Monstro do Pântano

Monstro do Pântano Charles Soule




Resenhas - Monstro do Pântano #1 (Novos 52)


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wolv_logan_x 28/05/2014

Neste encadernado começa a nova fase do Monstro do Pântano, cujas histórias passam a ser escritas por Charles Soule. O escritor deu sorte de pegar o personagem numa fase em que está se adaptando à sua nova condição, ainda tendo que aprender a lidar com seus poderes de acesso e controle sobre o Verde, após Alec Holland desistir de ser humano para tornar-se um ser totalmente vegetal, no final da saga Mundo Podre (publicada nas últimas edições do mix Dark, que foi cancelado em janeiro na edição 16).

É interessante a inversão de papéis nesta nova fase do personagem. Enquanto na fase clássica de Alan Moore o Monstro do Pântano era um ser vegetal que pensava ter a mente de Alec Holland, agora Alec, que serviu de base para a criação da consciência do Monstro original, é um ser humano que desistiu de sua humanidade para tornar-se o avatar do Verde, e para isto teve que tornar-se um elemental das plantas.

O Monstro do Pântano agora tem que manter o equilíbrio do Verde na Terra, e para isto viaja pelo mundo realizando intervenções “cirúrgicas”, muitas vezes drásticas, em pontos do planeta onde o Verde está sendo manipulado de maneiras que afetam seu estado natural. Decisões difíceis como destruir um oásis no meio de um deserto, única fonte de sobrevivência de um povo; ou uma plantação de arroz que poderia salvar milhares de pessoas da fome, fazem parte de seu papel como avatar do Verde. Isto abre para Soule a chance de explorar a relação entre o Monstro do Pântano e o Parlamento das Árvores, que Alec desconfia estar tirando proveito de sua inexperiência para manipular suas ações.

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Soule mostra o conflito interno do Monstro através dos recordatórios, que em alguns pontos alternam entre os pensamentos de Alec e os apelos do Verde, que além de incitá-lo a cometer atos que prejudicam outras formas de vida, expressam sentimentos como inveja, egoísmo e orgulho, os quais nublam o julgamento e o foco dos poderes do Monstro, e ameaçam transformá-lo numa marionete sem personalidade de uma consciência vegetal coletiva. O ato é comparável a alguém que cede sua mente aos impulsos do inconsciente, sem filtrá-los com o superego.

Não é a toa que o primeiro problema que Soule cria para o Monstro é um descontrole sobre seus poderes, que se voltam contra Metrópolis, fazendo a cidade inteira ser invadida por plantas. A premissa pode ser encarada com uma homenagem a um arco bem famoso do Monstro escrito por Alan Moore, em que ele atacava Gotham de maneira semelhante. Enquanto na história clássica o motivo era vingança, nesta é por autodefesa psicológica contra o ataque do gás do Espantalho, que desencadeia o ataque.

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As histórias de Charles Soule lembram em tom as primeiras escritas por Alan Moore, que eram mais fechadas, ligadas entre si pela evolução do Monstro do Pântano. No caso das histórias de Soule o ponto em comum, além do Monstro, é a ameaça do misterioso Semeador, que está bagunçando com o equilíbrio do Verde, vagando pelo mundo resolvendo problemas relacionados a fome e a miséria. Isto gera um embate ideológico e psicológico interessante, além de abrir espaço para o autor discutir sobre abusos contra a natureza, e os riscos gerados por forçá-la numa direção que não é a natural. Soule sabiamente usa tais questões para criar histórias de terror, como no último arco do encadernado, que conta com a participação especial de John Constantine.

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Nestas seis primeiras histórias de Soule, o autor expõe sua visão do que o Monstro do Pântano representa: ele não é apenas o avatar do Verde, mas o lado humano dele, aquele que pesa entre o que faz bem ao Verde, e o que beneficia os outros seres de carne que vivem no planeta. É seu papel não apenas manter o equilíbrio natural do Verde, mas entre ele e os demais seres com quem convive na Terra, não cedendo cegamente aos impulsos destrutivos que beneficiam apenas o Verde, ignorando os outros reinos elementais que formam a biosfera.

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Na arte Soule conta com os competentes Kano e Jesus Saiz. Kano segue a “cartilha” de Yanick Paquette (desenhista de quase todas as edições escritas por Snyder), diagramando páginas com quadrinhos emoldurados por galhos e ramos. Outra ótima sacada de diagramação de Kano é formar com alguns quadrinhos o mesmo padrão mosaico das nervuras das folhas de plantas, detalhe visual que ele aproveita para fazer uma ótima transição de ambientes, igualando as nervuras à forma do mapa das ruas de Metrópolis, enquanto o Monstro sai do Verde e chega na cidade do Superman.

Já o belo e caprichado traço de Jesus Saiz - que desenha a terceira e a última história - dá conta tanto das cenas idílicas que retratam o “inferno paradisíaco” de Arcane, quanto da violência gráfica e visceral das atrocidades cometidas por Arcane em seus flashbacks. E ambos os desenhistas têm o inspirado trabalho de colorização de Matthew Wilson para enriquecer suas artes com tonalidades, sombras e texturas que tornam tanto o Verde mais vivo, como as cenas de terror mais atemorizantes.

Charles Soule mostrou-se um substituto à altura das melhores histórias de Scott Snyder, e um “herdeiro espiritual” de Alan Moore no que diz respeito à sua preferência por histórias menores e mais auto-contidas de terror, as quais levantam questões morais, psicológicas e ecológicas, além de provar que entende o personagem o suficiente para explorar seu potencial. Vale a pena continuar acompanhando seu trabalho nos próximos encadernados.

Resenha completa e ilustrada no link abaixo:

site: http://nerdgeekfeelings.wordpress.com/2014/03/07/quadrinhos-monstro-do-pantano-1-nova-fase-chega-ao-brasil/
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