Sabrina 31/03/2019Não podemos esquecer!Você vai voltar pra mim de B. Kucinski
Hoje é historicamente um dia terrível na história do País. Pior ainda é perceber que muitas pessoas ainda diminuem e menosprezam a vileza que foi o regime militar brasileiro.
Dia 31 de março de 1964 foi decretado o golpe militar no Brasil que depôs o então presidente João Goulart e instaurou os anos de violência, crimes políticos, conservadorismo e perversidade que foram os anos do regime dos militares no País.
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Chegarmos hoje com um governo que deseja comemorar tal alcunha é a certeza de que perdemos. Perdemos pra história, pra barbárie e que o retrocesso é certo, porque isso é de um grau tão asqueroso que não deveria nem ser questionado depois de tantas provas dos crimes e torturas desse período.
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No meio do caminho tem a arte, única possível de resguardar e fazer perdurar os fatos e os acontecimentos mesmo que pela via da ficção, daquilo que é preciso (e possível) extrair do horror. E um desses resultados é o livro de Kucinski. Livro publicado em 2014 que traz contos acerca desse período na história do Brasil. Segundo o autor é tudo ficção, mas é claro que as histórias são tão próximas do que foi o acidente real dessa história e dessas feridas para nós que muitas parecem já terem saído nos jornais ou da boca dia sobreviventes desse tempo real sombrio. Num prefácio tocante da Maria Rita Kehl ela demonstra com exatidão isso que está posto entre o real da vida e o que a arte pode vir a fazer.
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É difícil falar desse livro e não poder citar conto por conto, chorei bastante durante a leitura. Velório foi o primeiro conto que acabou comigo, chorei muito, parei a leitura porque não conseguia continuar. Me trava o estômago saber que esse título, outrora tão bonito quando eu comprei esse livro, é torcido de forma tão truculenta que só me restaram lágrimas.
Terapia de família é um outro processo que se dá decorrente das ausências nesse período tão turbulento. Cenas de um sequestro surpreende pelos diálogos tão possíveis de estarem próximo da realidade. Pela dor que é ler um relato que muitas crianças do período já contaram ter sofrido tais abusos.
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E aí tem A visita do inspetor-geral; A sandinista; O garoto de Liverpool; Um homem muito alto, Pais e filhos; etc e etc e a gente vai ficando com o nó na garganta, com o peito dolorido, com a certeza de que pouco ainda foi feito pra deixar claro a impossibilidade dessa repetição.
Não, já basta! Não dá pra recuar ainda mais!
DITADURA NUNCA MAIS!!
E é preciso continuar a falar, escrever, produzir, gritar a plenos pulmões, porque o que está se pondo no horizonte é temeroso.