Caverna 06/03/2016
Emma Thomas é invisível na escola onde estuda, e notada somente ao estar do lado de sua melhor amiga, Sara, uma das meninas mais populares. E porque exatamente ela é invisível? Bom, certamente não por escolha. Emma mora com os tios há quatro anos, após a morte de seu pai e de sua mãe adoecer (ou se embriagar, na verdade, e não ter como cuidar dela). George é o irmão do pai de Emma, e ela adora os dois priminhos que tem, mas Carol, a esposa de George, faz de tudo pra tornar a vida de Emma um pesadelo. Ela não aceita de bom grado a intrusão da menina na casa deles, e por isso a trata como uma empregada, dando-lhe tarefas ao mesmo tempo em que exigia notas altas na escola e era rígida, mantendo-a presa dentro de casa. Mas o grande terror era produzido pela violência doméstica que Emma sofria. Carol possuía uma raiva tão significante pela menina que só de vê-la era suficiente pra bater sua cabeça contra a parede e agredi-la das piores maneiras imagináveis. E Emma não podia se defender ou retrucar, e nem mesmo contar o que acontecia dentro de casa para alguém, inclusive para Sara. Ela não queria que seus priminhos ficassem sem mãe, já que a raiva de Carol parecia pessoal; ela era uma mãe incrivelmente carinhosa pros filhos. George fingia não ter consciência das agressões, e quando presenciava alguma das cenas, ele ficava do lado de Carol. E dessa forma seguia a vida de Emma, sem poder recorrer a ninguém, sofrendo em silêncio, tentando esconder os hematomas, e contando os dias para a faculdade finalmente chegar e ela se livrar daquele inferno.
Mas nem tudo era ruim. Não quando Evan Matthews entrou em sua vida. Na aula de jornalismo, ele soltou uma ideia pra um projeto que não agradou Emma nem um pouco (e que, aliás, eu imaginava que a autora fosse abordar com maior profundidade, mas infelizmente não), e então ela surtou despejando palavras pra cima dele, algo totalmente não característico seu e que deixou os alunos espantados. Mas aquela reação atraiu a atenção de Evan, e ele passou a se dedicar cada vez mais à Emma, querendo quebrar a barreira que ela tinha construído, e conhecê-la melhor. Emma não entende o porque da insistência, e foge o máximo que pode, até reconhecer o quanto amava Evan, e o valor que ele tinha em sua vida pacata. Mas aquilo não estava certo; E se Carol descobrisse? E se a punisse e não a deixasse vê-lo nunca mais? Pior ainda: E se Evan descobrisse que Emma era violentada? Ela não podia permitir tamanha humilhação.
Eu fiquei tão surpresa quanto Emma em relação à persistência de Evan. Ele era desejado pela maioria das garotas do colégio, mas logicamente resolveu que devia arriscar justamente com Emma. E esse não é o problema, apesar das conversas bem curtas e estranhas deles no início. O problema é que Emma é muito bruta, como se acumulasse todo o rancor que sentia pela tia e descontasse bem naqueles que só queriam o seu bem. De verdade, ela era tão grossa com Evan me deu uma raiva tremenda, por muitas vezes quase desisti de continuar lendo pelo seu jeito ignorante, mas eu entendia que era apenas para afastá-lo. E nem assim Evan desistia! Sério, isso foi a segunda coisa que me deixou com cara de interrogação. Como uma pessoa leva tanta patada e continua firme e forte correndo atrás da outra? Ok, quase todo mundo já fez isso um dia, mas alguém como Evan... Eu não sei se existe. Alguém extremamente disposto a não desistir, de não largar mão de alguém que, aliás, nem conhece direito. Achei bem estranho, mas no final, ainda bem que ele tem essa qualidade/defeito aí.
Sara é aquela personagem que mantêm a leitura estável. Ela é animada, inteligente, não tem mesmo como não simpatizar com ela. Também fiquei na dúvida de como a amizade delas cresceu tão forte, ainda mais ela sendo a típica popular, e basicamente foi a âncora de Emma durante esses quatro anos.
Agora, o assunto polêmico do livro... As cenas eram pesadas, sim, e chocantes principalmente por serem causadas por uma mulher, algo que acredito que eu nunca tenha visto em livros. Mas devo admitir que não teve o mesmo impacto em mim, que em outros leitores. Eu fiquei com raiva da Carol, logicamente, mas pelo fato de ela não ter motivo algum. De verdade, eu esperei o livro inteiro na esperança de encontrar a razão de tamanha raiva, mas não existia nenhuma! Absolutamente nenhuma! Ela só não gostava de Emma morando na casa dela, e acabou. Mas que marido aceita que a esposa faça isso com sua sobrinha? Que marido deixa que seus próprios filhos vejam aquelas cenas? Gente... Pra mim foi tudo muito sem noção. A única conclusão a que cheguei é que a mulher tem problemas psicológicos. Sem brincadeira, é a única explicação. Todas as suas atitudes evidenciavam claramente isso.
O final é de tirar o ar, mas durante quase 500 páginas você nada, nada pra não chegar a lugar algum. Tenho a impressão que 200 dessas páginas foram só encheção de linguiça, acaba se tornando uma leitura arrastada e sem grandes coisas a acrescentar. Só por curiosidade, fui ler resenhas do segundo volume, e pelo que vi a história só piora, no sentido de não evoluir. Então é um livro que realmente tinha potencial, mas muitos detalhes acabam sendo cansativos e fugindo do foco principal.
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