Julia G 01/07/2015Schroder Comprei Schroder, de Amity Gaige, mais pela capa do que pela promessa da sinopse. Não que a sinopse não fosse boa, mas a capa trouxe consigo um mistério e uma beleza que, por si, superaram qualquer sinopse. Ao adicionar o livro na minha estante no Skoob, porém, percebi que pouquíssimas pessoas chegaram a ler a obra. Como estou me sentido uma criança em razão das perguntas mais tolas que me atiçam a curiosidade - aguçada pelos detalhes aparentemente mais irrelevantes - quis entender o porquê por trás de tudo isso - da capa, da sinopse, das poucas leituras. E terminei Schroder com mais perguntas do que respostas.
Amity Gaige tem uma escrita impecável. A desenvoltura com as palavras é perceptível logo nas primeiras páginas, as quais nos sugam para dentro da história com uma rapidez impressionante. A divisão do livro em capítulos curtos contribui para a celeridade da leitura: com poucas frases, a autora consegue nos contar muitas coisas, fazer reflexões profundas, demonstrar fatos e sentimentos. É concisa, sem ser superficial.
A construção do texto em primeira pessoa só nos permite conhecer Erik - e os outros personagens pelo ponto de vista de Erik. Trata-se de um relato do próprio protagonista tentando explicar os motivos pelos quais fez o que fez, todos sempre relacionados ao sentimento de orgulho, de amor, de medo. Por isso, essa construção nos permite conhecer Erik em todas as suas nuances, entendê-lo no seu desacerto, visualizá-lo no seu desespero e não julgá-lo, por mais equivocado e imoral que seja o seu comportamento. Roubar um carro, sequestrar sua filha e fugir não são as atitudes mais racionais - mas quem falou em racionalidade?
"E ele ainda se pergunta o que teria acontecido se eles tivessem conseguido manter isso, se eles tivessem conseguido ficar apaixonados daquele jeito, talvez pudessem ter ido para uma espécie de casulo, um lugar onde o amor deles encontrasse a permanência. Porque, no fim, as grandes forças antagônicas da nossa existência não são vida versus morte (o noivo acreditava nisso), mas sim amor versus tempo. Na maioria das vezes, o amor não sobrevive à passagem do tempo. Mas, às vezes, sobrevive. Tem que sobreviver, às vezes."
Erik Kennedy nem ao menos se chama Erik Kennedy. Toda a sua vida foi construída com base em uma mentira - uma mentira que inicialmente parecia inocente, pois ele era apenas um garoto que queria pertencer a algum lugar, ser alguém. Só que a mentira tomou tamanha proporção que já não podia ser desfeita, e tudo aquilo que pudesse ameaçá-la tinha de ser mantido longe - inclusive seu próprio pai.
Schroder conseguiu mexer comigo de uma forma que eu talvez não consiga explicar. Porque eu torcia por Erik, queria que ele fosse compreendido, queria que ele pudesse sair do lodo no qual ele parecia se afundar cada vez mais. Só que, a cada passo, ele se comprometia cada vez mais, se perdia cada vez mais. E a minha frustração foi imensa quando eu cheguei na última página e vi que não haveria mais nada depois dela.
Depois de concluir a leitura, li algumas resenhas a respeito do livro. Em uma delas, descobri que a obra é baseada na história real de Clark Rockefeller, e isso trouxe todo o sentido que faltava ao livro. Não cheguei a conferir se havia alguma referência a isso no livro escrito pela autora, mas eu finalmente pude compreender por que o livro terminou da maneira como terminou, visto que, se o caso do próprio Clark não estava definido quando a autora escreveu o livro, como ela poderia decidir o que teria acontecido a Erik?
Schroder é uma leitura fantástica, envolvente e que te faz derrubar preconceitos bastante arraigados sobre lógicas e princípios, especialmente porque, quando se fala de vida e de amor, é difícil impor ao outro o que se concebe ser certo ou errado.
site:
http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2015/06/schroder-amity-gaige.html