souluba 28/10/2022DESIDERATA: O MOVIMENTO CONSTANTE DO INCONSCIENTE.A descoberta do inconsciente, como aponta Quinet (2003), é a de que ele tem leis e comporta desejos sobre os quais nem sempre o sujeito quer saber. A teoria das pulsões, tema fundamental na teoria psicanalítica, aponta para algo que existe, é anárquico e soberano. Nessa perspectiva, o sujeito irá orientar-se, enquanto houver vida, a partir da parte que falta, uma vez que é necessário a falta para impulsionar o desejo.
Primeiro irei apresentar alguns contrapontos entre a pulsão e o instinto:
Antes de falar da pulsão é importante destacar que por muito tempo, no Brasil, houve um erro de tradução para essa palavra. Traduzia-se pulsão (Trieb) por instinto (Instinkt), e os dois possuem uma diferença enorme.
O texto destaca que o instinto é puramente elaborado no sistema nervoso, sendo este responsável pelo domínio dos estímulos, e é responsável por uma ação protetora do organismo. A tarefa primária de um instinto é subtrair-se de estímulos externos para a sobrevivência. Ao contrário de outros animais, o humano tem o instinto como um indicativo, mas não como uma regra para o seu comportamento. Já a Pulsão, de modo superficial, diz respeito ao desejo insaciável do indivíduo, que procura uma meta (sempre a satisfação) através de um objeto (o meio). O instinto é puramente biológico, enquanto a pulsão passa, e ela é obrigada a passar, pela rede de linguagem do inconsciente – que é organizado como uma linguagem e está sempre repetindo os mesmos circuitos de cadeia associativa. O instinto pode ser saciado e a pulsão, não. Ela é insaciável e está a todo instante desejando – enquanto houver vida, há pulsão – por causa da falta; é necessário que algo falte para que o desejo nasça. Os instintos podem ser saciados conforme a primeira tarefa supracitada, mas a pulsão, não. A pulsão nunca se satisfaz, e ela tenta a todo custo se satisfazer, mas é recalcada pelas forças de defesa do Eu; então ela volta nos chistes, nos atos falhos, na repetição, nos sonhos e nos sintomas – inclusive a forma com que o sujeito goza é um sintoma. Mas há um real gozo impossível de ser alcançado. O real pulsional, parte energética da pulsão, não é representado no pensamento porque é fruto de uma falta: não há substância. Essa falta é predisposição para ela estar sempre a desejar.
2- Particularidades do princípio do prazer (pulsão):
A pulsão, por sua vez, jamais atua como uma força momentânea de impacto, mas sempre como uma força constante. Fazendo fronteira entre o anímico e o sintomático. Suas características são precisamente:
A) Pressão: força que a pulsão desempenha para buscar a realização dos seus desejos;
B) Meta: Será sempre a satisfação, ativa ou passiva;
C) Objeto: É o meio pelo qual a pulsão alcança sua meta. Nas pulsões o objeto é o que mais pode variar;
D) Fonte: É a zona erógena.
3- Os destinos sempre mudam, mesmo assim:
Como destinos da pulsão, Freud assinala neste texto 4 modos, sendo: 1- Reversão ao seu oposto, o qual é dividido a partir de duas operações: a) mudança da atividade para a passividade (sadismo X masoquismo/ voyerismo X exibicionismo) e B) inversão de seu conteúdo (amor X ódio); 2- Retorno ao próprio eu; 3- Recalque; e 4- Sublimação.
4- Notas mentais de um neurótico:
Também é citado no texto as três polaridades que regem a vida anímica e um pouco sobre o narcisismo. Só deixou a desejar nos últimos pontos do destinos nas pulsões (recalque e sublimação) porque ele cita, mas não aborda.
Referências
FREUD, S. As pulsões e seus destinos/ Sigmund Freud ; tradução Pedro Heliodoro Tavares. – 1. ed.; 1. reimp – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
QUINET, ANTONIO. A descoberta do inconsciente: do desejo ao sintoma. 2.ed. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
Em nome do pai (Freud), do filho (Lacan) e do Espírito Santo (Quinet, Alonso, Dor e outros): amém.