Kizzy 15/06/2015
Ética para a família
Tem sido cada vez mais difícil para mim escrever sobre os livros do Dr. Cortela e do Dr. Clóvis de Barros, creio que porque tenho lido e ouvido muita coisa deles, parece que acabo escrevendo mais do mesmo também.
Quero começar minha crítica exatamente por aí, se você, como eu, tem consumido muito dos dois através de palestras, entrevistas, artigos, livros e até aulas, a primeira parte do livro vai te parecer bastante repetitiva. O que não é uma crítica ruim é claro, afinal, a escolha de ler muito do mesmo autor é minha mesmo. Ainda assim, o livro escrito em forma de diálogo entre os dois, e falando nos primeiros capítulos tudo que eu já tinha ouvido, me deixou um pouco entediada.
Mas como sempre, a segunda metade do livro valeu toda a leitura. A abordagem de "Ética e vergonha na cara" se mostrou muito mais interessante do que eu estava imaginando no início da leitura. a abordagem da ética centrada na decisão do indivíduo, a exemplificação do ambiente cultural existente nessa discussão, e acima de tudo, o papel da família na construção da moral e "vergonha na cara" do indivíduo, são construções extremamente bem colocadas e para mim as mais sensatas quando se fala de ética. Creio ser uma epidemia o movimento social atual de colocar sob responsabilidade do Estado o que na verdade é responsabilidade sua. Movimento esse que cria diariamente uma legião de gente chata e reclamante por tudo, e uma legião de crianças mal educadas e intolerantes.
Outro ponto altíssimo do livro é a explanação sobre o papel da mídia e a tendência catastrófica e as vezes ignorante do passado que a sociedade se encontra. Muito interessante o conceito de que é um absurdo dizer que temos uma sociedade mais violenta hoje do que na idade média ou na ditadura militar. Isso é uma discrepância, a realidade é que hoje temos mais conhecimento dos acontecimentos e por isso nos sentimos mais inseguros, o que sem dúvida é um grande problema e exige solução rápida, e que mais uma vez, passa por nós enquanto sociedade e não só pelo governo. Esse processo acontece em tudo, a abordagem do professor Clóvis para esse movimento me pareceu muito esclarecedora.
Enfim, não é objetivo da resenha discutir todos os conceitos, apenas opinar que a leitura do livro se mostrou interessantissima e rica, ao mesmo tempo que é totalmente coloquial e acessível.
Como brinde final, há ainda um glossário com pequenas explicações sobre todas personalidades e fontes citadas durante a discussão. Dá vontade de ler a obra de cada um. Para mim, como sempre, a filosofia foi terapêutica.
"...como a nossa formação dentro de uma sociedade e cultura, se dá a partir daquilo que temos como espelhamento de conduta, crianças e jovens, em grande medida, se formam eticamente a partir daquilo que observam como conduta prática correta do pai e da mãe. Dái a dificuldade de se admitir que o cinismo exista no seio da família, porém, e exatamente dentro dela, mais do que na empresa, que ele tem lugar."