stsluciano 10/03/2015
Colin Fischer foi uma leitura rápida e prazerosa, como imaginei que seria.
No livro, conhecemos Colin, um adolescente portador da Síndrome de Asperger que está entrando no colegial. Há o enfoque do quanto o período pode ser traumático para os norte-americanos e, devido ao seu problema, especialmente para Colin. Essa conexão é sugerida de cara pelos autores e inteiramente aceita pelo leitor quando, logo em seu primeiro dia, Colin visita as águas de um sanitário, um oferecimento de Wayne Connelly, o “garoto problema”.
Os traços da síndrome em Colin são bem retratados pelos autores, ele é observador, e anota tudo o que se passa ao seu redor em um caderno, geralmente com o seguinte lembrete ao final “Investigar”. E, ainda, dessa característica advém outras tão importantes quanto para o andamento da história: um potencial dedutivo enorme e uma memória invejável capaz de guardar consigo os menores detalhes – apesar de ele, Colin, achar a memória humana traiçoeira, uma vez que ela elenca os fatos de acordo com a importância dos mesmos de forma subjetiva – e uma fluência incrível ao discorrer sobre assuntos de seu interesse. Além do já esperado em livros com personagens portadores de Asperger, como o problema com contatos físicos, espaço pessoal, e interpretação de frases, expressões e sentimentos.
A ação do livro em si se inicia quando, durante um incidente na cantina do colégio, uma arma dispara, alunos e professores fogem em pânico, e só resta no recinto Colin, intrigado pela aparição da arma. De quem ela seria? E qual a razão de alguém levar uma arma para o refeitórios da escola? Colin faz todas essas perguntas e não tem dúvidas de que culparam a pessoa errada quando apontaram Wayne Connelly, o garoto problema, como o responsável. Decide então provar não a inocência de Wayne, mas que estão errados e ele pode indicar a resposta certa.
Achei interessante o recurso utilizado pelos autores para fazer com que Colin se aproximasse de Wayne: um inocente apontado como culpado, um garoto com incríveis capacidades de dedução e que acredita poder encontrar a verdade. O agressor e a vítima. Colin tem dificuldades de se conectar com os outros alunos, e isso advém da síndrome, uma vez que, sendo incapaz de assimilar com perfeição as expressões e sentimentos humanos, ele acaba sendo “treinado” para reagir a elas, e isso o engessa a seguir um roteiro complexo do que se fazer e das rotinas que tem que seguir durante o dia. Com isso, tem apenas uma amiga, Melissa.
O foco no mistério e na investigação trás uma atmosfera mais límpida, não de humor, mas que nos proporciona uma leitura que agrada, faz bem. A narrativa, que mescla aberturas de capítulos em primeira pessoa, narradas por Colin, com a ação em si narrada em terceira, não é trágica e não aposta na fragilização dos sentimentos de quem lê, e isso é uma novidade para mim em se tratando de sick lit, e agradeço aos autores por isso. Aqui não há vitimização, e, se as coisas não estão bem, também não é preciso se desesperar, Colin se mostra mais adaptável aos imprevisto do que ele, aposto, mesmo acreditaria ser possível.
Agora é difícil não linkar o livro com “Passarinha”. Acho que uma das grandes diferenças do “Colin” para o “Passarinha”, cuja protagonista também é portadora da Síndrome de Asperger, é o contexto no qual os autores decidiram inserí-la. Enquanto em Passarinha, a protagonista, Caitlin, vinha de uma família desestruturada, com uma mãe falecida e um pai que não conseguira superar a trágica morte do filho, filho este que era quem “traduzia” o mundo para a irmã; Colin tem pais presentes e preocupados, que sabem lidar com seu problema, lhe dão espaço e fazem de tudo para que ele consiga se adaptar ao cotidiano. Em muitos momentos, Colin cita sua terapeuta, e apesar de em diversos trechos ele tomar uma interpretação nada convencional do que ela tenta lhe explicar, é inegável o quanto ela é importante para que ele entenda os roteiros sociais. Podendo pecar pela generalização, dá pra resumir da seguinte forma: em “Passarinha” o leitor deveria chorar; já em “Colin Fischer”, conhecer tudo de que é capaz um portador da Síndrome, que resulta no fato de levar uma vida como outra pessoa qualquer.
Gostei bastante da amizade incipiente que Colin consegue, e de algumas dicas que os autores deixam escapar ao longo do último capítulo. Eu torci por Colin, mas também torci o nariz para um ou dois fatos, nada que cause um ataque fulminante, mas que poderiam ter sido melhor explicados. Agora, o melhor mesmo é a promessa de um novo livro que se insinua nas últimas linhas. Espero por ele, ansiosamente. Colin é um cara legal.
site: http://www.pontolivro.com/2014/04/colin-fischer-de-ashley-edward-miller-e.html