Marco 05/10/2016
Excelente análise
Niall Ferguson logo de início se compromete a não escrever um "manual" didático sobre a guerra, alegando a abundância de materiais assim já escritos (não tão abundantes aqui no Brasil, infelizmente). Em conseqüência, temos aqui uma análise do conflito e seus desdobramentos via história "econômica e social" e "diplomática e militar", essa última não descrevendo as situações táticas utilizadas em cada combate, mas sim ao aspecto estratégico sob quais os generais e governantes tiveram de trabalhar para fins diplomáticos e belicosos.
"O Horror da Guerra" é de fato (como quase tudo escrito pelo autor) polêmico e provocativo, diferenciando em muito do que já encontramos pelas prateleiras livrarias a fora. E com intuito de embasar essa obra fora da tangente, Ferguson se propõe a responder dez perguntas em 14 capítulos via abordagem analítica. São elas:
1 - A guerra era inevitável, seja por causa do militarismo, do imperialismo, da diplomacia secreta ou da corrida armamentista?
2 - Por que os líderes alemães apostaram a guerra em 1914?
3 - Por que os líderes britânicos decidiram intervir quando a guerra eclodiu no continente?
4 - A guerra foi realmente concebida com entusiasmo popular como realmente se acredita?
5 - A propaganda, e especialmente a imprensa, mantiveram a guerra em curso, como acreditava Karl Kraus?
6 - Por que a enorme superioridade econômica do Império Britânico não foi suficiente para derrotar os Impérios Centrais mais rapidamente e sem intervenção norte-americana?
7 - Por que a superioridade do exército alemão não foi capaz de derrotar os exércitos britânico e francês na Frente Ocidental, como fez com a Sérvia, a Romênia e a Rússia?
8 - Por que os homens continuavam lutando quando as condições no campo de batalha eram, como contam os poetas de guerra, tão deploráveis?
9 - Por que os homens deixaram de lutar?
10 - Quem ganhou a paz - para ser preciso, quem acabou pagando pela guerra?
Todas essas perguntas serão respondidas pelo método já descrito e ainda corroborado por impressionantes tabelas e gráficos econômicos. No entanto, a obra possui alguns defeitos.
Por exemplo, a pergunta 1, na minha opinião, não foi respondida convincentemente por algumas análises contraditórias, colocando em destaque a afirmação de que a guerra se iniciou por temores defensivos alemães. Oras, intrinsecamente a essa conclusão, descreve o livro que esse temor se inicia pela fomentação e crescimento de exércitos rivais, o que infelizmente enquadra a análise no senso comum já carimbado dos historiadores.
Além do mais, apesar da brilhante argumentação acerca da eficiência dos Impérios Centrais em "matar ao menor custo" os soldados dos exércitos adversários (pergunta 7), não houve uma complementação ao exposto com uma explicação nos termos econômicos, estratégicos e militares para a vitória da Alemanha e da Áustria-Hungria sobre a Sérvia e a Romênia. Algo que não desmente a conclusão do autor, mas que muito elucidaria a eficiência da análise empregada.
Por fim a obra é altamente recomendada COM UM “PORÉM”. Aquele que se aventurar nas mais de 600 páginas de "O Horror da Guerra" deve ter conhecimento prévio sobre o conflito (como o livro de Lawrence Sondhaus ou a enciclopédia da Editora Abril "História do Século 20 - 1914/1919") assim como conhecimento prévio de noções básicas de Economia.
Por isso, apesar de achar injusta a média de avaliações feitas à obra, consigo perfeitamente entender o motivo de assim estar. Sem essas precauções, “O Horror da Guerra” se tornará uma leitura extremamente enfadonha e confusa.