Telma 15/11/2015Da negação à aceitação (e seus muitos tons)Duda Razzera me fez chorar.... Georgia me fez chorar.
Li que esta é parte da história dela, recheada com sua criatividade, portanto, não é uma obra 100% ficção, assim como não é 100% autobiográfico.
No começo, fiquei tentando separar o que era sentimento real do que era ficção (eu e minha mente analítica) mas, esse processo durou pouco. Me envolvi tanto na história que acho que Duda misturou a história dela com a minha. Cheguei a conclusão de que é tudo real, inclusive o ficcional (porque o ficcional, esteja onde estiver é meu!
Antes de continuar, senti necessidade de rápida visão (para quem ainda não conhece), das fases do luto e nisso há a explicação para todas as cartas da Georgia (nossa personagem principal), terem sido escritas para a Aceitação
O luto/perda normalmente passa por 5 fases:
A negação- Surge a primeira fase do luto, é no momento que nos parece impossível a perda, em que não somos capazes de acreditar. A dor da perda seria tão grande, que não pode ser possível, não poderia ser real.
A raiva – A raiva surge depois da negação. Mas mesmo assim, apesar da perda já consumada negamo-nos a acreditar. Pensamento de “ porque a mim?” surgem nesta fase, como também sentimentos de inveja e raiva. Nesta fase, qualquer palavra de conforto, parece-nos falsa, custando acreditar na sua veracidade
A negociação- A negociação, surge quando o individuo começa a por a hipótese da perda, e perante isso tenta negociar, a maioria das vezes com Deus, para que esta não seja verdade. As negociações com Deus, são sempre sob forma de promessas ou sacrifícios.
A depressão – A depressão surge quando o individuo toma consciência que a perda é inevitável e incontornável. Não há como escapar à perda, este sente o “espaço” vazio da pessoa (ou coisa) que perdeu. Toma consciência que nunca mais irá ver aquela pessoa (ou coisa), e com o desaparecimento dele, vão com ela todos os sonhos, projetos e todas as lembranças associadas a essa pessoa ganham um novo valor.
A aceitação – Última fase do luto. Esta fase é quando a pessoa aceita a perda com paz e serenidade, sem desespero nem negação. Nesta fase o espaço vazio deixado pela perda é preenchido. Esta fase depende muito da capacidade da pessoa mudar a perspetiva e preencher o vazio.
Parte do relato me pareceu o de tantos outros, que sentam na minha frente, numa sessão de terapia e falam de si. Temos tanto em comum! Duda traduziu bem isso em suas cartas à Aceitação (última fase do luto), que nunca chegava.
Outra parte, pareceu mais uma de minhas melhores amigas, articuladas, tentando colocar o que sente em palavras (arte difícil) e o resultado foram lágrimas mútuas.
Uma terceira parte, era a srta. Razzera traduzindo meus pensamentos. Falando por mim. Sendo minha terapeuta. Chorei ao relembrar a morte do meu irmão e o pedaço de mim que foi com ele (e não tem volta). Sorri ao perceber que, nada foi tirado de mim. Ele está aqui comigo mas, a ausência física sempre vai doer. Só aprendemos, cada um a sua maneira, a lidar com ela.
Gargalhei quando ela deu nome de Valdemort ao namorado (vontade de socar Valdemor). Pra quem não sabe, Vademort é o nom do principal vilão de Harry Porter e vi a ironia de tentar passar pelas etapas do luto, como se elas não tivessem muitas sub etapas (Duda fala disso muito bem, de maneira naturalíssima e tão real, que mais uma vez ela falava de nós duas).
Dizer mais é falar do que já está na sinopse... então resolvi deixar esses trechos do livro para você sentir a escrita de Duda, que vem recheada de sensibilidade, inteligência e "dark humor".
Olha um exemplo do senso de humor delicioso da srta. Razzera, mesmo em meio a tantas dificuldades:
Quando fechei o livro, senti vontade de abraçar a Duda. De acalentar a Georgia e de dizer que estou com ambas... e talvez ambas estejam em mim.
Se você está ou não em situação parecida, esse livro é 100% indicado! A leveza e profundidade (paradoxal) com que é escrito me faz endossar muitas vezes minha recomendação. Leia, identifique-se e saiba como ajudar-se e a outros.
PS.: Possíveis erros gramaticais ou ortográficos serão corrigidos em minha releitura
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http://surtosliterarios.blogspot.com.br/2015/11/resenha-cartas-para-voce.html