otxjunior 11/10/2020Contos Fantásticos do Século XIX Escolhidos por Italo CalvinoTalvez os livros que mais se lamentem o fim sejam aqueles que levaram mais tempo para serem lidos. Tendo iniciado a leitura no Halloween do ano passado, fui lendo em média dois contos por mês e já comecei outra antologia que é para manter o hábito recém-adquirido. Nunca fui muito de conto, preterindo-o por narrativas mais longas, como as de novelas e principalmente romances. Precisou de uma seleção feita pelo escritor italiano Italo Calvino de textos do século retrasado que giram em torno do fantástico, tema que seduz homens de todas as culturas e épocas, para eu me render ao apelo das histórias curtas.
Não gosto da classificação de Calvino. A sua tentativa acadêmica de agrupar os contos por temas, os primeiros mais "mágicos" (o fantástico visionário) e o fantástico cotidiano e mais "psicológico" das últimas obras, parece arbitrária, como o próprio compilador admite. São basicamente indistinguíveis, quer o autor tenha lido Freud, quer não, como O Homem de Areia de E.T.A. Hoffman, que pertence a primeira parte, mas é mais "moderno" que muitos da segunda, atesta.
Entre outros contos de destaque estão O Sonho, de Turgueniev, o de mais marcante atmosfera em minha opinião; O Demônio da Garrafa, de Robert Louis Stevenson, que tendo lido logo após um livro de narrativa mais truncada foi muito prazeroso apreciar um verdadeiro contador de histórias, quase que emulando a boa e velha tradição oral; A Vênus de Ille, de Prosper Merimée, cujo cenário bucólico e resgate ao classicismo me consquistaram; Em Terra de Cegos, de H.G. Wells, em que o tema comum a tantos outros de olhos é levado ao extremo; Os Construtores de Pontes, de Rudyard Kipling, que só melhora quando Findlayson passa a usar ópio. E se estamos nomeando personagens, a irascível Medea, de Amour Dure, de Vernon Lee, pseudônimo de Violet Page, a única escritora da coletânea (Frankestein, de Mary Shelley, era muito longo para fazer a seleção segundo Calvino), merece menção honrosa.
Além disso, foi bom revisitar escritores como Edgar Allan Poe, Charles Dickens e Henry James; não melhor que conhecer outros como Honoré de Balzac, Nikolai V. Gógol e Ambrose Bierce. Em última nota, eu deixaria a leitura dos comentários por Italo Calvino que abrem os contos para depois. Por alguns conterem spoilers e outros assustarem desnecessariamente por seu caráter mais enigmático até do que a própria obra original. E não é esse tipo de terror – a saber, o acadêmico - que buscamos ao abrirmos um livro numa noite de outubro.