Nae. 14/05/2023
Sobre Eu, Christiane F., A vida apesar de tudo:
Ler esse livro foi uma experiência maravilhosa ao mesmo tempo que fascinante. Particularmente estava extremamente ansiosa para o ler por motivos óbvios e, sinceramente, estava torcendo para ler coisas boas sobre a vida que ela levou após o lançamento do livro e do filme. Infelizmente isso meio que não foi o caso. Vai parecer um pouco de loucura mas em muitos momentos desse livro, surpreendentemente, eu fiquei mais triste do que quando estava lendo o primeiro. Sério, em vários momentos eu só queria ver essa mulher pessoalmente e abraçar ela. O livro já começa com um baque da gente descobrindo o estado de saúde "atual" dela e assim... esse primeiro capítulo se chama "Vida de merda" ou algo assim e de fato é uma vida de merda. Tanto no quesito saúde, quanto no pessoal... um completo caos. É bizarro como em muitos momentos ela esteve cercada de pessoas e ao mesmo tempo tão sozinha, ou sempre acabava sozinha em algum momento. Também tem toda a situação dos seus relacionamentos amorosos, com a família, com o filho... eu já disse isso muitas vezes no meu histórico de leitura, mas vou repetir nessa resenha: ela foi uma mãe excelente mesmo com todos os defeitos que ela mesma sabe ter, e ela com certeza ainda é uma ótima mãe. Parece que a coisa que mais a fez sofrer foi perder o filho e isso é horrível porque, de certa forma, tirando os animais, o garoto era tudo que ela tinha, era a única conexão que ela conseguiu criar de verdade e de forma duradoura com alguém, era a unica pessoa que ela se dedicava mais do que as drogas.
Acho que, assim como o primeiro livro, é impossível ler esse sem se compadecer com ela, sei lá, sem querer virar uma amiga de verdade dela, sem querer ser presente na vida dela pra tentar mudar alguma coisa, ajudar e coisas do tipo. Mas devo dizer que esse livro não é uma grande lamentação, assim como o primeiro não é, parece que não é do feitio da Christiane se colocar em uma posição de vítima o que é muito bom, mesmo que em alguma situações ela seja de fato uma vítima.
Achei super interessante ela falando sobre o assedio da mídia e das pessoas em cima dela porque, bom, ela virou uma junkie star. Infelizmente pelo resto da vida ela vai ficar conhecida como a viciada que aos 13/14 anos se prostituia para conseguir manter esse vício. Acho que essa é a principal consequência de ter exposto essa história fascinante e lamentável para o mundo, uma história que querendo ou não se tornou uma obra atemporal assim como o filme que atualmente está em uma plataforma super bombada que é a Amazon (e é mesmo uma obra atemporal, pelo amor de Deus, ela vive até hoje com o dinheiro do livro). Ela vai viver a vida toda com esse estigma, ela vai viver a vida toda sendo lembranda dessa história que qualquer um no lugar dela talvez gostaria de esquecer. Isso soa muito triste. Mas também não recrimino ou demonizo quem encontra ela na rua e pede para tirar uma foto (por mais estranho que seja, ela meio que virou uma celebridade e vai morrer como uma) ou só para pra conversar, afinal, a história dela marcou muitas pessoas e vai continuar marcando (óbvio que as pessoas tem que ter o mínimo de educação e respeito nesses momentos).
Acho muito triste a situação atual dela com os pais. A mãe dela parece ser péssima por mais que tenha lutado tanto por ela na adolescência. Agora sobre ela ser vigiada... por mais pirado que pareça, e talvez possa ser de fato uma piração dela, se ela se sente assim só nos cabe respeitar e lamentar por ela estar "passando" por isso.
Adorei esse livro tanto quanto o primeiro. A Christiane é uma mulher simplesmente fascinante e espero que ela esteja tendo paz na vida que está levando hoje em dia.