Janinha 11/07/2014Uma grande história sobre um assunto batido por quase um século!A história trágica dos Romanov sem dúvida é um prato cheio para os amantes de romances de cunho histórico, como eu. Adoro ler biografias e romances sobre os Romanov e já estava de olho na edição portuguesa de "A filha da Tsarina" a um bom tempo, portanto, quando lançaram a edição brasileira, me apressei em comprar...
O livro, é uma mistura interessante sobre realidade e ficção. Sobre um tema batido amplamente discutido durante o século XX, a fuga de uma das irmãs Romanov.
Carolly Erickson, em seu romance, aborda alguns dos fatos mais significativos e relembrados pelos historiadores biográficos de Nicolau II, como a adoração do povo pelo seu "paizinho" durante o estourar da guerra russo-japonesa e posteriormente, durante o início da Primeira Guerra, as inflamações marxistas do povo revolucionário,a prática da enfermagem, Rasputin, incrivelmente descrito no livro, parecendo saído de uma biografia. A regata de iates em Cowes e a grande maioria dos hábitos e personalidades dos "personagens" são reais.
O que me incomodou particularmente foi Carolly Erickson ter criado um Nicolau beberrão e mulherengo, uma Imperatriz Viúva azeda, uma Olga invejosa e uma Tatiana puxa-saco com ares de salvadora do mundo. O livro está recheado de realidades, então perguntei-me, porque distorcer tanto esses fatos? Segundo historiadores, Nicolau era tímido demais para com as mulheres e foi difícil até se aproximar de Matilde enquanto solteiro. Mas o que mais me incomodou, sem dúvida, foi o distanciamento das irmãs. Sabe-se que elas eram inseparáveis, assinavam as cartas como OTMA (as iniciais de cada uma, tinham quartos em conjunto e até roupas iguais, mas Carolly Erickson as separa como se estivessem uma em cada canto da Rússia.
Tatiana, por sua vez, é retratada como uma heroína...é a mocinha que viaja, aquela que tem as respostas para os problemas, é a mais forte, a mais consciente, e isso soa um tanto falso na história. Não vejo nenhuma possibilidade de uma grã duquesa sair escondida do palácio para entregar comida ao povo (que incrivelmente não a reconheceu), não vejo como uma grã duquesa se encontraria a sós com homens, e nem como ela compraria no comércio de São Petersburgo (membros da família real não podiam entrar em lojas)...mas esse é um romance, e não uma biografia, portanto Carolly Erickson teve margem para criar o que quisesse, inclusive as últimas páginas um tanto sem pé nem cabeça.
No geral, é um bom livro, a realidade se mistura com a ficção e ele cumpre o que promete, que é apresentar um novo final para a tragédia Romanov. Mas alguns detalhes, como ditos acima poderiam ter mais fidelidade histórica...e Tatiana poderia ser um pouco menos a heroína valente e destemida pintada pela autora.
Ao final, fiquei em dúvida entre 3 ou 4 estrelas...mas resolvi por 4, pela narrativa gostosa e pelo prazer de ler uma boa história sobre um assunto desgastado por um século! Acredito que não importa se passarem 1, 2 ou 3 séculos, os Romanov ainda irão habitar no imaginário popular, na literatura e no cinema dos apaixonados por história!