Ascensão de Cthulhu

Ascensão de Cthulhu Carlos Orsi
Duda Falcão




Resenhas - Ascensão de Cthulhu


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Noris 27/05/2014

Boa pedida aos fãs brasileiros do Lovecraft
Poucos escritores conseguiram criar um universo tão rico e assustador como H.P. Lovecraft o fez. Seus mitos serviram de inspiração para diversos autores, de sua época e da nossa, e agora pela primeira vez brasileiros receberam o chamado para prestar suas devidas homenagens aos Grandes Antigos.

O livro Ascensão de Cthulhu foi organizado por Duda Falcão, um dos fundadores da editora Argonautas, e traz vários autores de destaque no cenário nacional de literatura fantástica.

Quando peguei para ler a antologia, tive medo de ficar perdido por fazer muito tempo que não lia nada relacionado ao Lovecraft, mas a obra me pareceu não oferecer nenhum problema de entendimento para quem entra de gaiato. Longe de significar uma literatura rasa, os contos na verdade oferecem diversos graus de leitura.

Pois bem, vamos começar a falar da obra pelo começo: a capa. Pedro Elefante criou uma ilustração que combina muito bem a atmosfera onírica e terrível que irá permear todos os contos. Pouco nítido por conta das sombras, Cthulhu se torna ainda mais ameaçador.

Segue-se então um prefácio de Guilherme Braga, o principal tradutor das obras de Lovecraft no Brasil, que conta um pouco sobre os mitos lovecraftianos, o círculo literário do qual o autor participava e algumas características que permeiam sua obra. Assim, Guilherme não só nos informa a respeito do autor, como também prepara o leitor para o que virá a seguir.

A antologia Ascensão de Cthulhu traz 7 contos, são eles:

Velho casarão, de Leon Nunes. Um jovem a caminho de sua morte decide deixar o suicídio de lado para se aventurar num casarão antigo, onde descobre uma biblioteca repleta de ensinamentos e segredos de cultos antigos. Eu gostei muito do conto, no começo é difícil a suspensão da realidade, poxa, como um cara tá passeando e de repente entra na casa dos outros, mas conforme prosseguimos a leitura vamos entendendo melhor o que ocorreu e aceitando a fatal verdade.

As pontes de prata, de Romeu Martins. O delegado Danúbio se vê com três gringos que falam sobre um papo maluco de pontes, fim do mundo e deus polvo, mas conforme ele vai se aprofundando no assunto, as coisas vão parecendo menos insanas. Um conto de suspense policial, gênero que nem curto muito, mas até esqueci disso enquanto lia.

O desenho da criatura, de Carlos Patati. Entediado com sua rotina, um professor conhece um grafiteiro que anda ganhando atenção no bairro por conta de sua arte, mas que de repente vem mudando seu estilo de pintura para algo mais terrível. Isso o faz lembrar da pintura que o assombrara dias antes e que lutava para esquecer. Esse conto é um dos meus preferidos, por fazer a gente usar muito a imaginação para "ver" as pinturas, e nada mais assustador do que aquilo que nossa mente cria.

Abismos insondáveis, de Duda Falcão. O detetive Rafael Malinoski é contratado por uma senhora para encontrar sua encomenda, que fora furtada ao chegar no país, um objeto parecido com uma joia. No entanto, cultistas parecem ter conseguido o objeto e conforme ele avança em sua busca, mais ele vê sua vida em perigo. Um conto dividido em pequenos capítulos, capítulos que mais parecem degraus para algum porão, pois a cada passo a trama fica mais sombria. Também é um dos meus favoritos.

O despertar, de Marcelo Augusto Galvão. Um casal se muda para o interior em busca de tranquilidade após a mulher sofrer um sequestro relâmpago, mas ela de qualquer forma nunca mais foi a mesma depois do trauma, vivia assustada. Certo dia, ela teve um desmaio e entrou em coma, assim de repente, mas não levou tanto tempo para se recuperar. No entanto, quando acordou, seu marido não mais reconhecia seu comportamento. O conto é muito bom, me lembrou imediatamente a literatura gótica com pitadas de ficção científica que conhecemos tão bem pelo Frankenstein de Shelley, mas aqui a ciência da ficção não vem do conhecimento humano...

Os meninos do Menino Deus, de Artur Vecchi. Poucas pessoas costumam dar ouvidos a um velho bêbado e fedorento no bar, mas João Lourenço ouviu. Uma história sobre o grande jornalista investigativo que o velho ao seu lado tinha sido, e como ficou assim após sair em busca de sua matéria sobre o desaparecimento das crianças do bairro. Recheado de terror e ocultismo, esse conto nos atrai e amedronta por transformar a vítima em carrasco, sua pureza em sede maligna. Eu achei o final divertido.

Caos e eternidade, de Carlos Orsi. O conto que fecha a antologia vai encantar fãs de ficção científica mais pesada, uma história sufocante que se passa num asteroide habitado por mineradores, onde uma seita de pregadores teológicos começa a crescer conforme o sofrimento de seus fiéis cresce também com uma praga. Impossível não ser engolido pelo horror cósmico criado por Orsi.

