Ensaio Sobre a Lucidez

Ensaio Sobre a Lucidez José Saramago




Resenhas - Ensaio Sobre a Lucidez


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ViviCamacho 15/12/2021

O Estado muito ajuda se não atrapalha
Achei muito difícil ler este livro, a leitura não fluiu como gostaria, mas não me canso de ficar admirada com a inteligência, perspicácia e genialidade de Saramago!

Já adianto que não é aquele livro que você vai devorar, pois é mais denso e traz muitas questões para reflexão.

Em linhas gerais Saramago nos apresenta a história da capital de um determinado país, cuja população, em período eleitoral, teve uma votação maciça em branco, 87% dos votos. Isto causou espanto, e os governantes, como uma represália, decidiram sair da cidade, na surdina, decretando estado de sítio. Retirou todos os serviços públicos e também a polícia. Esperava que a cidade virasse o caos, mas isto não aconteceu, pois as pessoas foram se organizando e vivendo, inclusive com menos violência.

O plano inicial era que a população implorasse pelo retorno dos governantes, mas isso não aconteceu. Então, começaram as ?intervenções? estatais, para que o Estado fosse reconhecido como verdadeiramente útil. E muita coisa passa a acontecer?

Muitos dizem que este livro é a sequência do ?ensaios sobre a cegueira?, pois traz alguns de seus personagens, que não citarei, porque é bem legal ir descobrindo no decorrer da leitura.

Fiz marcações e gostaria de destacar muitas notas nesta resenha, mas encerro citando uma de um trecho em que houve um assassinato, e o ministro do interior fez uma declaração dizendo que este era ?obra, sem dúvida, de um profissional da pior delinquência?. Mas nós, enquanto leitores, sabíamos que o tal profissional era o Estado.
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Carlos Henrique 20/04/2014

A LUCIDEZ E A CRISE DE LEGITIMIDADE DO ESTADO
O pleito eleitoral de uma cidade fictícia fracassa após ser apurado que 70% dos eleitores votaram em branco. A partir deste ponto, os órgãos e agentes representativos do Estado retiram-se da cidade e a isolam. Mesmo sem a presença das instituições estatais, a vida na cidade segue o seu curso aparentemente normal, que se vê alterado, posteriormente, pelas ações de viés autoritário desencadeadas por agentes do estado ávidos para incriminar cidadãos e comprovar falsamente a prática de um suposto atentado contra a ordem democrática. É a oportunidade criada pelo autor para conectar-se a "Ensaio sobre a Cegueira", dado que a heroína desta obra passa a ser a principal suspeita de ter orquestrado a "insurreição" eleitoral do voto em branco. O voto em questão é uma clara alusão ao descrédito dos cidadãos em relação ao Estado e ao regime democrático. A lucidez pode ser interpretada como um questionamento à necessidade do contrato social (Rosseau/ Hobbes), afinal, por que tudo parecia organizado na cidade mesmo sem a presença do Estado? Aos olhos do Leviatã, a situação não poderia ficar impune. Exatamente por isso, o Estado, na condição de detentor do monopólio da violência e controlador da informação encontra o bode expiatório e faz suas vítimas na tentativa de resgatar sua legitimidade perdida, produzindo-se o desfecho trágico da narrativa com o assassinato dos personagens principais que ousaram ser lúcidos. A obra mostra-se extremamente atual, pois constitui um retrato da crise de legitimidade do regime democrático, dos agentes políticos e das instituições estatais.
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regifreitas 14/02/2023

ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ (2004), de José Saramago.

Publicado em 2004, ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ é o décimo quarto romance de José Saramago. O livro é uma sátira política e social, que explora questões sobre a democracia, o voto e o poder.

Na capital de um país fictício, após a apuração das eleições gerais realizadas, constata-se que 70% da população votou em branco. Crendo tratar-se de um erro, o governo resolve realizar um novo pleito. Mas, para surpresa geral, o escrutínio da nova eleição aponta para mais de 80% de votos em branco.

Julgando, então, tratar-se de uma revolta popular, todo o governo - presidente, primeiro-ministro, ministros, policiais, bombeiros e demais autoridades oficiais - resolvem abandonar e sitiar a capital. Crendo que o caos tomaria conta da cidade sem a presença de seus representantes legais, a classe política assiste, desconcertada, os cidadãos seguirem seu curso normal de vida, e até de forma mais organizada e pacífica, sem governantes.

Temendo perder sua legitimidade, o governo decide agir nas sombras, através de atentados, na tentativa de convercer a população de que a votação em branco nada mais seria do que um golpe, armado por um grupo, visando acabar com a democracia no país. Para isso, necessitaria também de forjar um bode expiatório, a figura de um líder que representaria essa hipotética "insurreição eleitoral".

É nesse ponto que se faz a ligação deste romance com o ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA; ambos se passam no mesmo universo, num intervalo de quatro anos de diferença entre os dois acontecimentos. A apontada como suposta líder dos revoltosos acaba sendo a protagonista do primeiro romance, a esposa do oftalmologista, aquela que havia sido a única a não cegar. Outros personagens do livro anterior também ressurgem aqui.

Mesmo não tendo o mesmo impacto de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, esta obra acaba também tendo a sua relevância, especialmente em tempos de incerteza política como a atual. Saramago é gênio em construir universos e tratar de questões atemporais. Prova disso é que, quase vinte anos após a publicação deste livro, ele se mostra atualíssimo.
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