Meridiano de sangue

Meridiano de sangue Cormac McCarthy




Resenhas - Meridiano de Sangue


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Lasse_ 08/08/2021

Areias escarlates brilhantes
O estilo é direto, seco. De vez em quando psicodélico, como uma miragem. O enredo, repleto de barbárie e crueldade. Romance de formação? Período histórico específico, inspiração real. Genocídio, niilismo e sangue humano.

O livro segue a vida de um adolescente anônimo, estoico e silencioso, que renega suas origens em busca da vida. Após diversos acontecimentos lamentáveis, ele acaba no bando de Glanton, junto com o juiz Holden (retratado como uma figura super humana), dois personagens históricos e um grupo que terrorizou a fronteira EUA - México de 1849 a 1850, caçando e massacrando indígenas e espalhando o terror em cidades mexicanas indiscriminadamente.

Não é um mero retrato histórico do período, o tipo de livro que alerta com a tradicional frase "conhecer os erros do passado para não repeti-los". Não, a escrita retrata no estilo a vida de perambulante desértico, uma existência seca e dura, um cotidiano de necessidades, e a lei do mais forte é o que vigora nessa terra vazia, de ninguém.

Nesse sentido, o livro trata da violência como uma condição humana, já preludiada nas macabras epígrafes, caracterizando a vida como uma dança deturpada e desumana, conforme escutamos da boca do juiz Holden. Meridiano de Sangue é tão impiedoso quando o sol escaldante de um deserto, e requer estômago forte para ser apreciado.
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T.N.T.Rock 09/06/2021

O velho oeste que sangra e vira escalpo, aqui não tem frescura.
Sim, temos um livro brutal em mãos, se você tá procurando faroeste bonitinho cheio de heróis e mocinhos, esse não é um livro pra você, aqui o velho oeste é descrito em todos os seus horrores e a verdade sangra e vira escalpos.
O livro se concentra em três personagens mais diretamente, o primeiro a entrar nessa saga é o KID, um adolecente que foge de casa muito cedo, e aos poucos vai sendo conduzido por uma vida de violências desenfreadas, principalmente quando no seu caminho cruza o bando do segundo personagem mais importante do livro Glanton que é o líder de um grupo de pistoleiros, caçadores de escalpos eles enfrentam a brutalidade da fronteira americana e mexicana em meados do século XIX atrás de escalpos de índios que são trocados por ouro por diversos acordos políticos em cidades da região, Glaton é inspirado em um personagem histórico real sua brutalidade e de seus companheiros são assustadores e aterrorizantes.
O último personagem da trinca, é Holden ou simplesmente O Juiz, é o personagem mais enigmático do livro, sua descrição já é algo incomum é um homem de enorme estatura, muito forte, e desprovido de pelos em todo o seu corpo, tem uma inteligência acima da média, a todo momento nos pegamos observando - o,fazendo anotações e observações sobre o que lhe cerca, animais, plantas etc, mas não se deixe enganar é tão violento quanto seus companheiros, acho que até pior, sua frieza é marcante, seus atos são dos mais nojentos e desumanos.
Mas não pense que o livro é simplesmente uma condução de violência, mortes e escalpos, é um livro com diversas camadas, somos conduzidos por Comarc McCarthy a compreender todas as nuâncias que esses personagens vivem, e pra quem gosta de livros com finais que lhe fazem pensar e tantas são as teorias sobre isso, suba no cavalo e boa viagem vaqueiro.
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Vivi Csordas 18/01/2022

A beleza da violência

"Meninos pequenos corriam entre os cascos e os vitoriosos em seus trapos ensanguentados sorriam sob a imundície e o pó e o sangue encrostado conforme carregavam em estacas as cabeças dessecadas do inimigo em meio àquela fantasia de música e flores."

Esta foi a minha primeira experiência com o autor, e achei incrível. Eu amo o gênero western, e com certeza lerei mais livros do McCarthy.

De forma poética e visceral, Cormac nos mostra em seu cenário e em seus habitantes uma realidade nua e crua. Me senti em muitos momentos em um ambiente onírico, cruel, porém belo.