***

Acabei o livro com uma vontade de quero mais, a leitura dele é bem rápida e tive de me conter para não devorar a obra em um final de semana. Uma antologia que recomendo para todos os fãs de Lovecraft, para todos aqueles que aguardam o despertar d'O Antigo. Iä! Iä!

Ascensão de Cthulhu está a venda na loja CH por R$25,00: http://bit.ly/CthulhuBR

site: www.coisashorrorosas.com.br/2014/05/resenha-ascensao-cthulhu.html
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Marcos Pinto 14/06/2014

Um livro muito acima da média
H. P. Lovecraft foi um dos maiores escritos de terror já existentes. Com um toque de fantasia e de ficção científica, ele criou um panteão de monstros e deuses aterrorizantes. Entre tais criaturas, temos Cthulhu, uma entidade cósmica e onírica, um deus polvo.

A obra Ascensão de Cthulhu é uma homenagem ao grande Lovecraft e a uma de suas principais criaturas: Cthulhu. Com sete contos, os autores trazem uma nova visão sobre tal monstro e abordam sua ascensão na atualidade. Com um misto de terror, ficção e suspense, os contos se entrelaçam formando uma obra incrível.

Não falarei dos setes contos, até porque é necessário que vocês passeiem pela obra para ter uma ideia mais profunda de cada conto e, também, para evitar spoilers.

No conto Velho Casarão, de Leon Nunes, somos levados ao sul do Brasil, mais especificamente em Porto Alegre. Lá, um homem desolado estava prestes a desistir de sua vida. Porém, ao passar por uma rua, avista um casarão aparentemente abandonado. Porém, tal casarão o chama e exerce um magnetismo sem igual sobre ele. Sem nada a perder, ele resolve desbravar as entranhas da estrutura. Contudo, ele encontra muito mais do que alguns cômodos abandonados.

“A forma de fascinação mais insaciável é aquela que encontra lugar no peito do homem mais entediado, geralmente causado pelo aspecto mais mundano possível. Cresce no peito um fastio sem tamanho provocado por coisas vazias, futilidades que custam caro ao espírito, arrebentam o ânimo e fazem diminuir a força de vontade” (p. 17).

Neste conto, vemos a primeira face de Cthulhu. A forma que ocorre a interação entre a criatura onírica e o personagem é incomum e deixa em aberto para uma continuidade. Aliás, todos os contos deixam margem para continuidade. Os autores traçam o caminho e o leitor continua por conta própria, o que dá ainda mais graça a obra.

No conto O Desenho da Criatura, de Carlos Patati, temos uma das histórias mais profundas e mais subjetivas do livro. E, claro, uma das que mais me agradou, também. Nessa parte da obra, somos apresentados a um professor que, ao voltar para casa, depois de um dia desgastante, se depara com uma pintura em uma parede. Ele fica paralisado, extasiado. Algo naquela pintura é, ao mesmo tempo, horrenda, chamativa e maravilhosa.

Todo o desenrolar do conto se dá através de imagens que o personagem encontra pelas ruas do seu bairro. Após conhecer o pintor de tais imagens, seu encantamento e horror se acentuam. O que poderia estar por trás de tais figuras? O abstrato, o impensável e o incomum tomam conta deste conto, transformando-o em um texto rico e profundo.

“O desenho transformou o velho muro de alvenaria. Este se projetava da casa logo atrás do ponto de ônibus. Agora deformado no seu ritmo. Era um bicho? Uma planta? Alguma coisa brilhando fosca. Repelindo, mas atraindo. Eu de repente noutro lugar, mesmo que não o conseguisse distinguir em torno” (p. 44).

Outro conto que eu gostei imensamente e vale a pena ser comentado é Abismos Insondáveis, de Duda Falcão. Nessa parte da obra, fugimos do abstrato do conto mencionado anteriormente e caímos na realidade, no tangível. Um investigador particular é contratado para investigar uma determinada peça roubada que, aparentemente, era mística. Porém, ao invés de uma joia, o investigador encontra algo muito mais transcendente.

Numa mistura de terreno e sublime, Duda parte do agora, do presente, para o terrível e monstruoso. O terror se desenha de uma maneira mais branda até o mais forte, onde a vida faz apenas parte de um jogo. Duda demonstra, assim como todos os outros autores, um talento incrível e uma facilidade para cativar completamente o leitor.

“Todas acordaram assustadas após sonhar com um jovem mascarado envolto em manto amarelo preso na escuridão por milhares de fios, como numa teia de aranha. Esse jovem lhes dizia que deviam se apressar, pois um alinhamento de planetas estava próximo” (p. 99).

Por ser um livro curto, apenas 122 páginas, podemos ler toda a obra de uma vez, em apenas uma tragada. Porém, eu afirmo: o tamanho da obra é inversamente proporcional ao tamanho do talento dos autores. Os contos são pequenos, mas te fazem refletir por horas, seja pelo estranhamento causado, seja pela normalidade que chega a assustar.

Visualmente falando, o livro também não deixa a desejar. A capa é assustadora e bela, representando muito bem Cthulhu. A diagramação, por sua vez, é incrível. Sem dúvidas, a editora Argonautas não economizou no trabalho gráfico.

