Naaty Reis * 16/12/2023Gostei, porém não tenho certezaA cada página que leio do livro penso: essa protagonista não bate bem da cabeça, né?
Eu escolhi a leitura por curiosidade do enredo de "mulher acima dos 30 com vida perfeita e que mesmo assim continua infeliz" e descobri que, ao invés de buscar uma transformação um pouco menos disruptiva como fazer uma tatuagem, mudar a cor do cabelo ou uma harmonização facial, a protagonista escolhe fugir da melancolia da vida perfeita se envolvendo com um antigo ex-namorado que reaparece em sua vida neste momento bastante propício de crise existencial.
Bom, pelo menos era isso que eu tinha entendido.
No decorrer da leitura se percebe que a narrativa acontece pela visão de "dentro dos pensamentos" da personagem principal e que é permeada pela sua subjetividade e interpretação dos fatos. É então que se percebe a profundidade da psique humana e que o contexto de ambiente, de vida material, é apenas um lugar secundário, um cenário, um mero projetor da confusão, da "loucura" dos nossos sentimentos e emoções.
O afastamento que senti em relação a personagem em alguns momentos, achando ela um pouco perturbada, só mostra o quanto me identifiquei com ela e com seu raciocínio truncado, contaminado de emoções conflitantes e angustiantes. Foi difícil assistir ela tomando várias decisões ruins que pareciam tão óbvias quando, na verdade, conosco acontece a mesma coisa: é fácil julgar os outros ou o nosso eu do passado quando a situação já passou mas, enquanto estamos vivendo, tudo acontece na fluidez dos pensamentos e decisões emocionais que não parecem tão óbvias e nem ruins.
Alguém poderia dizer que é um livro sobre escolhas. Escolha entre a paralisia da apatia, da perfeição e do medo da perda (palavras do autor) ou a objetividade da aventura, da paixão e da liberdade (palavras do autor também). É isso que a protagonista gostaria de nos levar a crer quando, na verdade, o livro trata sobre saber navegar nas águas profundas dos nossos pensamentos e emoções. Por isso o livro que é curto, dividido em capítulos rápidos, acaba alcançando uma densidade psicológica que chega a doer.
Foi o primeiro livro do Paulo Coelho que eu li e sabia desde o início que precisaria escolher se amava ou odiava, como o resto das pessoas. Durante a leitura fiquei passeando pelos dois lados, às vezes odiando a personagem e o seu ponto de vista e outras amando o curso da história e torcendo por ela. Cheguei ao fim sem escolher lado nenhum, esperando uma reviravolta que não aconteceu. Terminei incomodada, como se esperasse uma resposta que não veio. No entanto, como a leitura me fisgou e tocou meus sentimentos, o veredito final é de que apenas gostei e que eventualmente recomendo (para quem quiser arriscar a leitura que, de fato, não é para todos).
Ah, e sim, tem cenas 18+, o que me surpreendeu bastante pois realmente não esperava. Fiz a leitura do livro em público diversas vezes até descobrir a primeira cena de sexo. Depois, continuei lendo em público do mesmo jeito. Rs