Alexandre.Tardin 12/01/2019
“Adultério” (Paulo Coelho)
Nessa obra que é a 27ªde sua carreira, Paulo Coelho se inspirou em relatos de internautas, e a ideia do livro surgiu de uma reflexão do autor sobre a depressão. Partindo desse ponto ele resolveu perguntar nas redes sociais para os seus milhares de seguidores, o que as pessoas achavam sobre isso. O resultado foi que a depressão estava ligada na maioria das vezes ao adultério ou a uma decepção amorosa (90% das pessoas entre mais de mil disseram isso). Depois disso decidiu investigar de forma anônima em fóruns de internet, pessoas que passaram por essa situação envolvendo a traição.
Para escrever o livro, Paulo Coelho condensou esses depoimentos, até chegar aos relatos de quatro pessoas, usando como tema central o adultério. Embora não seja uma história de uma pessoa só, o autor focou mais em uma delas. Para agir dessa forma Paulo Coelho contou para essa pessoa que estava escrevendo um livro, e a mesma disse que não se incomodaria de ter o nome divulgado. Mas o autor acabou resolvendo fazer algo mais abrangente. Obs.: Inicialmente o autor ia fazer apenas um post em um blog com os resultados dessa pesquisa, mas o material que compilou foi ficando cada vez mais rico, que o post terminou se transformando em um livro.
“Adultério” gira em torno de Linda, uma jornalista suíça que atravessa uma crise existencial, tendo uma vida entediante e rotineira. Sua vida aparentemente é perfeita, pois está casada há dez anos com um homem bem-sucedido profissionalmente, com quem teve dois filhos; e residem na Suíça que é um país seguro e que possui uma alta qualidade de vida. Mesmo assim ela entra em um processo depressivo, e começa a questionar tudo que a cerca. Durante esses questionamentos ela acaba se envolvendo com um ex-namorado de sua adolescência, Jacob, que atualmente é um político renomado, após ter ido entrevista-lo para o jornal em que trabalha. Dentro desse contexto a paixão e o amor são confrontados, fazendo Linda refletir sobre o que é necessário fazer para reconquistar sua felicidade pela vida.
Durante essa busca por respostas, Linda procura a ajuda de uma amiga que sofre de depressão; recorre a terapeutas tradicionais; e até mesmo procura um xamã cubano, que ela se aproximou com a desculpa de entrevistá-lo para o jornal que trabalha. Desse último encontro, extrai alguns trechos da fala desse xamã, que ele diz exatamente o problema que Linda possui, e foi quem mais conseguiu ajudá-la:
“— Seu problema é com a noite – diz ele. [...] – A noite, simplesmente por ser noite, é capaz de reviver em nós os pavores da infância, o medo da solidão, o terror do desconhecido. Entretanto, se conseguimos vencer esses fantasmas, venceremos com facilidade os que aparecem durante o dia. Se não temos medo das trevas, é porque somos parceiros da luz. [...]. Vejo em você muitas trevas, mas também muita luz. E, nesse caso, tenho certeza de que, no fim, a luz vencerá. [...] A noite, com todos os seus sortilégios, também é um caminho para a iluminação”.
É interessante também como Paulo Coelho descreve através de Linda, o país onde a história é contada, ou seja, a Suíça. Diversas particularidades desse país e dos seus habitantes são abordadas no decorrer da obra, e como o autor reside em Genebra desde 2006, isso foi algo feito com propriedade (Genebra no livro é onde Linda reside com sua família).
Também me agradou as citações de dois clássicos da literatura: “Frankenstein” de Mary Sheley e “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson. Linda teceu comparações dessas duas obras em relação ao que estava vivendo, ao ter que enfrentar diversos monstros interiores.
Porém algo me incomodou muito na personagem de Linda, e por incrível que pareça não foi o adultério. Em relação à traição, Linda pode até ser vista de forma enviesada por muitos leitores, pois ela age de maneira considerada imoral dentro da sociedade, mas o que me fez ficar com um sentimento de repugnância não foi isso, e sim a sua atitude covarde em um episódio contado por ela quando era mais jovem. Na ocasião um namorado dela pediu que tomasse conta do seu poodle. Ela detestava aquele cachorro pois tinha que dividir com ele a atenção do homem que amava, e ela queria todo o seu amor. Nesse dia resolveu se vingar daquele animal. Começou a agredi-lo de uma maneira que não deixasse marca, espetando-o com um alfinete cravado na ponta de um cabo de vassoura. O cachorro gemia, latia, mas ela não parou até se cansar. Quando seu namorado chegou, a abraçou e beijou como sempre. Agradeceu por ter cuidado de seu poodle. Fizeram amor e a vida continuou como antes. Cachorros não falam.
Mas a grande lição desse livro foi sobre o nosso objetivo no mundo, que se resume a aprender a amar. Por isso concluo essa resenha com uma frase de Paulo Coelho:
“— O maior objetivo da vida é amar e ser amado. O resto são detalhes”.