Minha experiência foi achar tudo lindo, mesmo lendo tantas brutalidades e me sentindo revoltada. Ao mesmo tempo que sentia angústia, não queria parar de ler. Muitas vezes eu me pegava segurando o ar de tanta imersão e tensão.

Agora sobre as partes baixas. Nunca tive que procurar tantas palavras no dicionário como fiz com esse livro, o que não é algo ruim, porém às vezes tirava um pouco do meu foco. Senti um pouco de peso no meio do livro, uma leitura mais arrastada, o que me distraiu um pouco da leitura e me fez parar algumas vezes.

Se você pretende ler Meridiano de Sangue, aconselho a ir sem expectativas de uma grande história, mas sabendo que é um livro recheado de ambientação e descrições magníficas. Não espere uma leitura ávida. O destino aqui nao é o mais importante, mas sim a jornada. Então vai com calma, mas vai.
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Adriana Scarpin 23/06/2023

Só recentemente li O Grande Sertão Veredas e não deixei de pensar nos paralelos entre ele e Meridiano de Sangue, não em termos de linguagem que são bem distintos, mas na construção da mitologia do bem e do mal.
Pude notar e entender também quando dizem que esse livro é infilmável, não tanto pela extrema violência presente, mas pela lacunas, pelas ausências, pelo subentendido que não aparece na narração, uma coisa que normalmente não é bem vista pelo público médio de cinema (tem gente que fala mal do final de Onde os Fracos não têm vez até hoje por conta disso).
Outra coisa que me saltou aos olhos foi o paralelo entre Meridiano e The Road, A Estrada não é um futuro distopico no sentido que todo aquele horror que se passa num mundo pós apocalíptico já foi cunhado no Velho Oeste, antes também na Idade Média e por aí vai desde a ascensão dos homens no mundo. The Road somos nós em qualquer tempo, assim como Meridiano de Sangue.
No mais, Juiz Holden, o demônio em pessoa, é uma das mais emblemáticas personagens da literatura no século XX.
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Lucas 12/07/2022

Surrealismo sanguinário: Por mais lindo que um cenário seja, a barbárie está à espreita
O escritor norte-americano Cormac McCarthy (1933-), numa conclusão atabalhoada e direta, redefiniu em Meridiano de Sangue (1985), sua obra-prima, os limites do realismo que um livro dessa vertente deve respeitar. Na verdade, como um leigo literário, eu diria que a obra é tão realista, ou melhor, escrita de uma forma tão real, que ultrapassa esse conceito "antirromântico": Meridiano de Sangue é surreal, sob qualquer ponto de vista a qual ele possa ser analisado.

Dessa conclusão, não é somente o caráter surreal que se sobressai, mas também a existência de inúmeros pontos de vista ou camadas que o livro apresenta. Meridiano de Sangue, pela forma com que foi estruturado, oferece uma miríade de perspectivas: há a histórica, que trata dos vários conflitos envolvendo norte-americanos, mexicanos, etnias indígenas e imigrantes nos atuais norte do México e sudoeste dos Estados Unidos na metade do século XIX; a filosófica, que trata de temas como livro-arbítrio, divindades, a (ine) existência de um poder absoluto que rege tudo e sabe de tudo e todos; a crueza e secura causada pela desolação desértica; a violência como uma figura onipresente, muito mais do que um simples reflexo da irracionalidade; e a narrativa/literária, que junta tudo isso através de um estilo sem precedentes.

Ficcionalmente falando, Meridiano de Sangue descreve a história do "kid", um garoto de origem não totalmente definível que, se não é o protagonista da narrativa, é o elemento responsável pelo direcionamento dos enfoques as quais McCarthy utiliza para desenvolver as perspectivas supracitadas. Praticamente um andarilho, os poucos traços da sua personalidade são claramente talhados pela violência e para a violência. É através dela que o kid, depois de um breve encontro no primeiro capítulo, se fixa como um integrante do bando de John Joel Glanton, núcleo principal do livro e que abriga o grosso (literalmente) dos personagens da obra.

