Edu 29/05/2022
Concluída a leitura do terceiro volume dos Cadernos de Albert Camus(1913 - 1960). O livro em questão recebeu o título por conta do contexto histórico e por conta de uma reflexão registrada por Camus em Setembro de 1939:
"A guerra começou. Onde está a guerra? Fora das notícias em que se deve acreditar e dos anúncios que se deve ler, onde encontrar os sinais do absurdo evento?[...] Queremos acreditar nela. Procuramos seu rosto e ela nos recusa. Somente o mundo é rei e seus rostos magníficos.
Ter vivido no ódio dessa besta, tê-la diante de si e não saber reconhecê-la. Tão poucas coisas mudaram. Mais tarde, sem dúvida, surgirão a lama, o sangue, a imensa repugnância. Mas por hoje provamos que o início das guerras é parecido com os princípios da paz: o mundo e o coração os ignoram"(p.19).
Nos registros de Camus, conseguimos ver diversas referências ao sentimento de estrangeirismo, por suas constantes mudanças entre Paris (França) e Orã (Argélia).
Essas idas e vindas se justificam pela crise financeira vivida pelo pensador franco-argelino, devido ao fechamento dos jornais que trabalhou com seu amigo Pierre Durant (1903-1979) conhecido como Pascal Pia e também por conta da tuberculose, doença que sempre o acompanhou impedindo que ele seguisse carreira acadêmica.
Dentre tantas informações importantes contidas nesse volume, vemos o registro da conclusão do Tríptico (alguns preferem ciclo) do Absurdo em 21 de Fevereiro de 1941.
" Terminado Sísifo. Os três Absurdos estão terminados. Prelúdios da Liberdade"(p.77)
Esse conjunto de obras é formado por um romance (O estrangeiro) publicado em Junho de 1942, um ensaio ( O Mito de Sísifo) publicado em outubro de 1942 e uma peça teatral (Calígula) que só foi estreada em 1945.
Camus lutou a guerra de uma forma diferente, com idéias, como diz Cláudia Amigo Pino autora do Apêndice da edição em português:
"Ele não trabalharia nunca como soldado, jamais carregaria um fuzil, mas ele seria o redator-chefe de um jornal clandestino - Combat! Em que, a partir da analise dos fatos e das projeções, ele criava novas redes de sociabilidade, que reforçariam a oposição ao regime nazista"(p.121).