Matheus 08/06/2021Tinha tudo para ser bom... mas se arrasta em clichêsDominika Egorova é uma jovem sensível e prodigiosa. Dançarina em uma das principais academias de Moscou, tem seus anos de treinamento boicotados por outra dançarina que invejava ocupar seu lugar. Após a morte de seu pai e sem rumo pelas recentes perdas, é recrutada por seu tio, do Serviço Russo Secreto para fazer parte do mesmo. Dentro da organização, é manipulada a fazer parte de uma escola (a Escola de Pardais, ou do inglês Red Sparrow) a qual é obrigada a aprender a como usar sexo e sedução para a espionagem. A partir daí o livro narra seu percurso em como a protagonista é inserida em uma operação de inteligência para espionar um agente da CIA que possui um informante russo. Esta é a sinopse, e parece muito interessante ao prometer jogos intelectuais e uma boa ação envolvendo espionagem. Mas não se engane, pois o livro não entrega o que promete, e ainda segue um caminho tortuoso e bem desanimador.
Eu já tinha o livro desde 2015/2016, comprei ao ver na promoção em uma livraria, e como uma colega havia lido há um tempo, perguntei se vali a pena. Com a resposta positiva, o comprei e ele ficou parado este tempo todo. Imagino que se tivesse lido ele na época, não teria tido tantos problemas com ele, pois eu não tinha desenvolvido consciência das temáticas problemáticas trabalhadas no livro.
Toda a narrativa do livro é pautada em cima de um nacionalismo estadunidense ao qual o país é colocado em um pedestal como o justo, o certo, o bom. Em paralelo, a Rússia é colocada como a inimiga, a errada, a violenta... O que não faz nenhum sentido, pois há um histórico de violência de ambas as partes.
Outro ponto extremamente problemático é o quão mal desenvolvida o personagem feminino da Dominika é. Ela é linda, inteligente, explosiva, é sinestésica e nossa, como é linda, eu já disse isso? E acabou. Não há um real aprofundamento da personagem, e sua construção só é feita em base dos outros personagens masculinos. Ela quase parece uma adolescente em alguns momentos, embora já seja uma jovem adulta.
SPOILLER ALERT
Não há um jogo inteligente entre os personagens, Dominika e Nate não possuem uma operância engenhosa e interessante um com o outro. Ela dá de bandeja tudo o que a CIA quis porque no livro a Rússia é tirana e os Estados Unidos é protetor e amistoso.
A parte em que a Dominika passa pela Escola de Pardais é pouco explorada, e suas operações como espiã também. Então a construção do livro deixa o início e o final interessantes e o meio arrastado.
E falando em construção, sinto que tiveram muitas partes da narrativa que não caminharam para lugar algum. Quando Nate e Benford matam uma possível espiã, aquilo não vai para lugar algum. Somos apresentados a histórias e pessoas que quase não fazem sentido conhecê-las. Nesse sentido, o livro poderia ter sido enxugado. Receber milhares de detalhes da CIA e de pessoas que não acrescentam a narrativa em nada se torna exaustivo.
Para não dizer que o livro é de todo ruim, a escrita do Jason Mattews não é ruim e em momentos de ação, tudo pega um ritmo bom de ler, pois queremos saber o que vai acontecer em seguida. E dá para ver boas ideias inseridas no livro. Mas infelizmente elas não se pagam por todos os problemas que o livro apresenta.
PS.: Em relação as receitas presentes ao final de cada capítulo, ora eu gostava, ora achava desnecessário, pois era sempre a receita de algo que alguém comeu no capítulo. E durante a leitura, haviam capítulos em que não cabiam coisas relacionadas a alimentação e você via que o autor estava colocando apenas pela obrigação de ter uma receita ao final daquela parte. Mas houveram momentos em que foi coeso e de fato ajudava a criar uma atmosfera que apelava para outros sentidos.