John 16/01/2016
O MÍSTICO SAGRADO
No primeiro capítulo, o livro fala sobre uma criança que está sendo ofertada a um deus pagão chamado Molok, o deus das serpentes, onde a mesma depois de sua maturidade irá gerar em seu ventre a filha prometida de Molok. A criança cresce e vira proprietária de uma casa de hospedagem junto a seu esposo, que sofre de problemas psiquiátricos. Para quem não sabe Moloch, Moloc ou Moloque é o nome do deus ao quais os amonitas, uma etnia de Canaã (povos presentes na península arábica e na região do Oriente Médio), sacrificavam seus recém-nascidos, jogando-os em uma fogueira. Também é o nome de um demônio na tradição cristã e cabalística. Em sua história, Raymundo Monteiro usa este mesmo conceito básico com este deus ancestral para fazer esta incrível história.
O livro fala sobre uma hóspede chamada Melanie que aparentava ser uma hóspede qualquer, porém mal sabiam o real objetivo dela, dentro da casa de hospedagem, Melanie fez várias amizades, e uma delas é Renato. O que achei incrível nesta parte da trama é que o autor abordou o elemento do suspense de uma maneira atrativa e natural que soube convencer no capítulo quem de fato era a hóspede. Mas não posso soltar sobre quais são seus motivos na trama, creio que seja melhor você mesmo ler, caro leitor. Renato, é um dos hospedes da casa, se torna um admirador de Melanie, e entre uma conversa e outra, Melanie descobre algo surpreendente que irá ajudar e muito do delinear da trama. Um suspense de tirar o folego. Através desta descoberta que me impressionou, o livro trás a tona a real identidade de Melanie, e fala coisas que vai justificar isso, fazendo o leitor ficar ainda mais preso na história. Porém, Melanie precisa executar algo para não correr risco de vida.
No capítulo 5, estou frisando este capítulo, o livro revela algo bem inusitado sobre uma pessoa que se sente muita apaixonada Melanie, mas, Melanie após saber disso se afasta um pouco da pessoa, por quê? Este afastamento, em minha opinião foi algo imaturo da personagem por não saber lhe dar com a diferença entre as pessoas. Apesar disso ser um fato comum entre as pessoas, o autor descreveu uma cena bastante psicológica e com bagagem social. É um capítulo transitório e reflexivo. Para deixar ainda melhor, mostrarei uma frase de Nelson Mandela que diz assim:
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.” - Nelson Mandela
O capítulo seguinte mostra o que faz o ser humano bastante faz quando estiver ocioso. O autor usa e abusa de uma cena clássica de filmes de investigação para compor nesta trama instigante. Livros são, na maioria das vezes, um aperitivo ideal para os jovens, então neste capítulo isso foi usado de forma inteligente por um personagem pra descobrir certas coisas onde ninguém jamais poderia suspeitar do lugar. Principalmente de uma casa de hospedagem dos anos 90. Existe neste livro uma referência de um clássico filme de suspense dos anos 60 que no final irei mencioná-lo.
Existe uma mulher presente na história que faz parte de uma “ORDEM” que “protege” algo muito poderoso e esta localizada no lugar, mas isso não vem o caso agora, então esta pessoa tem uma breve reunião com dois membros desta “ORDEM”, os quais falam que receberam um comunicado, onde informa que dois espiões teriam sido enviados ao Brasil, para a casa de hospedagem, para poder capturar o tal objeto poderoso.
A “ORDEM” é um contexto muito amplo e foi muito bem trabalhado e abordado dentro desta incrível trama. Pois, comumente chamamos de Sociedade secreta que é uma associação de iniciados que têm acesso a certos mistérios e conhecimentos que, segundo os seus membros e líderes, não devem ser compartilhados com as demais pessoas, por elas serem incapazes de compreendê-los e “levá-los a sério”, assim sendo, não mereceriam conhecer ou fazer parte de tais sociedades, grupos. No sentido antropológico e histórico, as sociedades secretas são profundamente ligadas ao conceito de Männerbund (do alemão, Homens + Liga, união) que seria próprio de culturas pré-modernas.
