Camille 21/05/2014De quantas palavras você precisa?Sarah mora com o pai, não conhece sua mãe e sabe apenas o essencial de sua própria história: era bebê quando Jane, sua mãe, afogou seu irmão gêmeo e tentou matá-la em seguida.
Com 12 anos, suas férias de verão não soam promissoras. Talvez ela precise ir, de novo, para a casa dos avós, sua única amiga não estará na cidade e ela precisa ganhar a aposta de quem vai beijar primeiro. Enquanto isso, ela procura em si mesma sinais que provem que ela e sua mãe são parecidas.
Sarah tem um diário secreto, no qual escreve palavras verdadeiras, e um de mentira, que esconde em lugares óbvios e tudo bem se alguém achar e ler. Coleciona palavras-problema, aquelas que ela sequer pode pensar em falar, e tem uma série de palavras preferidas. Conversa sempre com Planta, que é exatamente o que o nome diz.
Ela também leu O Sol É Para Todos e resolve escrever para uma das personagens a carta que o professor pede. Não, ela não quer escrever para Harry Potter, e agora tem um verão e três cadernos em branco para preencher.
Como disse, ela tem apenas 12 anos, mas isso em nenhum momento me impediu de me indentificar com ela. Entendo, por exemplo, querer ficar eternamente no meio termo entre a escola e a sua própria casa, ainda que meus motivos nunca tenham sido similares aos dela.
É impressionante como um verão - um dia, um momento, uma experiência, uma verdade - pode mudar as pessoas. Tão impressionante quanto é perceber apenas depois as mudanças, quando elas já estão escancaradas para todo mundo ver.
Karen Harrington faz isso no livro: mostra como uma pré-adolescente entra na adolescência e quais mudanças são cotidianas, além das que obviamente não são. Apesar de poder parecer, esse não é, entretanto, um livro infanto-juvenil. Sarah ainda é uma menina muito nova, mas suas mudanças, seus sentimentos e sua realidade fazem dela completamente capaz de tocar qualquer pessoa, de qualquer idade.
Durante a narrativa contagiante, peguei-me sentindo exatamente o que a personagem sentia e, ao terminar de ler o livro, percebi que eu também mudei um pouquinho. Fechei-o sentindo-me em paz comigo mesma, de uma forma que há muito não sentia, e acho que Sarah acabou me ensinando uma das coisas mais importantes, que eu cismo em esquecer.
Enquanto ela aprende a ser ela mesma, a se aceitar e encarar responsabilidades e verdades, fui refletindo sobre a minha história. Junto com ela, cresci e, pelo menos nesse momento, fui completa. É isso que Claros Sinais de Loucura faz com você: prova que você pode viver um livro, refletir sobre sua vida e mudar. Aceitar-se.
Vai ver isso seja louco, tanto quanto as palavras-problema ou conversar com Planta. Mas, também, loucura só é problema quando se firma dessa forma. Palavras não conseguirão explicar o livro com perfeição, então recomendo que leia. E viva. Quem sabe sua loucura também não é o que te mantém firme?
site:
http://beletristas.com/resenha-claros-sinais-de-loucura-de-karen-harrington