Miguel.Moreira 23/12/2023
Os primeiros passo rumo ao Realismo
Conforme dito na resenha anterior, Machado de Assis Realista é um dos escritores que eu mais respeito. "Elogio da Vaidade" é uma sátira e uma exposição da hipocrisia do ser humano, conto muito irônico por sinal, pois se inicia como uma recém finalização de um diálogo da Modéstia, em seguida a Vaidade começa seu discurso, citando seus feitos e sua presença na humanidade.
Eu acho que concordo com o pronunciamento da Vaidade, principalmente quando ela expõe que está presente até mesmo dentro da igreja (ou principalmente dentro da igreja). Com ornamentos, roupas caras, meias sensuais, vestidos que mostram o corpo todo (seria muito divertido se Machado de Assis presenciasse uma missa moderna ou um culto evangélico nos dias atuais). A Vaidade é um dos tesouros do ser humano, o que seria de nós sem a demonstração de poder? O que seria dos pobres sem um iPhone? O que seria de uma dona de casa sem seus jogos de porcelana ornada a ouro?
Aqui é um conto para olharmos para nós mesmos com sinceridade. É claro que fazemos as coisas por Vaidade, e reconhecer isto é sinal de que temos ao lado da Vaidade a Modéstia, que por sinal, ao decorrer de todo seu discurso, mesmo criticando os valores de sua oponente, tem um pouco de Modéstia em sua fala, no sentido de que reconhece que a própria Vaidade (alegoricamente falando) é vaidosa. Já aqueles vaidosos que negam tal "sacrilégio", dizem ser modestos, mas aí está a Vaidade agindo, pois a abominam e reconhecem seu valor superficial, e almejam a Modéstia, e numa tentativa de se mostrarem "bons", negam, da boca para fora, que são vaidosos.
O conto é bem curto, porém complexo, e não é tão fácil de se ler. Eu precisei ler duas vezes para compreender e criticar de forma decente. Machado Realista é uma junção de genialidade, sagacidade, coragem e sinceridade. Apesar da publicação em 28 de maio de 1878, pelo jornal diário “O Cruzeiro” no Rio de Janeiro, época em que ainda era considerada como Romantismo, Machado de Assis assina o conto Elogio da Vaidade como “Eleazar” ao final do “Folhetim do Cruzeiro". Ao que tudo indica, o uso do pseudônimo foi uma segurança para experimentação de novos estilos de escrita, e justamente num conto com um tom extremamente satírico e de estilo realista, temos em mãos uma pista do início do realismo machadiano. Não entrarei no mérito de julgar se Machado temia a crítica ou algo do tipo, mas certamente foi um ato de coragem expor este novo estilo literário em pleno Romantismo.
Recomendo demais o estudo da obra de Machado de Assis, mas tenho um favoritismo (como sempre digo) pelo realismo machadiano, pois através da literatura podemos enxergar realidades de uma época que se distancia a cada dia que passa, e que conforme nossa educação declina, mais complexa a literatura com mais de 50 anos se torna para as novas gerações (eu me incluo nisso por ter estudado em escola pública).
site: https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=238562&pesq=machado%20de%20assis&pasta=ano%20187&hf=memoria.bn.br&pagfis=840