Diário do Farol

Diário do Farol João Ubaldo Ribeiro




Resenhas - Diário do Farol


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Alê | @alexandrejjr 04/01/2021

O mal shakespeariano veste o hábito

O que esperar de um João Ubaldo inspirado - estímulo este no qual ele não acreditava - querendo dialogar com Shakespeare em um novo projeto? Um bom livro, claro. Mas “Diário do farol” é mais do que isso: é uma tragicomédia sobre o desencanto.

O quê? Palavras bonitas jogadas em um texto não dizem absolutamente nada - uma afirmação que João Ubaldo gostaria de ouvir. Eu explico: os leitores que optarem por esse livro vão se deparar com uma personagem desprezível. Nosso narrador, um padre depravado e sem escrúpulos, é o condutor da sua própria (versão da) história. Acompanhamos pontos chaves sobre suas memórias, escolhidas a dedo, numa tentativa de entender (ou não) o seu lado. Assim como o “Enclausurado” de Ian McEwan, “Diário do farol” de Ubaldo pega emprestado elementos do “Hamlet” de Shakespeare e faz uma história (original?) cercada por vinganças, violência e, é claro, um fantasma.

Nosso narrador não tem nome, adora nos xingar - e nesses momentos é impossível não lembrar do Brás Cubas de Machado, que de certa maneira é homenageado nessas linhas - manipula, pelo menos em sua cabeça, Deus e o mundo e ainda foi colaborador da nossa ditadura militar, esse período sombrio que todos os latinos conheceram em algum momento. E tudo isso é narrado com a elegante prosa de Ubaldo, que escolhe e organiza as palavras com um esmero quase desumano, característica que este leitor que vos digita só percebeu até agora, pelo menos em língua portuguesa, no já citado Bruxo do Cosme Velho e naquele simpático senhor português chamado José Saramago.

É triste, mas é meu dever dizer a vocês que nem tudo são flores. Ainda não consegui repetir a mesma imersão que tive com esse baiano que, nas palavras dele, “não tem cara de escritor” quando li o sublime “Viva o povo brasileiro”. Foi meu terceiro livro do Ubaldo e em 2021 parto para o quarto, buscando ingenuamente o mesmo prazer que já tive e que somente a ficção pode proporcionar. Ah, e não deixe de conferir esse livro aqui se ele aparecer no seu caminho, combinado?!
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Fernando 07/03/2011

Gostaria de explorar um aspecto do livro que chamou minha atenção, mas que não foi comentado aqui até o momento. Como o livro é narrado em primeira pessoa, é possível questionar a veracidade do relato. Ainda que se acredite no narrador, uma vez que ele insiste em expor a inexistência de motivos para mentir, é bom lembrar que mesmo assim se trata de sua visão sobre os fatos. Em outras palavras, embora honesta, sua narrativa pode ser incorreta. Por exemplo: será que seu pai realmente assassinou sua mãe? Ele garante que sim, mas não há qualquer prova a respeito. Nota-se que ninguém viu o “crime”. O pai nunca confessou o “assassinato”. Ninguém culpou o pai, além do narrador. Lembre-se que o narrador culpou o pai pelo “crime” desde o instante em que o viu entrando em casa com sua falecida mãe nos braços. Será que a sua opinião em relação ao seu pai, que o maltratava constantemente, não o levou a acreditar nisso? Será que ele não gostaria de ter ainda mais motivos para odiar seu pai? Nosso inconsciente é poderoso. Além disso, durante toda a sua vida, o narrador diz conversar com sua falecida mãe. Sua mãe pede vingança. Será que isso aconteceu de fato? Acredito que o narrador ache que sim, mas meu bom senso nega-se a aceitar. O narrador é um psicopata. Por que ele também não poderia ser um esquizofrênico? A intenção do narrador não é apenas contar sua história. Ele quer expor as fraquezas e maldades do ser humano. Quer que fiquemos com medo: “De qualquer forma é bom lembrar que, mesmo eu morto, alguém como eu sempre poderá estar perto de você.” Será que não seria ainda mais assustador se os fatos que levaram o narrador a fazer as atrocidades que fez não tenham ocorrido como ele julga terem acontecido?
Cláudia 30/04/2011minha estante
Bom, vou ter de colocá-lo na minha lista "vou ler"! Achei super interessante!
Quanto aos comentários "...o livro é narrado em primeira pessoa, é possível questionar a veracidade do relato" e "...sua narrativa pode ser incorreta" me lembrei de um livro maravilhoso, um clássico que está entre os meus favoritos: Dom Casmurro, Machado de Assis. Como tenho um carinho enorme pelo personagem e me dói e me emociona o seu pesar - totalmente equivocado - já simpatizei com a estória de Diário do Farol.

