Pedro Luiz da Cunha 22/01/2021
GOLPE, não Revolução!
Em tempos onde a escrita da História está cada vez mais disputada, principalmente sobre temas ainda tão polêmicos, um dos principais méritos do livro, escrito por 2 historiadores, é a realização de um trabalho que a todo momento aponta outras possibilidades. Ou seja, não realizam uma história teleológica. As coisas aconteceram como aconteceram. Mas poderiam ser diferentes.
Factualmente, o livro é muito interessante. Aborda episódios e personagens marcantes do período 1961-1964. Apesar de discordar de algumas interpretações dos autores, sobretudo na adesão que fazem aos ideais de San Tiago Dantas e a caracterização da chamada "esquerda negativa", a leitura é muito prazerosa e esclarecedora. Para aqueles buscam uma aproximação com o conteúdo, super recomendo.
O livro intercala a narrativa dos fatos e interpretações políticas com fontes documentais da época e pequenas biografias de personagens importantes daquele período. Os textos de jornais que contam sobre a vida cotidiana nos retira dos dramas políticos e nos carrega para dramas populares.
Outro ponto muito positivo, é a consideração de que aqueles que apoiaram o golpe de 64 não apoiaram, necessariamente, a ditadura. Não havia um projeto de instauração de ditadura bem formulado nos meios militares, e o golpe, armado pela extrema direita, a princípio, derrubaria Jango e conduziria o país até as eleições de 1965. Assim esperavam Magalhães Pinto (governador de Minas e forte candidato à presidência pela UDN; um dos lideres civis do golpe), o "corvo" Carlos Lacerda (governador da Guanabara, outro possível candidato à presidência; um dos apoiadores do golpe) e Juscelino Kubitschek, o JK, favorito para as eleições de 65 (JK não apoiou o golpe).
A ditadura ainda é uma ferida mal (ou quase nada) cicatrizada. Em meio a distorções que chamam golpe de "revolução", livros como esse esclarecem e ampliam nossa compreensão.
Aos professores e aos estudantes, leiam! E se armem contra a desinformação.