Carol 22/12/2020Impressões da CarolE-book: A invenção dos direitos humanos. Uma história {2007}
Autora: Lynn Hunt {Panamá, 1945-}
Tradução: Rosaura Eichenberg
Editora: Companhia das Letras
288p.
Quando em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão proclamou: "Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos", seu escopo era bem limitado, não incluindo crianças, insanos, prisioneiros, estrangeiros, os sem propriedade, escravizados, negros, muito menos, mulheres.
O que nos leva a questionar como um documento tão excludente tornou-se base para os direitos humanos, que por definição, são naturais, iguais e universais, ou seja, aplicáveis a todos.
É este paradoxo que animou a americana Lynn Hunt, especialista em Revolução Francesa, a traçar a gênese e o contexto histórico em que esses direitos surgiram e se desenvolveram. Para a pesquisadora, uma nova mentalidade popular precisou ser forjada para que eles se tornassem autoevidentes e, não apenas, a assinatura de um documento.
Seu argumento central é a participação da literatura nessa mudança. A leitura de romances criou um senso de igualdade por meio do envolvimento apaixonado dos leitores com a narrativa. Ao ler, eles sentiam empatia além das fronteiras sociais, tornando-se mais compreensivos em relação aos outros.
A autora cita o julgamento de Jean Calas, um francês protestante condenado, injustamente, à morte pelo suplício da roda por ter sido acusado de assassinar seu filho. O caso ganhou notoriedade quando Voltaire publicou o "Tratado sobre a tolerância", em que condenava o fanatismo religioso. Os debates públicos decorrentes levaram à extinção da tortura oficial em diversos países.
E assim, ao longo do livro, Lynn Hunt descreve o impacto dos livros nessa mudança de mentalidade social, impulsionando a luta por mais autonomia de grupos excluídos da sociedade. Uma leitura excelente e que me mantém motivada a continuar escrevendo sobre literatura por aqui =)
"Os direitos humanos só se tornam significativos quando ganham ganham conteúdo político. Não são os direitos de humanos num estado de natureza: são os direitos de humanos em sociedade."