Obrigada!


Fernando 30/04/2011minha estante
Cláudia, vc lembrou bem. Dom Casmurro dá margem a diferentes interpretações por ser narrado em primeira pessoa. Nunca saberemos o que ocorreu de fato. Bj.


Cláudia 02/05/2011minha estante
É, nunca saberemos. Mas eu acredito na Capitú! rsrsrs


Luan ' 22/08/2012minha estante
Acredito, como afirma o autor, que a veracidade dos fatos, embora seja ele militante de sua importancia, seja irrelevante. A narrativa e a própria história do personagem foi construída a partir de sua ótica. Os fatos aconteceram sim, sob a perspectiva do personagem, e foi através dela que descortinou-se a história. Mas se as questões colocadar por você fossem colocadas no texto, nosso protagonista perderia a consistência e a rigorosidade que lhe é o mais peculiar.


Estêvão 11/02/2013minha estante
É a segunda obra que leio do João Ubaldo, a outra foi A casa dos budas ditosos e, nas duas percebi que ele parece querer mesmo confundir verdade com ficção. Na Casa... ele afirma que a narrativa é fruto de gravações que recebeu anonimamente e que ele transcreve tal qual foi gravado.

Nesse romance ele também causa essa impressão mesmo sendo em primeira pessoa e mesmo ele, constantemente, afirmando ser tudo verdade e imprimindo um tom tão forte que gera essas várias dúvidas que você apresentou.

Além disso, o narrador - um dos mais curiosos que já tive o prazer de ler - sempre afirma se tratar de um relato literário, mesmo ele não se afirmando escritor. Todavia, estamos mais acostumados a encontrar esses relatos 'verdadeiros' em obras realistas, com narradores em 3 pessoa, que descrevem minuciosamente os ambientes buscando dar um tom de veracidade mais próximo possível do real. Só que o narrador de Diário do farol assume postura de autor realista quando assume esse compromisso com a verdade, mas em 1 pessoa e é isso que gera toda essa confusão entre a verdade dos fatos e o que é relatado.

Mas concordo com o Luan que isso seja irrelevante para a obra. Ou esteja em um patamar de importância mais abaixo do que o livro se propõe.

Ah, Cláudia, bem lembrado o Dom Casmurro. Também me lembrei do Machado, mas do Memórias Póstumas, por causa do narrador tão bonachão e sem preocupação em mostrar-se como, de fato, é.



Hernane 27/02/2019minha estante
O próprio narrador afirmar que não se deve confiar em ninguém. Pode ser que ele seja só um maluco mesmo. E que como foi padre a vida toda acabou utilizando a literatura para expor desejos que ele nunca pode realizar.




Elane.Medeiross 19/03/2021

O Príncipe
Minha primeira experiência com José Ubaldo tive um enorme prazer em sua escrita, o autor contruiu um personagem que com certeza existe aos monte no meio da nossa sociedade. Acredito que o Príncipe de Maquiavel teve muita influência sobre essa narrativa, que discorre sobre várias situações que indignam o leitor, e também o deixa enojado.
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Tuninho 22/08/2023

Nunca tinha lido nada de João Ubaldo e com imensa alegria terminei esse livro que é fantástico. Diário do Farol é um livro empolgante. Vou ler outros livros do autor, que é um dos grandes autores nacionais e que só agora descobri.
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Leoribeiro 09/01/2009

Talvez não seja o melhor livro de Ubaldo, mas foi o que me despertou o interesse pela leitura. Foi o primeiro livro que li, no alto dos meus 14 anos, e consegui desfrutar do sabor cada palavra que se revelava nos papéis. Eu entrei na história e saía para contar os detalhes para os meus amigos. Eu não acreditava, ou melhor, não queria acreditar, que ele iria fazer aquilo com o próprio pai. E eu realmente acreditei na história. Escrita em primeira pessoa e com um realismo que ainda hoje me impressiona.

