Naty__ 04/11/2019Me ajude a chorar é uma obra que pode ser lida de diversas formas e acredito que a melhor seja aos poucos, absorvendo uma crônica por dia, mergulhando nas palavras do autor de forma moderada, pois o desejo é que elas não acabem.
Carpinejar tem um dom, aquele de tocar sem usar as mãos, de derramar lágrimas sem nos magoar e, de brotar sorrisos, ainda que nosso corpo queira chorar. Ele consegue mudar nossa forma de ver as coisas quando lidamos com as suas.
“Todo filho é pai da morte de seu pai.” (p. 14)
A primeira crônica já é um baque e não consegui achar outra para superá-la. Algumas são tristes e outras são capazes de nos fazer sorrir ainda que seja da tristeza, mas nenhuma é capaz de nos deixar vazios, algum sentimento é passado. Esse é o dom de Carpinejar. Não precisa de palavras difíceis, de joguinhos com termos rebuscados, nem tampouco enrolações. O livro é curto, os textos são curtos; a leitura acaba, mas o sentimento não.
Esse livro é diferente dos outros que ele já escreveu. Não estamos diante de uma obra que reflete seus momentos pessoais; o objetivo do autor é unir textos sem que haja um tema, e isso torna a leitura gostosa, despretensiosa e surpreendente.
“E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.” (p. 15)
Na obra, constam dois textos que ficaram famosos quando publicados: o escrito em homenagem às vítimas de Santa Maria, acidente ocorrido no Rio Grande do Sul, que inclusive foi capa em diversos jornais, como O Estado de S. Paulo, e aquele sobre o acidente aéreo de 2007 em Congonhas – São Paulo.
Para quem não está acostumado a esse tipo de leitura, é melhor seguir o meu conselho lá do início. Não porque o livro é ruim, mas degustar aos poucos é o melhor a ser feito, seja um leitor ávido pelo gênero ou não. A diagramação é bem simples e confortável.
Quotes:
“Os opostos não se atraem. Os opostos disputam quem tem razão. Não dará certo juntar aquele que é travado para o relacionamento com aquele que é intenso, aquele que pretende controlar os fatos e o que pretende inventar seus próprios fatos.” (p. 31)
“Quando o amor para de um dos lados, o relógio intelectual morre. Não se vive desprovido de gentileza. A gentileza é o amor em movimento.” (p. 51).
“Desse tempo, compreendi que adulto não soluciona o medo de criança, por querer terminar logo com o susto, dizer que não é nada, que é uma bobagem, que não vale sofrer à toa. Pai e mãe apenas aumentam o terror desprezando as perguntas e a cumplicidade.” (p. 100).
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2017/01/resenha-me-ajude-chorar.html