Alfena na mais pura glória no mundo mortal. Suas asas apresentavam os anos de castigo, algumas esfarrapadas, outras corroídas...".
"...Deveriam proseguir pela estrada de pedra, sempre em linha reta. Mas se quisessem visitar Dalfena era preciso desviar para a direita, onde os legacs, criaturas de pelagem marrom, vivem em árvores-brancas. Ou à esquerda, lar dos lagos, habitados pelas Guiças... O outro lado era completamente diferente, o sol parecia nunca sumir, as plantas eram diversas. Suas petálas chamuscadas tinham um perfume doce e fascinante...": este trecho é muito interessante e mostra um pouco sobre a localização de uma das cidades em Valera revelando, ao mesmo tempo, um sentido figurado. As direções, mesmo próximas, indicam pólos diferentes. Uma analogia à sociedade moderna e as escolhas da vida pode ser interpretada, quando, num mesmo ambiente, caminhos próximos levam a lugares tão distintos. "...Tudo era perfeitamente encantador e cheio de mistérios, um lugar mágico entre os mundos, escondido dentro do Planeta Terra que ninguém mais sabia. As pessoas não conseguem entender o estranho, o diferente... Mas não é preciso entender, apenas crer sem ver", a autora completa o trecho fazendo menção à fé e a possibilidade da existência de todos os mistérios dentro da vasta criação do Criador
A trajetória de Eena mostra uma protagonista muito graciosa e com um espírito determinado, embora o sofrimento da personagem por razões das investidas de Barron — o vilão —, que não perde tempo em tramar para revogar a poderosa profecia que surge no livro das almas para dar fim à escuridão em Valera, seja visível e assolador.
O enredo de Valera é cheio de surpresas e muito multifacetado, mas inteligível. Há uma divisão curta dos capítulos que facilita, e muito, o entendimento da história, não deixando a sensação massiva. É de se ressaltar, novamente, a grande habilidade de Mylena Araújo em criar os seres mágicos e todo a metodologia em Valera, que durou, segundo informações da autora, cerca de cinco anos. Em conversa com Clayton De La Vie, fundador da Fonzie, editora responsável por esta edição da obra, cito merecidamente a autora como uma brilhante Fantasy Queen. A inclusão dos dragões à história é um ponto que "dá um up" em todo o contexto, pois Mylena faz com que as criaturas vistas como feras cruéis em muitas outras aventuras transmitam, entre tantos ensinamentos, o mais elementar de todos, o amor: "Desculpe, mas eu sou um dragão e gosto do aroma das nuvens. Então, se tem medo de altura, não olhe para baixo. Siga essa regra e tudo ficará bem".
A apresentação do conjunto de personagens vai sendo feita de maneira coesa. A autora deixa o leitor muito satisfeito ao explorar pontos negativos de alguns deles e transformá-los em proveitosos, benéficos para os desfechos. Tópicos como poderes e maldições e também o síncrono de curiosidades sobre as criaturinhas tão peculiares agradam sem deixar motivos sequer para críticas.
O processo duradouro de criação da obra certamente valeu a pena pois o aperfeiçoamento foi sendo empregado e tudo conspirou para um enredo promissor. Motivos, causas, consequências e todo o conjunto de ações e reações de personagens, como a descoberta dos mais esquisitos e inimagináveis segredos, como teias urdidas de muito ódio, inveja e ganância, se entrelaçam e tornam a obra muito mais do que uma simples história de fantasia. O reflexos da realidade se grudam ao fantástico e dão um vasto entendimento sobre as ideologias e igualdade de raças, mesmo em paralelos distintos. Acompanhar a aventura da protagonista em busca de seus objetivos é adquirir altas doses de sabedoria e coragem, extraídas diretamente do modelo de conduta de carismáticos personagens que se permitem evoluir no reino lendário.
"O coração é a chave para a vitória, embora a cabeça tente desvirtuar a verdade"; frases instigantes e repletas de simbolismos figurativos em sua essência, compõem a obra, que é um portal vital ao universo dos verazes seres; a evasão primorosa do mundo real cujo vivem as verdadeiras feras. A experiência em Valera não deve ser passageira. Deve permanecer no leitor até mesmo após o término da aventura no papel. Guerreiros, arqueiros, anjos-negros, elfas, ninfas, fadas, dragões, bruxas e magos devem continuar vivos e tornar-se um pouquinho de cada leitor. Assim como na vértice da grande batalha final onde surgem os verdadeiros heróis, deve surgir no leitor esse lume capaz de apontar o caminho a seguir, pois em cada um mora um grande e insondável segredo: "...Desde o momento em que regressou a Valera, jamais parou para pensar que em seu sangue não havia somente a linhagem do rei...".
É possível, ainda, evidenciar o montante significativo dos sentimentos das personagens que eclodem a cada nova investida e belos romances. A tese sobre o comportamento humano acompanha os indivíduos desde o princípio de sua sabedoria, e no conjunto de criações de Mylena Araújo não é diferente; sejam humanos, demônios ou dragões, o psicológico é apresentado brilhantemente. A prepotência e crueldade de Barron são ótimos exemplos a citar, pois no alto de sua glória conhece o verdadeiro medo.
O arremate final não permite que obra e reino passem desapercebidos. Surpresas aguardam o leitor. Se sentida, entendida e vivenciada, Valera jamais sairá do coração e do mais profundo da alma de cada um. Que os reinos em Valera sejam frutos na vida de todos os leitores que entendem-se como parte do mundo fantástico. À autora, o Marcas Literárias deseja todo o sucesso possível e impossível para que a mesma galgue a cada montanha encontrada, a cada neblina enfrentada, a cada vale ultrapassado, os mais lindos e vastos caminhos, sejam eles já conhecidos ou não.
O nosso mais verdadeiro prestígio e parabenização a autora e obra, digna de um roteiro cinematográfico. E por que, não?
site: http://www.marcasliterarias.com.br