Cruz Santos 30/09/2015
Poesia em forma de Conto
Antes de tudo é bom apresentar pra quem não conhece o escritor Patrick Rothfuss autor da série "Crônicas do Matador de Rei", que vale salientar, é um dos melhores autores de literatura fantástica da atualidade e seus livros são exemplos de como um fazer jus ao adjetivo "fantástica" no termo Literatura fantástica rsrs, e se vc ainda não conhece essa série, pare tudo que está fazendo agora e vá ler esses livros.
Enquanto muitos estão desejosos esperando o terceiro livro da série que deve se chamar " the Doors of Stone", o Patrick nos presenteia com esse incrível conto de 135 páginas.
A Música Do Silencio foi escrito como um spin off sobre uma personagem enigmática e muito querida das crônicas, a Auri. Esse livro é provavelmente diferente de tudo que já li até hoje, e o motivo principal é: não há diálogos ao longo das 135 pág! mas aí vc me pergunta, como isso é possivel?... pois é, o Patrick simplesmente deixou fluir poesia em forma de conto. Toda a estória é sobre a vida cotidiana de Auri. A sensação é que vc é um expectador mudo, apenas observando uma alma que esteja aberta para você, é como se observássemos pedaços da vida da garota, e pra quem já conhece a Auri e já achava ela enigmática nos outros livros, agora é que a coisa fica um pouco mais misteriosa. Embora a livro mostre bastante sobre a personalidade da garota, que é um personagem excêntrico por si só, com seus modos requintados, carinha de anjo, seus cabelos em halo sobre sua cabeça captando toda luz da lua ( já que ela só perambula na superfície durante a noite) é muito fácil confundi-la com uma fada ou um elfo (como diria o Kvothe -o protgonista da série - A Auri é a sua pequena fada da lua), se não fosse as roupas maltrapilhas da coitada rs. Na estória a Auri fica ainda mais esquista e mais misteriosa e por vezes obsessiva -quem leu vai saber pq rsrs-. Embora saibamos que ela foi uma aluna na universidade Arcanista, ainda fica toda aquela dúvida sobre quem é ela de verdade (já que até o nome "Auri" foi dado pelo Kvothe), e o que aconteceu para ela morar nas ruínas subterrâneas da Universidade. No entanto, parece que a Auri vai muito bem obrigado, vivendo da forma em que ela vive ou ao menos ela acha que vive muito bem (?). O livro tem uma questão psicológica que acrescente um grau de complexidade para o leitor quando começamos a refletir sobre a solidão da menina. O nome da historia faz muito sentido conforme a o leitor vai sendo levado pelos fatos cotidianos da vida da Auri. Ela mora só nessas ruínas, não fala com ninguém não é vista por ninguém (alem do kvothe) não mantem contato nenhum, além do necessário, com a parte superior da cidade. Como uma pessoa assim conseguiria viver ? Ora dando vida ao inanimado rs. Uma característica da estória que contribui bastante para a dinâmica do conto, é a forma que a Auri trata as coisas inanimadas dando a elas personalidade, sejam elas lugares, como as mais diversas salas que só ela conhece ( e é uma surpresa para o leitor a cada nova descoberta), ou um simples objeto como um frasco um cobertor, até mesmo comida. tudo isso aos olhos dela tem um porque uma função e principalmente um lugar no mundo, que, de forma estranhamente bizarra, a nossa protagonista parece saber. Nós recebemos a todo momento, por meio das ótima narrativa, as impressões, sentimentos, angustias e alegrias da Auri, e isso acontece nos momentos mais simples que a pessoas comuns passariam despercebidos. O fato de subir com os pés descalços em uma escada conhecida pode ser maravilhosamente aconchegante enquanto encostar em uma parede em o local desconhecido pode ser aterrorizante. Tudo isso faz um sentido absurdo na perspectiva dela no conto, e realmente, a sensação do leitor é que ele de fato está ouvindo uma canção única, repleta de um silencio melodioso criado pela escuridão, e modificado pela luz da lanterna que a aura leva para lá e para cá, criando e dando forma aos sentimentos e sensações da protagonista. Em alguns momentos a musica é tensa, envolta em suspense, em outros calma e as vezes cheia de uma alegria repentina.
Além desse evanescente pedaço da vida da Auri neste conto, parece que ela ainda vai desempenhar um papel muito importante na trama no próximo livro pois ela gosta muito do Kvothe de uma forma protetora ( o sentimento é recíproco),e ela parece saber de coisas demais como se possuísse um conhecimento secreto, como um quebra cabeça a ser desvendado. A narrativa deixa leitor se questionando sobre até que ponto ela é apenas ingenua e bizarra ou uma grande sábia.
Em tom premonitório parece que ela sabe de acontecimentos importantes ainda por se realizar na vida de Kvothe (que nao aparece nesse conto). Enfim , o livro além de todas essas informações, é de uma beleza singular, tem ilustrações, a capa está linda, e tenho certeza que muitas pessoas vão se identificar com a Auri, as pessoas solitárias principalmente. talvez a Auri seja uma poesia no silencio das coisas para elas.
Ps: esse livro deve ser lido de preferencia por que ja tenha lido "O Nome do Vento" e "O Temor do Sábio" se não vc fica perdidinho.
Boa leitura a todos
@evertoncruzsantos (instagram eu posto fotos das minhas leituras e coisas interessantes lá )