@retratodaleitora 11/04/2015Tema difícil e personagens marcantes em uma narrativa poética e inteligente."A Libélula ficou ainda mais atraída pelo som vindo da menina e se aproximou. As duas ficaram se olhando por um tempo, sem censura, apenas presas entre si como os seres celestiais se prendem às preces dos mortais."
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Vanessa é uma jovem e famosa pianista, ela ama o que faz e encontra nesse instrumento uma razão para viver, um alívio para sua alma marcada pelas dores do passado e uma certeza para o futuro.
Foi viver em Londres ainda quando criança e, morando com sua tia, nem cogita a ideia de voltar ao Brasil. Não aguentaria as lembranças que viriam assim que pisasse em sua casa; não aguentaria ter que olhar para Valéria, sua "mãe", a razão pela qual Vanessa teve que ir embora, a pessoa que destruiu sua vida.
Em Londres ela pode contar com pessoas maravilhosas, sua tia e sua prima, sua família. Mas ainda assim está longe de ser a vida perfeita. Os pesadelos..., a angústia, a ferida em seu coração, as lembranças, a culpa... Além das apresentações sem fim e da pressão que sente para continuar sendo a pianista perfeita. Tocar para ela não é um problema. Problema é ter que lidar com os elogios vazios, com a exposição que sofre, com o sentimento de não pertencer aquele mundo. Ela só deseja tocar em paz.
Mas parece que Paz é algo que ela não vai ter. Depois de receber uma ligação de seu pai que está doente, Vanessa se sente dividida entre a vontade de ver o pai antes que seja tarde e o temor por tudo o que pode lhe ocorrer estando no centro de sua dor e perto daquela que lhe fez tão mal.
A vontade de ver o pai fala mais auto e apesar de sua tia implorar para que não vá ela decide enfrentar seus medos, afinal ela era só uma criança quando tudo aconteceu, agora é adulta e pode se defender.
Mas ela não poderia imaginar o que sua volta iria lhe causar. Agora, mergulhada em um mar de dor, incertezas e culpa, ela precisa reunir todas as suas forças para não sucumbir à depressão, que se aproxima sem dó nem piedade.
Será que Vanessa será forte o suficiente? Será que receberá a ajuda que precisa? Ou será que a Vilã Cinzenta, antagonista de sua vida, levará a melhor nessa história?
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Uma Canção para a Libélula trás ao leitor uma protagonista difícil, que nos narra uma história densa, triste, mas maravilhosamente coerente e, infelizmente, a realidade de muitas pessoas.
O mais triste é quando começamos a nos identificar com a tristeza dela.
Afinal, quem nunca teve que lidar com uma dor profunda? Com a vontade de sumir e a sensação de estar vivendo apenas por viver, não encontrando razão para nada? Bem, eu sim, e foi realmente difícil não me ver um pouquinho que seja na Vanessa e entender, pelo menos um pouco, seus pensamentos, seus anseios e seus atos.
O livro é um Sick-lit e como todos os livros do gênero trás um personagem doente. A doença abordada nesse livro é a Depressão. Doença essa que muitas pessoas não dão a devida atenção e apoio e tratam como algo banal.
Juliana Daglio fala desse assunto como nenhum autor que li se arriscou até agora. A leitura é densa, sim, mas é tão inteligente, interessante e diferente que é fácil ser tragado para dentro do mundo e da cabeça da protagonista. Depois dessa leitura incrível é impossível olhar a doença com os mesmos olhos.
A autora mantém um mistério até o final, e assim faz com que o leitor sinta sede de respostas e com isso acabou deixando a leitura mais fácil ainda. É difícil ler devagar quando queremos descobrir o segredo da protagonista, o que aconteceu com ela para que sua vida desmoronasse e seu sorriso fosse apagado.
É um tema pesado, sem dúvidas, mas que foi tratado com uma linguagem fácil e narrativa bem poética por alguém que entende do assunto. A Juliana é psicóloga.
Os personagens foram bem construídos, mas só temos a visão da Vanessa e senti falta de saber mais sobre outros personagens bem interessantes que aparecem poucas vezes, mas fazem bastante diferença na narrativa.
O final foi de cortar o coração, não foi um final que eu esperava e fiquei dividida entre não gostar do que aconteceu e amar a autora por ser tão corajosa e fazer algo diferente e inesperado. Fiquei com a segunda opção.
Mas não para por aqui, o livro tem continuação. Uma Canção para a Libélula parte 2 está nas fases finais para impressão e logo logo poderei continuar apreciando essa historia fantástica.
Juliana, com toda sua inteligência e criatividade, entrou para meu top 5 de escritores nacionais favoritos. Me fez derramar lágrimas logo nas primeiras páginas e, no final, me emocionou ainda mais.
Definitivamente indico esse livro para todos, acredito que agradará a maioria dos leitores!
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