Raniere 15/07/2014
A quinta-feira que extrapolou todos os limites do terror
Antes de começar esta resenha, quero avisar algo:
Não sou formado em letras. Pelo contrário, sou estudante de Estatística, e tudo o que falo nas resenhas e matérias da Encontros Literários é fruto de muita leitura e pesquisas pessoais, por prazer. Caso eu cometa algum deslize na resenha abaixo (pois pretendo comparar esta obra com outras), peço que me perdoem.
Pois bem, vamos falar da resenha, de fato!
Quando comecei a ler “Os Três”, eu já esperava gostar do livro. A sinopse é intrigante demais e, pra completar, tem um excelente elogio feito por Stephen King, na capa. Pois o livro me surpreendeu e prendeu nas primeiras 10 páginas (é sério).
Sara Lotz inovou neste livro, pois “Os Três” é “um livro dentro de outro livro”. Deixe-me explicar: o livro começa com uma introdução, na qual o avião de Pámela May Donald cai (junto com outros 3, em partes diferentes do planeta) e que esta, antes de morrer, deixa a mensagem “Eles estão aqui. Eu... Não deixe a Snookie comer chocolate, é veneno para os cachorros, ela vai implorar a você. O menino. O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu Deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. Tchau, Joanie, adorei a bolsa, tchau, Joanie, tchau, Pastor Len, avise a eles que o menino, não é pra ele...”. Após a introdução, começa o “livro” intitulado “Quinta Feira Negra – da Queda à conspiração”, da personagem Elspeth Martins, que é uma jornalista e reúne relatos, entrevistas, reportagens, etc., sobre os sobreviventes e conspiradores (religiosos, ufologistas, etc.). Após o desfecho do “livro”, há uma conclusão surpreendente de “Os Três”, da qual eu não falarei absolutamente nada.
Alguns podem falar que esta fórmula já foi usada, porém eu discordo. Em “A Torre Negra – O Vento Pela Fechadura”, de Stephen King, Roland Gilead e seus 4 amigos, presos em uma construção por causa de uma nevasca, conta duas histórias para estes (uma dele mesmo, quando criança, e uma fábula, aparentemente real). Porém, é uma história contada pelo Roland em uma Saga e em um livro em que esta não é o foco principal. Há outros livros, de outros autores, em que um personagem está lendo um livro, e esta é a história escrita para nós, de fato. Este não é o caso de “Os Três”.
Em “Os Três”, há a sutileza de parecer que estamos lendo um livro de um fato verídico, uma coletânea de reportagens sobre acidentes que aconteceram realmente. É um livro de ficção em formato de não-ficção. Aqui farei uma comparação: filmes de terror, como “REC”, “Bruxa de Blair” e “Atividade Paranormal”, em que o filme se baseia em gravações de vídeo dos personagens do filme, ou em alguma reportagem em si, como “REC” mostra.
Há um livro chamado “O Dia do Curinga”, escrito pelo norueguês Jostein Gaarder, em que o personagem principal, Hans-Thomas, com seu pai, cruzam a Europa em busca da mãe, e então eles encontram um livro, que cria uma narrativa paralela, que influencia a viagem de Hans de diversos modos. Ainda não li este livro, e o que sei é através de pesquisa e pelo relato de uma amiga. Pelo que entendi, o livro achado por Hans-Thomas influencia a história principal. Este livro é, digamos, um personagem da história. Ao meu ver, este mecanismo usado por Gaarder, apesar de similar ao de Sarah Lotz, não é a mesma coisa. Sarah faz com que o livro, citado em “Os Três”, seja A história em si, e não um personagem.
Em “Os Três”, também notei as duras críticas pelo modo como repórteres e paparazzis trabalham, não respeitando vítimas de acidentes e catástrofes graves, e explorando suas dores até o último segundo, e aos fanáticos religiosos, que, no livro, acham que as 3 crianças sobreviventes são os 3 Cavaleiros do Apocalipse citados na Bíblia, e passa a perseguir suas famílias, também. O leitor, creio eu, enxergará várias similaridades com a realidade, e isto influencia no realismo do livro.
Enfim, para os fãs de literatura de horror, a minha sugestão é “Os Três”, de Sarah Lotz. Leiam! Vocês não irão se arrepender.
site: https://www.facebook.com/EncontrosLiterariosRJ