Nana Barcellos | @cantocultzineo 08/09/2021
os segredinhos de vó...
Ellen Branford é perfeitamente moldada pela boa vida na cidade grande: advogada respeitada, gosto requintado, um namorado de causar inveja e um futuro praticamente planejado - com a garantia de que dará certo. Tudo é colocado à prova após a morte de sua avó, que em seu último suspiro guiou Ellen pelos cantos da casa à procura de uma carta. A protagonista encontra, assim decidindo entregá-la pessoalmente ao misterioso destinatário.
Para tal ato, Ellen inicia uma jornada investigativa em Beacon - uma cidade no interior do Maine. Logo a moça começa notar as pequenas inconveniências de uma cidade pequena, sobretudo após cair de um píer em reforma e ser puxada pela correnteza. Prestes a se afogar, Ellen é salva por Roy - o perfeito type zé do mato. No dia seguinte, o acidente está lindamente estampado e distribuído no jornal local. Lidando com a exposição repentina, e torcendo para não chegar aos ouvidos da mãe e do futuro noivo, Ellen inicia as tentativas de entrega da carta. A questão é que o dono nunca está em casa.
Desesperada para se mandar daquele lugar dominado por pessoas intrometidas, a protagonista não encontra um pingo de sorte quando bate à porta do amigo da avó. Entretanto, como um toque do destino, aos poucos a implicância com parte dos moradores locais se esvai, conectando-se, e ela descobre vários pontos inimagináveis no passado da avó. Um dom, um amor, um lar, um cheiro, um gosto... Um passado adormecido que fará Ellen questionar se é realmente feliz em meio a tudo que construiu em sua grande cidade.
E, claro, a relação entre Ellen e Roy coloca em pauta os sentimentos da moça pelo noivo perfeito. Os dois se divertem, de diferentes maneiras, cada vez que ela coloca os pés em um dos bares mais badalados do local; de karaokê a jogo de dardos. Roy sabe roubar sorrisos de Ellen como ninguém. O rapaz ainda se torna um ponto chave no grande mistério que ronda a ida de Ellen a Beacon.
"Era isso? Ele estava me deixando escapar? Mas eu não queria mais ir embora. Queria ficar lá e continuar flutuando em seus olhos."
O romance de Mary Simses não é daqueles tão arrebatadores e excepcionais, mas garantiu um lugar no meu palácio de memórias literário por ser exatamente nutrido de simplicidade. Conforme avancei em suas páginas encontrei momentos divertidos, um mistério gostoso de acompanhar, um lado inspirador adorável, desejei visitar Beacon e desejei comer todos os quitutes mencionados - além de ser fisgada na trama do passado da vózinha. A trama de Simses é ágil, sem grandes obstáculos, mas o romance sabe entreter.
Não dá pra enganar: impossível que o leitor demore a ligar os pontos em relação ao destinatário da carta. A questão está em como toda a história irá afetar Ellen. Ao longo dos anos, a protagonista criou uma imagem completamente diferente da avó e lá, em Beacon, tudo irá ruir. Não que a vózinha tenha sido uma má pessoa, mas as escolhas dela alegraram uns e desapontaram outros. E é o caminho que a protagonista irá traçar durante suas descobertas. Alguém também terminará desapontado por uma escolha de Ellen.
A personalidade da protagonista é feita de conflitos: a liberdade da avó versus as restrições da mãe. A mãe aparece em alguns momentos do romance, logo percebemos seu tom esnobe. Ellen não se mostra tanto desta maneira, talvez pelos momentos inesquecíveis ao lado da avó. Embora Hayden, seu noivo, seja uma outra metade da personalidade maternal e tenha certo controle em parte de suas atitudes, como ser o fiscal do que ela come. Apesar dos pesares, há uma cena final em que ele se comporta como um verdadeiro lorde, sem chiliques, fato que me surpreendeu e muito. Normalmente ~algumas~ autoras se aproveitam deste tipo de cena para destratar as mocinhas de seus romances.
"Há tantas maneiras de olhar para a mesma coisa, Ellen."
Ainda sobre os tons investigativos do romance, acredito que seja justo sinalizar ao leitor a não ficar tão empolgado em obter todas as respostas. A relação da avó com o destinatário da carta é o ponto dramático deste romance e não entregará o idealizado. Dizer que não sei se foi planejado pela autora, mas minha posição é ao lado do cara da carta. Não achei que a avó da Ellen foi muito justa com ele. Todo drama me deu uma pena danada do homem.
Por fim recomendo aos amantes de um romance adorável - e mais um livre das safadezas, uau - que não deixe de dar uma oportunidade, ou visita, a O Irresistível Café de Cupcakes. Só peca e muito na ideia do romance miojo - o povo se conhece em uma semana e já ama, sério? -, todavia as descobertas de Ellen, a culinária, as trocas entre Ellen e Roy e os moradores de Beacon preenchem uma leitura gostosa e atrativa de alguma forma.
"Talvez eu considere ele um tanto quanto atraente."
Edição física apresenta um ótimo trabalho da editora, com fonte confortável e formatação agradável. A capa tem certo efeito aveludado - a burra aqui achou que os efeitos de fumaça eram sujeira e ficou tentando limpar. Err... Não encontrei deslizes tão gritantes, só não sei me agrada o fato de seguir usando blueberry e tals, em vez de traduzir. Acho que é meio um consenso que a gente sabe que é mirtilo, né? Vem até pedaço no iogurte - amo, aliás. Vigor mande mimos...
Ah, e para quem está curioso sobre o Café de Cupcakes do título, a jornada de Ellen acaba por apresentá-la uma bela propriedade que marca a história de Beacon e, consequentemente, de sua avó. É ali que se encontrava os melhores blueberries - ou mirtilos - que faziam sucesso no café da cidade. E, sim, há algo em comum com a parte final do romance.
ah, acesse o blog para saber um pouco mais da adaptação ;)
site: https://cantocultzineo.blogspot.com/2021/08/livro-o-irresistivel-cafe-de-cupcakes.html