Aione 13/02/2015Foi a premissa de O Retrato que chamou minha atenção: uma obra que promete a imersão em uma história completamente centrada na literatura e na paixão de seu protagonista por ela e por sua falecida esposa.
“Com os joelhos repentinamente fracos, caiu no chão contra uma estante e observou, como se fosse um sonho, enquanto o papel flutuava até o chão. O rosto ainda estava ali; ele fechou os olhos de novo, querendo que sua pulsação diminuísse mais uma vez e suas mãos parassem de tremer. Respirou fundo e abriu os olhos. Ela estava ali, olhando para ele, cama e serena, esperando. Era sua esposa. Era Amanda.”
página 8
Em terceira pessoa, a narrativa se alterna dentre três diferentes períodos: o presente de Peter, momento no qual o personagem se depara com um retrato de sua esposa, inexplicável por pertencer à época vitoriana e, posteriormente, com um manuscrito capaz de alterar a história da literatura Shakesperiana; o passado de Peter e Amanda, trazendo ao leitor a forma de como ambos se conhecerem e desenvolveram seu relacionamento; e o passado do Pandosto, o manuscrito encontrado por Peter, narrando a real trajetória da polêmica obra literária até sua chegada nas mãos do protagonista.
Inicialmente, a característica responsável por meu encantamento com a obra foi a paixão de Peter pelos livros – algo fascinante a qualquer bibliófilo. Não apenas por seu sentimento, também achei extremamente interessante adentrar na vida profissional do personagem, um vendedor de livros raros envolvido com projetos literários desde a época da faculdade. Somos apresentados a processos de restauração, a histórias de manuscritos e a histórias de diversos colecionadores, também amantes dessa arte. O interessante de O Retrato, também, é o fato de mesclar ficção com realidade, de forma a aumentar o interesse pelo enredo, questionando o limiar entre o real e o imaginário.
“Peter ganhara uma bolsa de estudos em Ridgefield, e a orientação aos calouros foi uma experiência dolorosa, focada em ‘conhecer’ pessoas. Peter não queria conhecer pessoas. O que ele queria era encontrar aquele mundo-dentro-do-mundo onde pudesse se ele mesmo consigo mesmo. Depois da visita guiada pelo foyer da livraria e do depósito, suspeitou ter encontrado o seu lugar. Ao ficar para trás durante a visita e escorregar para o meio das fileiras de estantes que desapareciam na escuridão, Peter descobriu exatamente o que o protegeria: livros.”
página 17
Contudo, meu envolvimento com a história foi diminuindo com seu avançar. Ainda que eu achasse o enredo interessantíssimo, não conseguia me prender a muitas páginas de uma só vez, de forma a fazer uma leitura bastante lenta e sem emoções. O fato de eu ter precisado interromper a leitura por alguns dias logo após tê-la iniciado por conta de alguns imprevistos pessoais pode ter sido o responsável pelo corte no meu envolvimento, e não a obra de Charlie Lovett em si.
Apesar do meu baixo envolvimento com o enredo ao longo das páginas, O Retrato configurou em uma história bastante interessante e bem estruturada, cuja leitura certamente vale a pena de ser conferida.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2015/02/12/resenha-o-retrato-charlie-lovett/