Jacqueline 02/07/2014
Porque beleza não é fundamental
Quando li a sinopse de Belle Époque me senti atraída pela palavra: Paris. Ter a cidade luz como cenário, já é o suficiente para tornar a leitura obrigatória. E nada como um livro que além de conseguir extrair e toda a beleza do cenário, também traz uma história forte e comovente, com personagens marcantes e inesquecíveis.
" Você não pode julgar um livro pela capa (...) Há mais sobre uma pessoa do que a aparência. E as qualidades ou a maneira como ela conversa e dá atenção para você?"
Maude Pichon é uma jovem sonhadora que encontra em Paris um refúgio, e uma oportunidade para viver seu sonho. Ao fugir de casa em um vilarejo Bretanha, com o intuito de evitar um casamento arranjado por seu pai com um homem muito mais velho, Maude espera ser bem sucedida na encantadora cidade luz.
Ao se deparar com um anúncio de emprego em um jornal, as esperanças de Maude reacendem. Portanto, o emprego não é nada daquilo que ela espera. Na agência Durandeau, meninas comuns, e pouco atraentes, são contratadas para fazer o trabalho de repoussoir - cuja função é repelir por conta da aparência física, para ressaltar a beleza de sua cliente. Sua primeira cliente é uma condessa, e seu trabalho é acompanhar e se tornar amiga de sua filha Isabelle, para que ela se sobressaia durante a temporada de debutantes, sem que a mesma saiba sobre sua função. Conforme passam cada vez mais tempo juntas, a amizade se torna inevitável. Contudo, o relacionamento é posto à prova quando Pichon fica dividida entre encorajar a amiga a seguir seus sonhos, ou induzi-la a fazer a vontade da mãe arranjando um bom casamento.
" Talvez as pessoas sejam tão bonitas quanto precisem ser."
Sabe aquele tipo de livro que você não dá muita coisa por ele, e acha que não vai ser uma grande história? Mas logo nas primeiras páginas você é fisgado, e pimba. Big mistake. Belle Époque reúne elementos que eu amo em um livro: narrativa fluída, um enredo atual que se passa em uma outra época, e personagens fortes. Com todas essas qualidades, não teria como não me apaixonar pela obra de Elizabeth.
A narrativa em primeira pessoa é direta e objetiva, e torna mais fácil a identificação com a protagonista. O fato de Pichon ser uma garota que sonha com condições melhores de vida, ao mesmo tempo em que mantém os pés no chão, faz com que o leitor se simpatize por sua expectativa e anseios. Seu sonho não é muito diferente do que a maioria busca hoje em dia: um emprego melhor, uma vida estável, sair da mesmice e se arriscar. Além disso, Maude é uma personagem forte, e com pensamentos e ideais genuínos. apesar de passar por dificuldades, ainda carrega um traço de ingenuidade e valores.
Aliás, todas as personagens tem uma característica em comum: são mulheres à frente de seu tempo, que não se contentam em passar o resto de suas vidas à sombra de um marido, já que na época em que a história é ambientada, as mulheres eram quase impedidas de pensarem e ter uma boa instrução.
Os personagens secundários tem seu brilho próprio, sem ofuscar a principal. Isabelle é inteligente, e destemida. Ela não se deslumbra com riquezas e títulos, e para contrariar a mãe não pensa em arranjar um bom casamento com um duque, e sim estudar ciência em uma faculdade onde somente homens estudam. A amizade delas é gradual, sem parecer forçada, onde ambas trocam experiências.
Só o romance ficou devendo um pouco. Poderia ter sido melhor explorado, e ter mais destaque. Contudo, foi satisfatório.
Ross traz uma visão ampla e contrastante de Paris, indo da riqueza opulenta de jantares e eventos, para a simplicidade de becos e vielas. A construção da Torre Eiffel foi o pano de fundo escolhido, e Elizabeth acertou em cheio. Eu não imaginava como os franceses detestavam e achavam o monumento - que hoje é um dos maiores símbolos da cidade - feio e monstruoso.
A pesquisa que a autora realizou sobre o período de 1800, ano em que sua história é ambientada, traduz o aspecto realístico de sua obra. E a perfeição aqui mora nos pequenos detalhes. É delicioso acompanhar cada ponto turístico pelo ponto de vista de Pichon, e também o seu deslumbramento com os bailes e o despertamento da sua paixão pela fotografia.
Além disso, Elizabeth consegue introduzir sua crítica à sociedade da época, seja nos exageros e desperdícios de comida nos jantares da aristocracia, ou o culto excessivo à beleza física.
Belle Époque é uma ficção histórica atemporal sobre amizade, autoconhecimento, e como uma sociedade por mais avançada que seja, consegue retroceder por conta de pensamentos tão retrógrados como alcançar padrões de beleza, e julgar pela aparência.
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