jupiterderodinhas 04/01/2024
Esse livro foi um dos que escolhi quando estava trocando livros em um dos sebos da minha cidade e foi uma ótima escolha.
O livro é dividido literalmente em dois mundos (apesar de não ser esses dois mundos à que o título se refere). Sem spoilers, os capítulos ímpares são em primeira pessoa do ponto de vista do Newton na nossa terra de 2001, contando as coisas ocorridas com ele por email para um remetente misterioso, e os capítulos pares são em terceira pessoa, com ponto de vista variando entre os personagens, contando o que está acontecendo em tempo real em Aiê, um lugar em contato bem direto com Orum, onde vivem os orixás.
No mundo do Newton, tudo começa com uma investigação sobre envenenamento de iogurtes, e em Aiê tudo começa quando os instrumentos utilizados para adivinhação pelos babalaôs param de dar respostas. Com o passar do livro essas duas histórias vão se ligando, mas mesmo ao chegar ao final fiquei sem compreender 100% como os dois lugares estão ligados (não sei dizer se por falta de conhecimento minha sobre religiões afro-brasileiras ou porque é melhor explicado nos próximos livros da série).
Eu particularmente gostei muito mais de ler as partes do Newton, apesar de ele deixar claro pela forma que escreve no email sobre as situações, as pessoas e si mesmo que é um ser insuportável. Achei incrível como o autor soube deixar isso transparecer tão claramente no livro sem que ele também fosse insuportável de ler.
As partes em Aiê para mim remeteram muito ao jeito que fábulas são contadas, mas não sei descrever exatamente o porquê, então só vai ficar nisso minha descrição mesmo. É em Aiê que estão nomes conhecidos como Exu, Ogum, Oxum, Oxóssi, etc, mas eles não são os orixás, apenas pessoas comuns com poderes.
Eu sinto que tem muitas dicas e detalhes que quem conhece mais sobre religiões afro-brasileiras vai pegar muito antes ou até mesmo sem o autor falar. Tenho a impressão que devem haver tipo "easter eggs", vamos dizer assim, para quem sabe mais sobre.
Eu, por exemplo, consegui ver que existia uma ligação entre a comida sendo comida no mundo do Newton e oferendas pedidas pelos orixás e comidas comidas pelos personagens em Aiê, mas como não sei nada sobre religiões afro-brasileiras além de alguns nomes, não consegui saber qual era a ligação, só que ela existia. E também acho que pelo nome que foi pedido para ser chamado, o remetente do Newton pode potencialmente ser descoberto por quem entende mais mesmo sem o autor falar (eu descobri pesquisando uma coisa pra essa resenha que abriu um site sobre orixás, por exemplo, mas não tenho certeza pq quem confia 100% na internet hj em dia?).
Além disso, tem um breve momento de triângulo amoroso mais pro fim do meio do livro e eu estou cansadaaaa de triângulos amorosos, mas foi bem breve, então ficou relativamente de boas depois que isso passou, apesar de não ter passado 100%.
O fim te deixa querendo mais, o epílogo deixa a curiosidade ainda maior. Infelizmente, deixei os outros dois livros da série para trás no dia que peguei esse no sebo e vou ter de torcer para ainda estarem lá quando eu voltar, já que as edições físicas dessa série parecem estar esgotadas.