Glanton, segundo algumas fontes, foi um personagem que realmente existiu, um homem que chegou a ser reconhecido pelo seu papel na "limpeza étnica" ocorrida no oeste e sul dos Estados Unidos em suas primeiras décadas como nação independente. O Glanton de McCarthy é concebido nesta mesma lógica: seu bando era formado por mercenários contratados por autoridades para exterminarem os nativos daquelas paragens, o que incluía não apenas índios em suas diversas etnias, mas também mexicanos, ainda lutando por espaços territoriais na fronteira com os norte-americanos e as quais tinham o azar de encontrarem-se com o grupo de mercenários em suas andanças.

Além do kid e de Glanton, o bando tinha vários outros indivíduos mencionados frequentemente, como o ex-padre Tobin, que é aquele a qual mais se aproxima de desenvolver uma amizade com o kid, o incerto Toadvine, o corrupto David Brown, o "Jackson Negro" e o "Jackson Branco", entre outros, muitos deles com os nomes mencionados uma ou duas vezes e sem maiores descrições pessoais. Mas nenhum desses integrantes é tão impactante e eternamente lembrado como o juiz Holden, homem corpulento e "sem nenhum pelo no corpo, nem mesmo cílios".

Engana-se o futuro leitor se a alcunha de "juiz" dada a este personagem o dignifica como um homem justo ou letrado: as linhas de McCarthy aos poucos vão explicando o sentido por trás desse rótulo, que faz do juiz, já que o seu nome próprio aparece poucas vezes, como o maior e mais inesquecível personagem de Meridiano de Sangue. Atuando inicialmente como uma espécie de "conselheiro" de Glanton, sua onipotência jamais encanta: ela assusta, convida à reflexão e personifica de forma racional toda a realidade árida e violenta na qual o bando desenvolvia seus "trabalhos". As suas teorias, a maior parte delas cruéis e desumanas, baseiam-se no ponto de vista de um lado da história: para ele, o mundo é dos fortes, só eles estão destinados a sobreviver e a pisar nos vencidos. Do alto da sua inteligência e eloquência, ele não parece interessar-se em formas de equalizar este quadro. Esse tipo de ideal, com raízes lógicas semelhantes àquilo que hoje se conhece como "meritocracia" não se importa com misticismo ou divindades (em pelo menos dois momentos da narrativa Holden deixa isso bem claro). Um de seus mantras ("Tudo que na criação existe sem meu conhecimento existe sem meu consentimento") traduz o que este personagem pensava acerca destes temas mais abstratos.

Mas diante disso o que faz do juiz esse personagem tão único? Afinal de contas, não apenas em suas teorias controversas, mas também certos comportamentos erráticos podem defini-lo como uma entidade satânica (há interpretações literárias que defendem isso). A resposta desta pergunta passa mais pela construção narrativa fabulosa de McCarthy em torno dele. Desde a primeira, espetacular e breve aparição de Holden no livro, logo nas primeiras páginas, uma certa aura transpassa nas entrelinhas. O juiz é aquele personagem que o leitor discordará, condenará, contestará e odiará, mas jamais deixará de ouvi-lo/lê-lo. Ele é algo ou alguém inevitável, capaz de, antes de despertar a repugnância, fazer o leitor refletir e, infelizmente, concordar com, pelo menos, parte de seus apontamentos.

