Priscilla 20/02/2020
incrível
Que livro maravilhoso. Assim como o primeiro, "A parte que falta".
Comparando os dois, achei esse segundo livro mais explícito, com uma mensagem mais direta e clara sobre o que quer ensinar/mostrar/significar. Lembro que quando li o primeiro livro (A parte que falta) precisei de mais imaginação e interpretação para compreender os significados ocultos no texto ou para criar quantos sentidos coubessem em cada palavra e ilustração.
Nesse segundo livro (A parte que falta encontra o grande O) não é preciso pensar muito para entender a mensagem da história, pois ela é bem clara. Para mim, a história retrata principalmente relacionamentos afetivos que não dão certo porque "as partes não se encaixam", "a parte não entende sobre encaixar" ou "encaixa, mas não anda pra frente", isto é, relacionamentos que são incompletos, que não estimulam o crescimento individual, a independência e uma relação equitativa e saudável, ou algo não encaixa, ou a parte quer te engolir (relacionamento abusivo), ou quer te deixar parada numa relação que não evolui.
Quando finalmente a parte encontra um encaixe perfeito, percebe que, com o tempo, ela cresceu e o encaixe não era mais suficiente. Isto retrata relacionamentos em que uma das pessoas se modifica e a compatibilidade antes existente começa a ruir porque o relacionamento estacionou e não acompanhou as mudanças de cada um. A vida é movimento. A vida é cíclica. Os relacionamentos precisam acompanhar as mudanças de suas partes para continuarem no tempo de forma saudável.
Em certo momento, a parte encontra "o grande O", que não tem encaixe e não precisa da parte para lhe preencher nem ela pode fazer nada por ele. Esse "grande O" lhe fala que não precisa dela para rolar pela vida (ser feliz, aproveitar a vida, seguir em frente), mas que ela mesmo poderia rolar sozinha.
Como, se ela era pontuda e não redonda? A vida se encarrega de aparar as arestas por meio de experiências, tombos, erros e acertos, tentativas, vitórias e derrotas, e tudo isso vai reduzindo as pontas e facilitando a parte a rolar sozinha pelos seus caminhos. Com o tempo ela se torna mais redonda, mais confiante, mais experiente, com mais sabedoria e autoconhecimento, e consegue sair por ai, sozinha, aproveitando sua vida.
É um livro que desperta muitos insights e reflexões sobre relacionamentos, e, na minha visão, procura mostrar que cada pessoa é completa em si mesma, que não precisa do outro para viver e ser feliz, o que não quer dizer que tenhamos que passar a vida isolados ou sem dar valor a nossas companhias, mas que precisamos estar felizes conosco para sermos felizes numa relação. É preciso aprender a "rolar" sozinho para poder "rolar" junto com o outro, lado a lado, contribuindo e trazendo felicidade a ambos, e não querendo que o outro faça parte de você, engolindo sua individualidade, impedindo a evolução do outro ou rolando tão rápido que nem se pode aproveitar o caminho.
Penso que uma das coisas mais legais nesse livro é o tanto que a gente pode pensar, escrever e refletir sobre ele, mesmo em se tratando de pouquíssimas páginas com quase nenhuma fala e ilustrações minimalistas. É um livro que dá asas à imaginação, que não entrega tudo pronto (principalmente o primeiro livro), o que é bonito de ver.