Esse livro me mostrou o quanto eu era ingênuo. Converteu-me em um pobre pecador. Fez-me duvidar das pessoas. Trouxe-me a sensação de que eu não poderia depender de mais ninguém, além de mim mesmo. Eu me perguntava como esse homem pode ainda estar solto. E quando eu descobri que era literatura, eu quis saber muito mais com um fascinio que meus olhos mostram ainda hoje.
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MK 17/09/2009minha estante
É exatamente este efeito da literatura que me fascina! Move, provoca, inquieta, desassossega.




Pri Airam 22/01/2009

Fascinante
Uma historia que faz o leitor viajar. Ao ler esse livro, parecia que estava vendo tudo que acontecia. Conta abertamente tudo que acontece (mesmo sendo ficção), criticas à igreja, e atitudes que mexem com nossos principios. Realmente abre nossos olhos para a realidade. Gostei, aprovei e recomendo.
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Fê Gaia 13/12/2009

Esperava mais
Amo João Ubaldo Ribeiro, basicamente por Viva o Povo Brasileiro (um dos melhores livros q já li). Diário do Farol é um livro q desperta minha curiodidade desde os meuys 14 anos, sempre quis lê-lo pela sinopse extremamente atraente q ele possui. Quando finalmente consegui obtê-lo, comecei a leitura com tanta expectativa q ele acabou se tornando decepcionante. Basicamente, esse livro conta a história de um psicopata vaidoso e pedante q quer mostrar a todo custo ao leitor o quão perverso e inteligente ele é, aliás, o próprio personagem se define como "o pior ser humano q já existiu". Realmente é muita pretensão se achar a encarnação do mal por ações q várias pessoas doentes já tomaram antes dele, inclusive sem terem nenhum motivo para isso (diferente do tal padre, q sempre foi movido pela vingança). A narrativa é enfadonha e não passa de um discurso de auto-afirmação verdadeiramente patético. Enfim, definitivamente esperava muito mais desse livro.
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Dani Bittencourt 30/09/2009

Um dos meus livros preferidos, se não o mais significativo pra mim. A história é sórdida e cínica, mas tenho um carinho grande por ele. Um livro que comprei quase que pela capa, antes mesmo de saber quem era João Ubaldo Ribeiro. Me surpreendeu por ser intenso e genial.
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Bit 14/03/2011

Diário do farol é o relato autoral de um clérigo amoral e inescrupuloso, que no outono da sua existência resolve inventariar seu rosário de maldades, perpetradas com requintes extremos desde a infância no seminário - de início, sob o pretexto de vingar os maus-tratos do pai; posteriormente, ainda mais sofisticadas, devido ao desprezo de uma mulher.
Auto-exilado numa ilha onde pontifica um farol, o bilioso e mesquinho padre dialoga com o leitor para provocá-lo com uma realidade na qual não há bem ou mal, e assim tentar demovê-lo de qualquer noção redentora. Conseguirá? Para ele, não há transcendência, o Universo nos é indiferente e a todos foi negada essa Revelação. Não por acaso, o farol de sua ilha chama-se Lúcifer, ´aquele que detém a Luz´.
O leitor é advertido desde a epígrafe: ´Não se deve confiar em ninguém´. A vida real é feita de rupturas, exceto para aquela maioria dos homens que perde a oportunidade de viver de fato por nunca romper com nada realmente importante, adverte-se. Num testemunho insidioso, que concilia situações hilariantes com outras de horror repulsivo e escatológico, somente o cinismo impera. Nisso, põe-se o padre a fazer troça dos ´católicos que acreditam nas besteiras do catolicismo´ e a manipular todos, fiéis ou descrentes, para atingir seus fins amorais, chegando à sofisticação de submeter-se voluntariamente a sessões de tortura para dar vazão a seus caprichos vingativos.
Um mal que - posto em tom neutro como só é possível por meio de uma arte superior como a literatura - nos permeia a todos e nos leva a refletir sobre nossa condição social e humana. Um mal na sua essência, que nada tem de panfletário e denunciador, que encontra solo fértil na sociedade e no sistema político atuais.
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Maristela 02/08/2020