Se for deixada de lado a discussão sobre seus valores morais discutíveis, o juiz é o personagem que mais bem aglutina o talento de construção narrativa de Cormac McCarthy, a qual é a característica mais forte para os que veem Meridiano de Sangue como o grande livro da literatura universal desde Cem Anos de Solidão (1967). Seu modus operandi é recorrente: maravilhosas descrições de locais (o deserto à noite ganhou uma concepção especial para mim graças a McCarthy), alguns diálogos diretos e outros memoráveis (McCarthy não usa aspas, dois pontos ou travessões), pouca utilização de vírgulas (o que reforça a impressão de ação e movimento), traços poéticos pintando quadros irreversíveis (como a morte)... É tudo lindamente descrito, quando subitamente as páginas começam a verter sangue: de repente, alguém tem a cabeça esmagada e/ou seus miolos pintam de vermelho a parede atrás de si; alguém é decapitado sem mais nem menos; ou o bando está caminhando num cenário lindo quando tropeça em carcaças humanas e/ou animais semidestruídas por abutres. O caos surge do belo, trazendo não asco ou repugnância ao leitor, mas uma perplexidade que poucas outras obras conseguem criar. É simplesmente inacreditável a lucidez com que McCarthy monta tudo isso, sem tornar cômicas estas passagens sangrentas (como o cineasta Quentin Tarantino faria) e sem as dramatizar em excesso, mantendo o tom narrativo desprovido de emoção. Eu diria que a escrita de McCarthy (traduzida para o português na edição da Editora Alfaguara em 2021 por Cássio de Arantes Leite) em Meridiano de Sangue é como a vida: ela tem momentos bons, ruins e belos, mas atrás de um arbusto ou de um balcão de mercearia a morte, seja ela simples ou brutal, pode aparecer. O autor conseguiu, com isso, tornar literária a aleatoriedade da vida, da qual todos nós compartilhamos.

Não somente nessa beleza e caos da narrativa que se percebe o talento de McCarthy: partindo da premissa simples inicial, do kid se juntando ao bando para "colherem" escalpos de índios (as quais eram levados às autoridades para comprovarem o trabalho de "limpeza"), o autor mexe sem nenhum pudor numa linha narrativa relativamente previsível. Aos poucos, os efeitos da violência desmedida e da aridez do deserto impactam nas motivações do bando de Glanton e também conduzem a um desfecho inimaginável e apocalíptico, pelo menos para mim. Apesar disso, acredito que, pessoalmente falando, o desfecho me foi erudito em excesso. As reflexões finais que são apresentadas são interessantes, mas elas conduzem a uma cena de fechamento que eu não consegui digerir plenamente. Não é uma questão de discordar do final ou tampouco não gostar dele, ou esperar algo maravilhoso depois de quase três centenas e meia de páginas de massacres e afins, mas acredito que faltou alguma coisa... Não sei o quê e provavelmente nunca vou conseguir saber.

Deixando a erudição de lado, o leitor leigo pode ficar com as conclusões mais óbvias. Meridiano de Sangue demonstra que a barbárie é o ponto de partida para o progresso: todas as nações desenvolvidas do globo possuem em seu âmago histórico muitos massacres e sangue derramado, notadamente de índios e "selvagens". E em nome desse desenvolvimento, o ser humano dito evoluído é capaz de cometer as maiores atrocidades imagináveis, desconstruindo quaisquer muros que separam eles dos animais propriamente ditos. Até por tratar desta "necessidade civilizatória", Meridiano de Sangue lembra um pouco o nosso Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909). As diferenças, obviamente, são incontáveis, principalmente de estilo, mas esta sede por amplificar a qualquer custo a civilização são forças motrizes de ambas as obras.

Estas e outras conclusões mais lúdicas e filosóficas são apresentadas através de uma escrita maravilhosa e despreocupada com padrões ou estômagos alheios. A obra-prima de Cormac McCarthy é um clássico absoluto, que vai enobrecer a contemporaneidade literária daqui a várias décadas, trazendo encanto, reflexão e aversão, muitas vezes numa mesma página.
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Ricardo256 28/11/2021

Meridiano de Sangue
Esse é um romance que se passa na região oeste dos EUA e relata a caçada de um grupo de pessoas. O livro é em forte, com cenas bem pesadas. O livro apresenta algumas frases que não fazem muito sentido no português, mas acredito que possa ser devido a escrita do autor. É um romance bem escrito digno de nota 5, mas no contexto geral, para mim foi um livro Bom! ?
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Dávila 12/10/2021

