Catharina61 05/08/2021
“ – Mas eu amo os dois! – disse alto. - Eu admito! Essa é a verdade! Eu amo os dois! Não sei como é possível, mas é o que sinto! Amo vocês dois de maneiras diferentes, porém com a mesma intensidade! “
Anos atrás, quando estava em uma feira de livros e li a sinopse de Arrabal e a Noiva do Capitão, sabia que tinha que comprá-lo. E foi quando terminei de ler, chorando, sabia que tinha sido os dez reais mais bem gastos da minha vida. E para aqueles que, assim como eu, amam teatro, poesia e declarações de amor, esse livro é perfeito!
Giordano e Giuseppe são irmãos gêmeos idênticos, mas cada um tem uma vida bem diferente: Giordano é um homem sério, possui uma das mais altas patentes do exército, sendo o chefe da Guarda Real de Nápoles. Giuseppe, agora conhecido como o poeta Arrabal é o chefe de sua trupe de teatro La compagnia di Teatro I Trovatori Del Re. Apesar de não possuírem os mesmos interesses, Luigia irá balançar o coração dos irmãos Romanelli.
Porém, um evento ocorrido na infância, ainda é causa de muita dor, principalmente para Gioconda, a mãe deles, que sofre dos nervos após dar à luz aos filhos e só piorou após os meninos brigarem pelo boneco Il feroce Saladino.
A autora consegue nos transportar para Itália, descrevendo cada detalhe que me deixou impressionada, consegui sentir o cheiro do macarrão sendo preparado na rua, a magia que todos falavam quando encontravam com Arrabal, o campo de batalha, as noites frias do acampamento, e a vontade voltar ao passado foi grande. As palavras em italiano só fizeram com que a leitura ficasse mais rica e prazerosa, mesclando com o cenário napolitano realmente nos transportando a Nápoles do século 18. O jeito como ela descrevia as apresentações nas praças, e a magia do teatro e de Arrabal foi muito encantador.
Falando em magia, o jeito como cada personagem da trupe conheceu o poeta foi lindo também. Todos estavam passando por um momento difícil de suas vidas, Mamma era rejeitada pelo marido e pela filha, Vincé era um alcoólatra, Gigi era um franciscano que tinha vontade de escrever opera, Francesca era uma menina de rua, Dottore era um médico, então Arrabal surge em suas vidas como se fosse a luz que eles estivessem procurando por tanto tempo. Todas as cenas deles são incríveis, Mamma dando tapas nos colegas, Francesca fazendo de tudo para Arrabal lhe dar um beijo, Vincé e Dottore discutindo, não tem como não rir.
Sem contar Caterina, a costureira cega, que depois faz parte da trupe e também Vittoria, a marquesa que depois de uma noite com Arrabal, decide se juntar à trupe e seguir seus sonhos, inclusive descobrindo seu dom de escritora. O livro também mostra sobre as classes sociais, o público que a trupe se apresentava sempre para os pobres, a elite virando os olhos para eles, Vittoria sendo mal vista pela sociedade depois de abandonar tudo para seguir com a trupe.
Acho que uma das partes mais bonitas do livro para mim, foi quando Giordano e Vittoria estão conversando na taverna, e ele conta para ela sobre a vontade de ser como o irmão de declamar poemas, de ser mais livre para se expressar. O livro toca, ao falar sobre as escolhas que tomamos na vida, e como as pessoas ao nosso redor nos influenciam. Apesar de Giordano amar os campos de batalha, a preparação, os treinos, ele também queria uma atenção especial que a mãe tinha com o irmão, por mais orgulho que o pai tivesse dele, o “e se” sempre falava mais alto.
Eu me derretia a cada declaração de amor feita, um poema, um olhar, e aquela agonia de saber quem Luigia iria escolher: Giordano ou Arrabal, já que com cada um ela se sentia completa de uma forma diferente. Eu leio esse livro todo ano, e mesmo sabendo o que acontece, não consigo escolher qual irmão gosto mais. O herói ou o artista, o prático ou o impulsivo, ter a certeza de tudo ou o inesperado…
O final é incrível, eu nunca poderia imaginar algo assim, e a autora conseguiu escrever sem deixar a história estranha, contando sobre certos acontecimentos que ocorreram para deixar a história completa. Só sei que depois desse livro, todos possuímos várias personas, e a cada situação colocamos ou não nossas máscaras. Descobrimos novos dons, que nem sabíamos que tínhamos. Às vezes precisamos que alguém entre em nossa vida para nos mostrar.
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