Após a leitura resta um gostinho de quero mais. Sem dúvidas, a obra é indicadíssima para todos os fãs de Lovecraft, assim como para todos aqueles que desejam desbravar um bom livro de terror. Quem gosta de fantasia também vai gostar. Sem dúvidas, Ascensão de Cthulhu é um livro que merece meu respeito.

site: http://desbravadoresdelivros.blogspot.com.br/2014/06/resenha-ascensao-de-cthulhu.html
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A.Z.Cordenonsi 16/05/2014

H.P. Lovecraft no Brasil
H.P. Lovecraft é um dos autores mais cultuados do terror. Vítima de um cancro no intestino, morreu aos 46 anos, não sem antes deixar uma vasta obra literária. Atormentado por pesadelos e dores constantes, seus delírios serviriam como ponto de partida para vários de seus trabalhos.

Talvez a mais instigante e enigmática destas obras seja “O chamado de Cthulhu”, publicado pela primeira vez na revista Weird Tales em 1928. Cthulhu é uma entidade cósmica, um dos Grandes Antigos dos Mitos de Lovecraft (o termo “Mitos de Cthulhu” seria cunhado somente após a morte do autor pelo escritor August Derleth). Mais tarde, esta criatura misteriosa daria origem aos Mitos que, na verdade, representam uma coletânea não tão coesa de histórias criadas por autores que seguem os princípios criados por Lovecraft. Estes deuses antigos baseados em seres tentaculares influenciaram autores como Robert E. Howard, Stephen King, Neil Gaiman e Guillermo Del Toro.

Em terras tupiniquins, recentemente tivemos uma primeira experiência no desenvolvimento de contos com esta temática. A Editora Argonautas resolveu comprar a ideia de desenvolver uma obra baseada nos Mitos de Cthulhu e convidou sete autores para esta empreitada.

Com o nome de “Ascensão de Cthulhu” (Ed. Argonautas, 2014, 122 páginas), esta antologia apresenta uma bela coleção de contos que passeiam entre o grotesco e inominável.

A coletânea começa com “Velho Casarão”, de Leon Nunes. Ambientado em Porto Alegre, trata-se de um conto intimista, em primeira pessoa, com uma linguagem rebuscada, sem se tornar pedante. O protagonista luta contra seus demônios pessoais enquanto busca um significado para a própria existência. Um conto tipicamente lovecraftiano, com ênfase no psicológico.

“As Pontes de Prata”, do jornalista Romeu Martins, se passa eu sua terra natal, Florianópolis. Utilizando a geografia local como ponto de partida (uma escolha audaciosa e muito bem sacada), ele apresenta um policial que se vê as voltas com uma irmandade maligna e seus anseios funestos. Destaque para os chistes futebolísticos e a personalidade sarcástica do delegado.

Carlos Patati, como bom ilustrador, sabe como ninguém a força de uma imagem. Em “O Desenho da Criatura”, os mitos de Cthulhu retornam à sua força primeva: o chamado dos incautos, dos inconscientes e dos desesperados. Pelo traço de um desenhista de rua, a população desesperançada é reunida como em um rebanho, em um conto forte e muito bem escrito.

“Abismos Insondáveis” apresenta um detetive incauto que acaba se envolvendo em uma briga ancestral pela posse de um artefato que pode invocar os Deuses Antigos. Duda Falcão desenvolve um thriller de suspense, onde o terror permanece nas bordas, no que não é dito, nas possibilidades infindáveis. A narrativa é rápida e envolvente e o final, inquietante.

“O Despertar”, de Marcelo Augusto Galvão, mistura terror e ficção-científica, inserindo os Mitos de Cthulhu em uma esfera alienígena que não cairia mal aos olhos de Lovecraft. Mexendo com os medos mais íntimos de todos nós – o da perda de sua identidade ou daqueles que amamos –, o conto atravessa as páginas em uma velocidade alarmante. O final, perturbador, é um dos melhores da coletânea.

Artur Vecchi apresenta “Os Meninos do Menino Deus”, que faz um trocadilho com um dos bairros de Porto Alegre. Uma reunião de crianças desaparecidas é contada pelos olhos de um velho bêbado; e nada é mais perturbador do que crianças possuídas.

“Caos e Eternidade”, de Carlos Orsi, encerra a antologia. Trata-se de um pesadelo cósmico na forma de uma praga, onde os Deuses Antigos atuam como julgadores e carrascos da humanidade O conto é frio e desesperançoso, aparentemente influenciado pelos mitos das pregações teológicos que abundam nossa sociedade. O deserto da alma parece estar mais perto do que nunca.

Não há dúvida de que esta é uma obra audaciosa e muito bem-vinda ao cenário nacional. Ao combinar estilos tão diversos e ideias díspares em torno de um denominador comum como os Mitos de Cthulhu, a antologia consegue ser coesa em sua essência sem perder a individualidade de cada autor e cada história.

Se você é fã de Lovecraft ou de terror, é um prato cheio.

site: http://satelitevertebral.blogspot.com.br/2014/05/resenha-ascencao-de-cthulhu.html
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