Banho de literatura passado a sangue.
Um bando de mercenários perambula pelo oeste americano colecionando escalpos.
No caminho, como se não bastasse a sordidez e brutalidade da missão ainda mais violência.
O mundo de "Meridiano de sangue" não é nada idílico.
Como literatura é impactante, descrições primorosas das paisagens americanas num oeste selvagem, personagens complexos e primorosos.
Não é um livro pra espíritos despreparados.
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Luiz Miranda 10/04/2017

Viagem ao inferno
Não é pra iniciantes nem pra leitores casuais. Vencer Meridiano de Sangue é domar um touro pelo chifre: parágrafos longos e sem vírgula, dezenas de metáforas, tudo traduzido nos moldes do material original, o que não apenas atropela a gramática convencional, como desafia o leitor a um nível de concentração gigantesco.

Uma jornada ao inferno do Velho Oeste, onde índios, mexicanos e americanos se revezam em atos de sadismo e crueldade inenarráveis.

Um pântano literário pra ser vencido a terçadadas. Quanto mais você se aprofunda mais absurdo e surreal fica. Obra-prima pra poucos.
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Nicolas 29/11/2022

He dances in light and in shadow
Primeiro do mccarthy e ja pensando em reler algum dia
Mistura uma narrativa extremamente densa e poetica com varias atrocidades essas qual são baseadas em acontecimentos historicos.
é lindo, calorento e bizarro.
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Carine 22/01/2024

A violência nas páginas deixa cicatrizes no leitor - brutal!
"Meridiano de Sangue" um convite a mergulhar fundo nos recessos sombrios do Velho Oeste, pintando um retrato cru e brutal de um território vasto e implacável.

Cormac McCarthy, com sua prosa visceral, nos conduz por uma jornada épica onde a violência e a redenção dançam em um compasso implacável.

O enredo segue a trajetória de um jovem conhecido apenas como "The Kid" - menino/rapaz, encarregado de caçar e eliminar os índios apaches que assolam as fronteiras. Nesse cenário árido e desolado, a narrativa desenrola-se com uma intensidade que ecoa a própria terra que serve como palco para essa epopeia. A crueldade da natureza humana é espelhada na impiedosa paisagem desértica. Homem e natureza são devastadores.

McCarthy não se restringe apenas à trama, mas tece uma tapeçaria literária rica em simbolismo e metáforas. Cada personagem, seja o misterioso Juiz Holden, o padre Tobin, ou os índios selvagens, são espelhos das forças primordiais que moldam a condição humana. A moralidade é despedaçada, a fronteira entre o bem e o mal torna-se obscura, e a busca pela redenção é uma jornada tortuosa e sem fim.

A escrita de McCarthy é uma sinfonia de palavras, uma prosa lírica e austera que captura a essência brutal e poética do oeste selvagem. Ele pinta imagens vívidas, repletas de detalhes cruéis, mas ao mesmo tempo, mergulha na beleza desoladora do deserto. É uma dança entre a vida e a morte, a esperança e o desespero, um mundo cruel encapsulado em cada frase.

"Meridiano de Sangue" transcende as fronteiras do gênero western - velho oeste - faroeste, emergindo como uma obra literária de impacto profundo. McCarthy nos desafia a questionar nossa própria humanidade, explorando temas atemporais como o destino, a solidão e a efemeridade da civilização diante da vastidão selvagem. Uma leitura que, assim como o oeste inexplorado, deixa cicatrizes indeléveis na alma do leitor.

Avisos: muita violência explícita, racismo, morte, abuso!

Obs.: O gênero western, também conhecido como "filme de faroeste" ou simplesmente "western," é um tipo de obra cinematográfica, literária ou artística que se passa no Velho Oeste americano durante o século XIX. Esse gênero é caracterizado por ambientações que incluem paisagens áridas, cidades fronteiriças, cowboys, xerifes, pistoleiros, índios nativos americanos e temas relacionados à expansão territorial e à fronteira. Os westerns geralmente exploram conflitos entre a ordem civilizada e a fronteira selvagem, bem como questões de justiça, honra, vingança e sobrevivência em um ambiente hostil. Ao longo dos anos, o gênero western evoluiu, incorporando elementos de drama, ação, aventura e até mesmo introspecção psicológica.
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ReiFi 03/09/2010

Meridiano de Sangue - Cormac McCarthy
Terminei Meridiano de Sangue.