Excelente
Muito bem escrito , esse livro . O João Ubaldo Ribeiro é um excelente escritor . E com esse narrador , ele faz com que tenhamos os mais diversos sentimentos. O personagem é , ao mesmo tempo frio e apaixonado. Tem uma paixão por vingança e uma frieza em relação a tudo que na seja ele mesmo . Vive para satisfazer seus desejos de psicopata , em minha opinião . Sua vida é formada e vivida , de acordo com o que sua ente doentia lhe mostra . O final é horrivelmente bom . Um narrativa crua , direta , sem preâmbulos e nada de homeopatia .
Recomendo fortemente.
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Boure 14/11/2014

Farol Sem Luz...
Não tenho dúvida que João Ubaldo estava muito desprovido de estima pelo conjunto de sua obra quando lançou Diário do Farol, que descreve a obstinação do narrador psicopata em aperfeiçoar cada vez mais sua crueladade e revelar as fraquezas humanas. O livro é razoável no começo, mesmo com João escolhendo relatar um despropósito de que o narrador não sabe escrever muito bem. Mas é um livro bem escrito em 60% do volume. Há alguns personagens caricaturais que servem para exprimir o quanto são tolos e hipócritas os homens, principalmente os celibatários. João Ubaldo criou um personagem gratuito e tolo que tem como objetivo ser revelador, mas ele é fraco e pedante. E o que dizer das últimas 50 páginas do livro.... Um desastre óbvio. Tenho certeza, por conhecer o mercado, que o livro não seria aceito por nenhuma editora se fosse conferida a autoria a um autor iniciante. Posso dizer sem presunção que se não é um desperdídico total, é um trabalho que certamente poderia ficar de fora do conjunto da obra de um autor que escreveu Sargento Getúlio.

site: http://www.designdoescritor.com/#!alexandre-boure/c7jt
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laura 03/02/2010

Sem emoção
João Ubaldo Ribeiro criou um personagem horrendo, monstruoso que se esconde atrás de uma figura religiosa para praticar todo tipo de atrocidades, das quais sente imenso prazer. Um personagem arrogante e pretensioso que alega agir por vingança por conta dos maus tratos que sofria na infância praticados por seu pai, e a rejeição que sofreu quando adolescente de uma moça que não quis ceder aos seu caprichos, é o foco central da obra, e varias vezes o autor abandona a narração para contar outros fatos que nada tem haver com sua historia, ou agredir os leitores ( na minha opinião sem necessidade pois não alteraria o enredo).
É um livro que eu não leria novamente pois não tem um personagem cativante, apenas um exibicionista se gabando de seus feitos cruéis.

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Carol.Heller 17/03/2010

Difícil digestão
Extremamente bem escrito, como não poderia deixar de ser, uma vez que quem o assina é João Ubaldo Ribeiro.

Na minha opinião, o livro é muito pesado. A história é angustiante e seus comentários nos fazem ter medo da humanidade.

Porém, deve-se levar em consideração que foi esta a intenção do autor, e esta criação aterrorizante, pode não nos trazer prazer ao ser lida, mas não deixa de ser muito interessante e original.
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Orlando 14/08/2009

Muito bom esse livro, faz tempo que o li mas ele consegue se manter bem vivo na minha mente. O personagem principal é um daqueles tipos irritantes, mas que conseguem prender a sua atenção, sem falar na lista enorme de maldades, mesquinharias e afins que ele cometeu desde pequeno até com seus familiares. Outra coisa que chama a atenção é que, mesmo sendo o vilão que é, Padre Beto mantém uma relação com a mãe (que morreu quando ele era pequeno uma relação de devoção que beira a santidade,fazendo dela o único Deus em que ele acredita e respeita.
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laura 30/01/2010minha estante
Gostei de sua resenha, estou lendo esse livro e realmente esse padre não tem fé e nem escrúpulo.




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