Ana Luiza 26/02/2015
Resenha do blog Mademoiselle Loves Books
Na infância, Juliet Moreau viu seu mundo se desmanchar quando um escândalo difamou sua família. Seu pai, o médico mais famoso de Londres, foi repudiado após boatos de suas abomináveis experiências virem à tona. Dr. Moreau abandonou a mulher e a filha na miséria e desapareceu, todos acreditam que ele está morto. Anos depois, agora órfã de pai e de mãe, Juliet trabalha como faxineira em um hospital, a jovem de 16 anos tenta apenas sobreviver e deixar o passado para trás.
“Sendo um cirurgião, o sangue era o meio com o qual ele trabalhava, assim como é a tinta para um escritor. Nossa fortuna fora construída sobre sangue, seu cheiro acre impregnado nos tijolos da nossa casa e até nas roupas que usávamos. Para mim, o cheiro de sangue era como o cheiro da minha própria casa.” Pág. 20
Entretanto, quando acaba colocando as mãos em um antigo diagrama cirúrgico do pai, Juliet percebe que essa parte da sua história ainda não está encerrada. A garota investiga as origens do documento e acaba reencontrando Montgomery, um antigo criado da família, por quem ela tivera uma paixonite infantil, que se tornara médico. Juliet pressiona o garoto e acaba descobrindo que seu pai não está morto e que vive em uma ilha distante, onde dá continuidade ao seu trabalho, com o próprio Montgomery como assistente.
Após acontecimentos que tornam impossível para Juliet permanecer em Londres, ela embarca com Montgomery para a ilha distante do pai. A garota simplesmente precisava saber, precisava ver por si mesma se o pai doce e carinhoso do qual ela se lembra é apenas um gênio incompreendido ou o louco que todos pregam. A viagem de navio é longa e desconfortável e, no meio do caminho, a embarcação encontra um náufrago, um jovem inglês cercado de mistérios. O enigmático Edward fica atraído por Juliet quase na mesma intensidade que a garota por ele, entretanto, esta ainda está incerta sobre seus sentimentos por Montgomery.
A chegada a ilha é marcada por emoções conflitantes. Apesar de não a estar esperando, o Dr. Moreau parece feliz por rever a filha, mas não fica contente com a decisão de Edward de permanecer em seu território até que outro navio passe por ali (o que pode demorar até um ano) e o leve de volta para a Inglaterra. Juliet não sabe como se sente em relação ao pai, afinal, esse logo se mostra temperamental e cheio de peculiaridades. A ilha por si só também causa receio: os estranhos e deformados ilhéus despertam desconfiança na garota, mas não mais que as secretas atividades de seu pai. Quando mortos começam a aparecer pela ilha, Juliet percebe que corre risco, mas será que esse assassino misterioso é o único inimigo? Até entender o que realmente está se passando na ilha, Juliet não pode se considerar salva. Entretanto, suas bizarras descobertas a mudaram para sempre, isso se ela sobreviver a elas.
A Filha do Louco é o primeiro volume de uma trilogia do mesmo nome. Comecei a obra com grandes expectativas, já conquistada pelo título e pela capa, e acabei sendo surpreendida e gostando do livro ainda mais do que imaginava! A trama já começa muito intrigante, cercada de mistérios. Entretanto, logo A Filha do Louco ganha traços fortes de ficção científica e horror e aí que a história começa a ficar realmente boa. E muito, muito bizarra. Até mesmo para mim, que adoro cenas fortes, algumas partes do livro chegaram a ser um pouco assustadoras e me deram agonia.
A Filha do Louco traz um suspense bem construído, que prende bastante o leitor e Shepherd me surpreendeu durante toda a obra. Entretanto, achei a escrita da autora um pouco descritiva demais (certos momentos simplesmente pulei algumas linhas para ver logo o que ia acontecer a seguir) e algumas cenas desnecessárias, o livro poderia ter pelo menos umas cinquenta páginas a menos e o desfecho poderia ter sido um pouco mais rápido e a obra seria igualmente boa. Fora isso, a narrativa em primeira pessoa da autora é muito boa e parece que a própria Juliet que está ali, na sua frente, contando sua história.
Shepherd construiu uma trama intrigante, fascinante e questionadora. A autora faz o leitor refletir sobre a amoralidade no campo científico, o modo como se usa a ciência como desculpa para se cometer atrocidades e como simplesmente nos achamos superiores e inteligentes e acabamos ferindo outros seres vivos na nossa sede por conhecimento que, muitas vezes, pode ser apenas um disfarce para a crueldade. É algo a se pensar! Colocamos animais selvagens em laboratórios e os estudamos incansavelmente e será que isso é realmente bom? Ah, ok, nem eu nem você trabalhamos com pesquisa, entretanto, não somos nenhum Dr. Moreau, mas usamos produtos testados em animais, por exemplo. Será que não estamos contribuindo com certas atrocidades?
Quanto aos personagens, gostei da Juliet logo de início, apesar de que em certos momentos algumas de suas atitudes me irritaram. Juliet não é nenhuma mocinha frágil, é corajosa e destemida, mesmo quando está morrendo de medo, ela vai atrás da verdade e busca fazer o que é certo. Entretanto, em alguns momentos, ela simplesmente se nega a ver a verdade e acaba ingenuamente perdoando quem não deveria ser perdoado. Entretanto, algo que gostei, é que a autora não criou uma protagonista perfeitinha. A Juliet não é nobre o tempo todo, tem pensamentos egoístas e sentimentos ruins como qualquer pessoa, no fundo, ela quer apenas sobreviver. A Filha do Louco é, também uma história sobre sobrevivência.
“Isso era loucura. A curiosidade dentro de mim não podia ser natural. Afastava-me ainda mais da minha mãe, da razão, das regras e da lógica. Mas havia momentos em que eu não conseguia resistir.” Pág. 176
Eu odiei o Dr. Moreau desde o início! Ele é aquele tipo de personagem que você mataria sem qualquer remorso. O Montgomery me provocou sentimentos contraditórios. Por causa Juliet, principalmente, me apaixonei pelo personagem, que é romântico, fofo e protetor. Entretanto, por outro lado, repudiei-o, afinal, desde o início eu desconfiava que ele não era tão inocente e bom quanto parecia ser (coisa que a Juliet termina o livro sem aceitar). Eu também me apaixonei pelo misterioso Edward, ele é um cavalheiro e fofo desde o início, e mesmo quando vemos que, afinal, ninguém nesse livro é cem por cento alguma coisa, continuei a gostar do personagem e torcer por ele.
Uma história sobre crueldade, amoralidade, instintos, obsessão e ciência, A Filha do Louco é uma leitura fascinante, com pitadas de ficção cientifica, horror e, também, romance. É impossível não se cativar pela obra, ficar com o coração acelerado em certos momentos e amar e odiar os personagens na mesma medida. O desfecho do livro bom e seria satisfatório caso A Filha do Louco fosse um livro único. Entretanto, claro, estou extremamente curiosa e ansiosa pelos outros volumes da Trilogia.
site: http://www.mademoisellelovesbooks.com/2015/02/resenha-filha-do-louco-megan-shepherd.html