A experiência literária pela qual passei recentemente foi singular e curiosa. Explico. Para quem acompanha regularmente o blog sabe que escrevi alguns comentários sobre Doutor Fausto, de Thomas Mann, e que nesse texto coloquei a “porcentagem” de compreensão e aproveitamento - referentes aos temas propostos pelo autor -, entendidos por mim (confira o texto aqui). Não obstante a complexidade inerente às obras do Mann (refiro-me ao conteúdo de uma forma geral), o que mais me chamou a atenção foi a sua forma de escrever impregnada de apostos (ou seria melhor, “impregnadas da dialética dos apostos”?. Ler Thomas é, também, um exercício de paciência e harmonia. Pude perceber isso a partir da cadência da minha respiração; situação que não ocorreu durante a leitura do Meridiano de Sangue; no qual precisamos inspirar uma quantidade razoável de ar para podermos, “sanguiniamente”, chegarmos tranquilos até o último ponto (do contrário existe a possibilidade “única” de sermos acometidos de uma síncope levando-nos à morte prematura).

Citando e semelhante e influenciado tanto pelos “autores” bíblicos quanto de William Faulkner, McCarthy escreve praticamente sem apostos ou vírgulas ou pontos (tentei). Quando iniciamos a leitura de um dos parágrafos é quase “impossível” parar enquanto não chegamos ao ponto final. Outra característica curiosa refere-se à crueza das suas descrições violentíssimas, pois Cormarc parece estar ditando friamente e “poeticamente”, uma lista de compras - mas no lugar de mercadoria temos e “vemos”, cabeças arrancadas, membros amputados, tripas ganhando os ares e miolos expostos.

A singularidade nas leituras de Mann para McCarthy ganha ares mais curiosos porque, não obstante as diferenças literárias visíveis, os dois livros assemelham-se quanto às possibilidades de reflexões para além da historieta narrada. Contudo, enquanto que no Fausto isso é explícito, no Meridiano nós não “precisamos” ficar presos às reflexões. No entanto (e como gosto dessa palavra) como não intrigar-se com os personagens de Meridiano de Sangue? Como não questionar-se e interrogar os amigos e irmãos que leram o livro sobre quem é, ou o que é o juiz Holden, por exemplo? Albino, mais de dois metros de altura, sem apêndices filiformes, filósofo, historiador, geógrafo, exímio atirador, rastreador etc (teórico da guerra e de Deus?). E quanto ao Kid que nasce em meio à violência, transita, amadurece e, por fim... (leiam o livro)

O leitor pode tranquilamente ler Meridiano sem, necessariamente, ater-se às reflexões dos personagens McCartianos (uso esse termo porque eles realmente são singulares. Dê uma lida no ótimo “Onde os Fracos não têm vez” e tente compreender o psicopata Anton Chirgurh; ou passe pelos caminhos apocalípticos de “A Estrada” e interprete o Pai que ensina o próprio Filho a meter uma bala na cabeça para não ser devorados por canibais), no entanto sugiro um pouquinho mais de atenção para que essa lacuna – escolher ou não, ater-se à historieta mais reflexões para além do texto – não passe despercebida.

Boa leitura. Bons livros.
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Emanuel.Silva 31/08/2020

A Bíblia sangrenta do oeste
No apagar das luzes, no fechar das cortinas, instantes antes de subir os créditos finais desse mês de agosto, finalizei esse #livraço !

Posso dizer que dessa vez, o melhor realmente ficou para o final. #Meridianodesangue é uma obra que dispensa elogios ou recomendações, senti isso na pele, testemunhei (assim como os personagens que vagam por estas áridas páginas) a violência, crueza e tantas outras atrocidades que compõem esse livro.

