AleixoItalo 18/01/2021Uma viagem à uma paragem exótica e um convite a reflexão sobre o que queremos de fato da vida. O que fazemos com o pouco tempo que nos é dado?
Aqui vemos a história de Giovanni Drogo, um oficial destacado para servir em um forte isolado, onde esperando perpetuamente por uma guerra que nunca chega, os militares se deparam com a própria insignificância de suas funções, em meio ao tédio e uma rotina regida por regras incompreensíveis.
O 'Deserto dos Tártaros' é uma obra introspectiva. Com caráter quase minimalista ele nos leva a contemplar não só a paisagem inóspita, mas também a voraz passagem do tempo, a medida que as oportunidades e promessas de conquistas para aqueles ali confinados, vão se esvaindo como areia numa ampulheta.
Com um quê de "surreal", acompanhamos o dia a dia do forte e alguns eventos singulares que não trazem retorno algum: jornadas rumo à montanhas inalcançáveis, rondas desnecessárias, memorização de senhas inúteis, a espera de um inimigo que não existe... Tudo isso através dos olhos e pensamentos de Drogo, que debate consigo mesmo seu objetivo na vida, enquanto se distancia completamente do mundo real e de seus habitantes.
Com um estilo bem filosófico, 'O Deserto dos Tártaros' lembra muito 'Terra dos Homens' do Antoine St-Exupéry, mais enquanto esse divaga sobre o amadurecimento, os momentos mágicos que compõe nossa existência e sobre liberdade, Buzzati foca justamente no contrário: o sacrifício que fazemos de nossas próprias vidas, abrindo mão de preciosos anos a troco de nada, enquanto somos aprisionados por um objetivo nebuloso.
É uma obra para refletir, todos nós somos destinados para nossos próprios fortes: faculdade, emprego, especializações, amores platônicos... e esperamos por uma conquista que, como tal guerra, pode nunca chegar ou pior, chegar quando já for tarde demais! A questão é, quanto do nosso precioso tempo nos podemos dar ao luxo de sacrificar?