regifreitas 14/02/2023
ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ (2004), de José Saramago.
Publicado em 2004, ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ é o décimo quarto romance de José Saramago. O livro é uma sátira política e social, que explora questões sobre a democracia, o voto e o poder.
Na capital de um país fictício, após a apuração das eleições gerais realizadas, constata-se que 70% da população votou em branco. Crendo tratar-se de um erro, o governo resolve realizar um novo pleito. Mas, para surpresa geral, o escrutínio da nova eleição aponta para mais de 80% de votos em branco.
Julgando, então, tratar-se de uma revolta popular, todo o governo - presidente, primeiro-ministro, ministros, policiais, bombeiros e demais autoridades oficiais - resolvem abandonar e sitiar a capital. Crendo que o caos tomaria conta da cidade sem a presença de seus representantes legais, a classe política assiste, desconcertada, os cidadãos seguirem seu curso normal de vida, e até de forma mais organizada e pacífica, sem governantes.
Temendo perder sua legitimidade, o governo decide agir nas sombras, através de atentados, na tentativa de convercer a população de que a votação em branco nada mais seria do que um golpe, armado por um grupo, visando acabar com a democracia no país. Para isso, necessitaria também de forjar um bode expiatório, a figura de um líder que representaria essa hipotética "insurreição eleitoral".
É nesse ponto que se faz a ligação deste romance com o ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA; ambos se passam no mesmo universo, num intervalo de quatro anos de diferença entre os dois acontecimentos. A apontada como suposta líder dos revoltosos acaba sendo a protagonista do primeiro romance, a esposa do oftalmologista, aquela que havia sido a única a não cegar. Outros personagens do livro anterior também ressurgem aqui.
Mesmo não tendo o mesmo impacto de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, esta obra acaba também tendo a sua relevância, especialmente em tempos de incerteza política como a atual. Saramago é gênio em construir universos e tratar de questões atemporais. Prova disso é que, quase vinte anos após a publicação deste livro, ele se mostra atualíssimo.