A prosa de #McCarthy é de um minimalismo ímpar, a pontuação truncada, a falta de fluidez, contribuem para que desde o início da jornada do protagonista Kid, sejamos capturados em uma imersão sem volta ao oeste sangrento do autor, encontraremos aqui, alívio, retomaremos algum fôlego, apenas nos momentos em que nos deparamos com os belos parágrafos, frases e diálogos líricos e poéticos, de extrema beleza do autor, que por nossa sorte não são poucos.

McCarthy consegue nos contar por meio de uma metaficção histórica, o que foi um pouco do processo de constituição do que hoje conhecemos como Texas e a divisa com o México, acompanhando a trupe mercenária de caçadores de Escalpos de Glanton, recebemos uma degustação desse processo sanguinário e violento, que está até hoje marcado na história daquela terra, Meridiano de sangue é um livro que nos aproxima do inferno, por que aqui, os mocinhos e os violões são a mesma coisa, este deserto sem dúvidas é onde os fracos não têm vez.

E essa dicotomia, se acentua com a presença do Juiz Holden, o segundo na hierarquia da trupe escalpeladora, uma figura que diante de toda aquela barbárie é letrado, versado em direito, poliglota, dança, canta e toca instrumentos, mas, mesmo assim, consegue ser o mais bárbaro de todos do grupo, McCarthy nos proporciona um personagem atmosférico, hermético, um erudito no meio de uma guerra, séria a personificação de deus? Ou do diabo? Ou de ambos?!

O Meridiano de Sangue é também um livro de formação, onde passamos do olhar do Garoto para o olhar do Homem nos últimos capítulos.

McCarthy nos proporciona diálogos existencialistas, humanistas, políticos, históricos e culturais, nesse romance em estado de plenitude.

O grande romance.

site: https://www.instagram.com/p/CEkhMZiAfw4/
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PauloLeal 08/08/2023

Um livro que transforma algo horrível em algo apreciável.
"Meridiano de Sangue", a obra-prima de Cormac McCarthy, nos transporta para um cenário implacável do Velho Oeste, onde a violência, a moralidade e a busca interior entrelaçam-se em uma narrativa complexa. Assim como Ismael, narrador de Moby Dick, o protagonista sem nome do livro é um observador atento das catástrofes que cercam sua jornada. A influência de Herman Melville é evidente, como nos encontros do "Kid" com personagens misteriosos, como o estranho Elias em Moby Dick. Essa intertextualidade reforça a profundidade da trama, que dialoga bem com o estilo gótico sulista do McCarthy.
A viagem do "Kid" pelo deserto é uma jornada interior, uma exploração da alma humana em meio à brutalidade da história. A presença do terrível Juiz Holden, um vilão tão ambíguo quanto cruel, evoca as complexidades de Moby Dick, onde a baleia branca e corpulenta (assim como o Juíz) personifica o caos. McCarthy tece uma narrativa rica em detalhes.
No entrelaçamento desses elementos, "Meridiano de Sangue" nos conduz a um reflexo sombrio do Velho Oeste, desconstruindo a ideia ingênua de progresso e mostrando a barbárie que permeou aquela época. Com uma estrutura única e personagens marcantes, o autor nos desafia a questionar os propósitos ocultos da narrativa, assim como o protagonista do romance questiona os horrores que testemunha. Um livro que nos faz lembrar que "não são os anos, querida amiga, e sim os momentos que contam". E esses momentos, em "Meridiano de Sangue", são marcados pela complexidade da moralidade, a profundidade da busca interior e a crueldade que habita os recantos da alma humana.
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Fernabo0 26/02/2022

Tenho que reler
Meridiano de sangue é complicado, assustadoramente compacto e ridiculamente bem escrito. Mesmo que eu tenha adorado o livro, tenho certeza absoluta que perdi muita coisa e que tenho que reler, de inglês, de preferência.
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Ferreira.Souza 19/02/2022

Meridiano de sangue - a loucura humana
Um livro que não vai ser apreciado por todos , bem escrito , momentos memoráveis, não diz que lado está errado ou se existe algo errado na loucura humana
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