Seguindo com a história, Melanie numa certa cena cai em um sonho, que mais parecia um pesadelo, onde ela tinha escolher entre dois caminhos, ela se depara com uma encruzilhada, onde o caminho para esquerda tinha escrito:
“Poder?” E o caminho para a direita: “Vida?”. E vocês leitores, nesta situação o que escolheriam? Existe um personagem muito importante chamado de Josaphar e ele está internado, por ter sofrido seus problemas de perseguições espirituais, e Melanie vai até ele em sua cama Hospitalar, e ambos conversam algo revelador e muito marcante para os demais capítulos da trama.
No capítulo 10, livro nos mostra algo bem típico de novela brasileira, assim é o que eu acho, onde existe um problema para ser descoberto e tem alguém muito bem escondido para saber toda a verdade. Isso tem muito em novela de época da rede globo. Mais na frente, o livro conta a história do poderoso objeto místico, assim como o próprio título já diz, enfim, este artefato poderoso serve para fazer um ritual que irá gerar “alguém” ou alguma “coisa” dentro da casa de hospedagem. O que sabemos sobre ritual e sacrifício?
Bem, o ritual foi criado há muito tempo, desde que o mundo era mundo para beneficiar de uma forma pura ou impura os deuses ancestrais. Muitos de rituais eram feitos por sacrifícios de jovens do sexo feminino virgens, crianças e recém-nascidos. Existiam no passado sacrifícios extremos a favor dos deuses dentro de uma crença religiosa, cultural e política. O autor, apesar de não explicar isso de forma tão complexo, ele nos mostrar no livro de uma forma bastante consistente e crível de como eram feitos os rituais antigos a benefícios de deus pagão. Nisso, incorporado numa trama de suspense frenético com uma essência de livros de teoria de conspirações que adoro ler e leio até hoje, como por exemplo, anjos e demônios de Dan Brown.
O final do livro, não posso falar sobre o seu desfecho, pois darei muito spoiler, mas o que posso afirmar com precisão e equivalência é que o livro apesar de ser uma obra limitada por poucas páginas que isso me irritou muito, porque adoro livros assim deste tipo que me instiga muito a cada página e não sinto a sensação de fim, ele é notável por sua eficiência e primor literário. O autor escrever muito bem os diálogos, isso é um ponto muito positivo, é raro ter um autor que tenha esta qualidade textual. É um livro de leitura dinâmica e suave de compreensão. Eu disse no meio da resenha que esta obra me lembrou de um filme de suspense clássico, apesar de que o autor não de fato se influenciado por tal filme, mas eu consegui ver isso no contexto. É interessante que ao longo da história consegui visualizar, não somente um filme, mas dois filmes dos anos 60, que são: Psicose um filme norte-americano de suspense/horror de 1960, dirigido por Alfred Hitchcock e o Bebê de Rosemary, um filme estadunidense de 1968, do gênero terror, dirigido por Roman Polanski.
O que de fato existe de influência nesta obra literária que possa contribuir para os nossos leitores modernos? Eu respondo o seguinte, a qualidade de um texto não é julgada apenas pela forma como um autor transmite a sua ideia não, embora isso seja importante para a sua compreensão, mas não podemos fugir do contexto histórico e social que o autor nos permite explorar com autenticidade e originalidade. Este livro, ainda que tenha poucas páginas e seja descrito por outros críticos como sutil e rápido de ler, muitos leem todo o livro e não sabe o quanto de conteúdo foram adquiridos dentro de cada página. Leitura não apenas conhecer texto. Leitura é compreensão contextual. Não teríamos conhecimento do passado de forma tão precisa sem os textos maus escritos e elaborados dos antigos. As pessoas leem e não sabem o que estão lendo isso um fato bastante proeminente entre os leitores, e principalmente os críticos analfabetos funcionais.
Quem interpreta normalmente atua como se estivesse a desvendar os sentidos contidos no texto. A crença de que o sentido é imanente ao objeto faz parte do exercício de quase toda atividade de interpretação. (COSTA, 2008, p. 11)
Achei esta obra incrível e muito atrativa. O autor fez uma excelente obra com muita referencia ao passado utilizando mecanismos novos de linguagem no texto. Eu recomendo esta obra porque sei o quanto será útil para os bons leitores que leem com cuidado e consegui apreciar cada detalhe para que ele mesmo possa sonhar e visualizar tanto as cenas do romance quanto reinterpretar um contexto antigo numa roupagem moderna e mercável.