HanSoled 24/12/2022
Como sentir saudades de quem você nunca conheceu.
Ler as memórias e trabalhos não publicados de Adams é como falar com um amigo que você nunca teve, mas que sempre esteve ali. Entre ensaios sobre a existência de Deus e reflexões sobre a pergunta "Por quê?", a gente acaba encontrando um sentimento estranho: Saudade. Não saudades dos livros que nunca mais serão publicados, ou das piadas que já lemos nos que já foram, mas saudades do próprio Adams. Com tantas histórias pessoais, você acaba criando um vinculo de amizade com ele, uma amizade divertida e gostosa, com alguém que parecia ser uma pessoa boa e leve, o que, ao menos pra mim, não era de se esperar da mente que escreveu O Guia e Dirk Gently's, ambas obras que apesar de humorosas, tratam de temas pesados e muitas vezes se arrastam em tangentes deprimentes.
Sou suspeito. Como um grande fã de Adams, talvez meu coração seja um pouco mole, mas chorei diversas vezes em textos que não deveriam ser tristes, pois me senti lendo cartas póstumas de um melhor amigo em potencial... Tudo em "O Salmão da Dúvida" é muito pessoal, direcionado, parece uma conversa, parece procurar uma réplica amigável para começar uma discussão divertida que geraria boas risadas, mas que nunca mais vai. A sensação de perda ao terminar esse livro é avassaladora, são memórias felizes de uma vida celebrada, mas que vai fazer falta, e nunca será substituída.
Até mais, e obrigado pelos livros, Adams.