Kinha Fonteneles 06/12/2014
Das viagens que fiz sem sair de casa.
Sou formada em Letras. Dou aulas de português, redação, literatura e espanhol. Os livros fazem parte da minha vida também com objeto de trabalho, de análise... são ferramentas que me ajudam a sobreviver nesse mundo hostil que é a sala de aula.
Um dia, cansei. Cansei dos clássicos, das leituras "obrigatórias", de tudo que tinha na minha biblioteca pessoal. Precisava do novo. Ansiava por uma mudança e não sabia por onde começar. Os sábios diriam que se começa pelo começo. Mas qual era o meu começo?
Num calor escaldante, no verão do Rio de Janeiro, sai do trabalho e fui em busca do novo. Meio-dia, no Centro da cidade maravilhosa. Andando sem rumo, sem pressa, sem um lugar onde, efetivamente, quisesse ir.
Entrei em um Sebo... rs rs... o lugar comum de quem vive e respira livros.
Olhei analiticamente as prateleiras. Mas naquele dia, tudo o que eu menos precisava era ser "analítica". Desisti das prateleiras e me deixei levar pela música de fundo... um jazz que fazia o Centro, acima de mim (o Sebo fica numa galeria subterrânea) parar de gritar.
E foi então que o vi... sozinho... como se alguém o tivesse pego para dar uma "olhadinha" e não o tivesse posto no lugar. Karmatopia estava solto e gritando pra mim.
Peguei. Aquele livro era meu. Paguei e voltei para o trabalho feliz da vida, com a nítida sensação, que depois de anos escolhendo e analisando livros, fui finalmente, escolhida por um.
Sigo o Budismo como filosofia de vida. Mas ultimamente, meus problemas superlotaram a minha mente, e tudo que aprendi durante dez anos, estava se esvaindo como água em uma torneira aberta.
Karmatopia foi a mão a que teve coragem de fechar essa bica.
A leitura me dominou de tal modo, que ao fechar os olhos, pude sentir, ouvir... ser a confusão da índia.
Karla Monteiro traduziu em palavras toda essa busca que anseio... a mudança de caminhos, a questão de perspectiva de vida; a viagem interior, no mundo exterior.
Sem sair do Rio de Janeiro, estive na índia por quatro dias (que foi o tempo que durou minha leitura).
Dois capítulos conversaram comigo de maneira una: Gueshe Lhakdor e Tenzin Palmo. Era exatamente o que eu precisava "ouvir", em meio as minhas crises existenciais, crises de pânico e de identidade.
Ainda não sei quem eu sou, mas sei exatamente o que quero e como fazer para conseguir.
Hoje, vejo meu corpo como meu templo. E minha mente é o centro de comando. Tudo está aqui e parte daqui.
Karmatopia fez com que eu me olhasse no espelho sem medo do que iria ver. E quando terminei a leitura, "o céu estava azul.".
"Só se encontra quem sofre." (p.191)
Acho, então, que estou no caminha certo!