Tami 19/06/2014Muita descrição, pouca aventuraResenha publicada no blog Gaveta Abandonada.
Quando escolhi este livro para leitura imaginava uma aventura jovem, com um suspense leve envolvendo um roubo do quadro de Picasso. Mais ou menos o que a sinopse parece prometer. Porém o que encontrei foi bem diferente disso.
"Um silêncio que parecia sobrenatural pairava no quarto.
A garota parou, por um instante, diante do espelho oval na parede.
Olhou-se com estranheza.
Era ela mesmo, Ângela, que a olhava do outro lado? Não podia ser." (pág. 11, primeiras linhas)
Ângela é uma jovem gaúcha que recebe uma bolsa para ir estudar artes por uns tempos na Espanha. Lá ela é obrigada a mudar e deixar de ser a garota tímida que sempre foi, conhecendo novos colegas e muitos lugares famosos. Seu quadro preferido é A mulher no espelho, de Picasso, que adora observar e desenhar. Porém um dia o quadro some da galeria, e Ângela tenta descobrir o mistério por trás do desaparecimento.
Enigma em Barcelona é um livro juvenil escrito por Rosana Rios, uma paulistana que adora viajar e tem graduação em Arte. E o livro foca muito nestas duas coisas.
Algo que me decepcionou é que o livro tem muito pouca aventura, e nenhum clímax. A história é extremamente descritiva e o que mais fazemos é acompanhar Ângela saindo todos os dias para algum passeio na cidade, conhecendo algum lugar novo e voltando para casa. É praticamente uma narrativa do seu dia-a-dia na Espanha. Chegamos a estudar como conjugar verbos em espanhol junto com a personagem. Sinceramente, achei bem monótono.
O que prometia a aventura (o roubo do quadro de Picasso) é tão, mas tão pouco explorado, que mal entendi porque estava até na sinopse. Assim como o romance e o "namoro" da personagem antes de sair do Brasil. São itens fundamentais que iriam prender o leitor - em especial os mais jovens - e são simplesmente pouco aproveitados.
O livro traz no início de cada capítulo alguns versos famosos em espanhol, o que achei bem interessante porém acho que também poderia trazer a sua tradução. O que me incomodou um pouco foram algumas falas durante a história ditas em espanhol. Por mais que a língua seja parecida, ninguém tem obrigação de saber e creio que isso possa afastar alguns leitores. Colocar um verso que não influencia na história tudo bem, mas no meio do livro termos falas e termos em outra linguagem acho desnecessário.
"Era como se, a cada vez que se olhasse no espelho, ele roubasse a imagem anterior e lhe entregasse de volta uma Ângela diferente." (pág. 159)
Acho que o principal erro que a autora cometeu foi querer ensinar tanto em um livro que tinha toda a temática para ser um simples juvenil. Se ela tivesse focado todo esse conhecimento em um livro mais maduro, talvez fosse mais interessante e agradaria mais o público. Gostei de algumas partes, e sempre acho bom quando o livro te traz alguma informação nova, algum aprendizado. Mesmo assim é necessário desenvolver melhor uma história para cativar a atenção, e não apenas colocar o maior número de curiosidades e informações juntos numa página. Assim a leitura se torna cansativa, se torna quase um estudo.
Para quem gosta de artes e gostaria de aprender um pouco mais sobre isso e sobre a Espanha, é um livro legal e com uma linguagem acessível. Certamente você também vai tirar alguns aprendizados daqui. Mas se você procura apenas um livro com aventura para diversão, este definitivamente não é o tipo.
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http://gavetaabandonada.blogspot.com.br/2014/06/resenha-enigma-em-barcelona.html