Adriano 30/07/2014
O sistema que dá esperança ao jovem, é o mesmo que oprime!
Hoje, quero resenhar para vocês, um dos últimos títulos que eu devorei num nível absurdo de rapidez. Como fã de livros distópicos, a leitura de O Teste se consagrou na minha área de conforto literário. Foi uma experiência absurdamente prazerosa. Ouso chamá-la de deleite literário.
O livro aborda, em suma, a tentativa de reconstrução do mundo tal qual o conhecemos hoje, após a destruição em massa causada por uma guerra sem precedentes que culminou na destruição dos recursos vegetais, animais, energéticos e hídricos. Os sobreviventes se unem na Comunidade das Nações Unidas, um país com o poder centralizado nessa capital e com a população aglomerada e distribuída em colônias, com níveis diferentes de desenvolvimento.
Como toda distopia, o governo da Comunidade das Nações Unidas é excessivamente autoritário e com algumas regras rígidas, que se quebradas geram punições severas. Nesse ambiente pós-apocalíptico, nem todos têm direito a educação e quem poderá usufruir de um ensino superior nas universidades do governo, serão aqueles que apresentarem notoriedade nas escolas básicas e que desenvolvam projetos que possam solucionar problemas dessa civilização. São as mentes brilhantes e jovens prodígios que poderão vir a somar no rol de intelectuais.
No entanto, ser escolhido não quer dizer que você vai para a universidade. Ser escolhido quer dizer que você está apto para fazer o Teste e se aprovado nessas provas, terá a chance de ir para a faculdade. A seleção desse jovem é tida como motivo de honra e orgulho. Dissemina-se na população o pressuposto de que ser escolhido para o Teste é prova de que a comunidade te admira e acredita em seu potencial. Vemos o otimismo dos jovens ao se imaginarem pondo em prática benefícios para o bem geral, ou seja, eles se veem como construtores de um futuro utópico.
"Enquanto eu como, ele me diz que o processo do Teste foi criado há anos pelo pai do doutor Barnes, que acreditava que os Sete Estágios da Guerra ocorreram porque os líderes mundiais não tinham a combinação correta de inteligência, habilidade de agir sob pressão e força de liderança para nos tirar dos confrontos. Que a única maneira de garantir que a Comunidade Unida não repetisse seus antigos erros seria testar os futuros líderes do nosso país e se certificar de que eles tinham a amplitude de qualidades que não apenas ajudariam nosso país a florescer, mas manteriam nosso povo em segurança. Com o passar dos anos, vários oficiais da Comunidade questionaram a necessidade de penalidades tão severas ao falhar no Teste. Alguns dizem que os Avaliadores fraudam o sucesso das provas para que aqueles que são espertos demais, fortes demais ou dedicados demais sejam podados. Contudo, há aqueles que se sentem não apenas levados a reconstruir a Nação, mas também a questionar suas leis e suas escolhas. Qualquer um que verbalize opiniões negativas sobre o Teste ou é transferido para um posto avançado ou desaparecido."
A autora se concentra em Malencia Vale, mais conhecida como Cia, da Colônia Cinco Lagos que após a formatura é escolhida para fazer o Teste. Cia é uma garota forte, inteligente, observadora, esperta e que veio de uma família, na qual seu pai já passou e foi aprovado no Teste e ele dá a filha, certa vantagem, ao passo em que lhe confessa sobre seus pesadelos com cenas que remetem a fase de provas, cita como o Teste destrói a juventude e deixa bem claro que ELA NÃO DEVE CONFIAR EM NINGUÉM.
"Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda, não é o que dizem? Mas como agir quando amigos e inimigos são as mesmas pessoas?"
Eu achei que essa busca por um líder é bastante abusiva. Os escolhidos são tirados do conforto de sua colônia e de sua família e são levados a fazerem provas extensas e teóricas de Matemática, Ciências, História e Escrita. São testados em suas escolhas, em sua convivência, em sua capacidade de solucionar problemas, sua liderança, em sua capacidade de sobrevivência e de enfrentar desafios. De modo geral, são testados a partir do momento que são admitidos participantes e fracassar não é uma escolha. Cada demonstração de fraqueza ou de derrota são punidos.
O Teste é composto de 5 provas e a cada momento, percebemos uma Cia mais paranoica, que passa a enxergar as entrelinhas de um sistema que oprime e mascara. Ela passa a se cobrar mais, temer a morte em cada segundo porque ela começa a sentir que uma vez dentro do Teste, não tem como sair vivo dele, a não ser que seja aprovada! A Cia é muito esperta e graças a isso, consegue captar armadilhas e duvidar de qualquer sombra de bondade. Ela passa a se erguer sobre o ditado popular: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". E ela desconfia de tudo.
No decorrer da prova, Cia se alia a Tomas, o rapaz carinhoso e bondoso de sua Colônia e eles começam a desenvolver um "affair". Passam a se amar e confiam, de fato, um no outro. No entanto, seria esse amor suficiente para que Cia confiasse em Tomas, mesmo quando seu pai deu ordens estritas de que ela não confiasse em ninguém? Vão ler o livro para descobrir.
Cia começa a se questionar: confiar é uma característica desejável ou um defeito de um bom líder? Os Avaliadores considerarão isso como fator positivo ou negativo?
Como o livro é narrado pela Cia, nós acompanhamos todos seus pensamentos, indagações, descobertas, medos e angústias. As vezes sentimos falta de diálogo ou de como outros participantes estão enxergando as provas.
O livro é bem parecido com Jogos Vorazes. Uma cópia? NÃO!!!
O ambiente do Teste, o mundo devastado por guerras, esse governo autoritário que oprime e tira dos jovens o direito a liberdade, a personalidade de Cia, os dramas causados por essas provas se assemelham aos jogos criados pela Suzanne Colinns. Eu, como tributo, soube diferenciar bem O Teste de Jogos Vorazes. São livros que possuem várias diferenças e cada um, tem sua peculiaridade que o torna interessante. Se você ama um destes, pode ter certeza que amará o outro.
De modo geral, o livro é eletrizante do começo ao fim! Toda a tensão do livro coloca em questão um lado obscuro da liderança e todos os sacrifícios que algumas pessoas estão dispostas a fazer para conquistá-la! Mostra os esforços para sobreviver num mundo destruído que sonha se restaurar. O caminho tortuoso da narrativa de Joelle Charbonneau cria uma estória única e imperdível.
Nenhum fato é previsível! Nenhuma escolha é desprezada! Nenhuma morte é em vão!
Eu confesso: achei que O Teste é um livro "nerd". Não me julguem, mas esse ambiente de fazer provas, ser inteligente e esperto. Descobrir códigos, armadilhas e solucionar problemas sob pressão, me lembram as pessoas nerds e inteligentes que são promissoras e bem-sucedidas em suas escolhas.
A leitura é mais do que recomendada para fãs de distopia e livros jovem-adulto, nerds e claro, tributos. Tenho certeza de que não se arrependerão!
A continuação de O Teste, Estudo Independente já foi publicado no Brasil!
Espero que tenham gostado! E comentem! Vou adorar saber o que vocês acharam!
site: http://geracaoleiturapontocom.blogspot.com.br/2014/07/resenha-o-teste-joelle-charbonneau.html