Tango, Com Violino

Tango, Com Violino Eduardo Alves da Costa




Resenhas - Tango, Com Violino


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Poesia na Alma 01/12/2014

Resenha – Tango, com violino
Um livro cativante. Tango, com violino, de Eduardo Alves da Costa, Tordesilhas, 352 páginas, caminha lento e fluído como uma brisa de fim de tarde. Como a calma sábia dos mais velhos e humor permissivo a não histeria e uma música de Vinícius de Moraes. Elemento capazes de nos manter em estado de equidade e flutuantes. Capítulos curtos que mais lembram crônicas, a história passa num ônibus. Um livro apetitoso, para ser degustado quão intensamente um vinho, se não prestarmos atenção, passamos do ponto e ficamos confusos sobre exatamente o que estamos lendo.

'Tango, com violino' descreve o dia a dia de Abeliano, um professor de história da arte aposentado que envelheceu 'ex abrupto, no momento em que se deu conta de que poderia viajar gratuitamente nos ônibus municipais'. A partir daí ele desenvolve o hábito de andar ao acaso nos coletivos da cidade, na esperança de que seu itinerário lhe revele algo inusitado. Desse modo, acaba por transformar a banalidade cotidiana em uma série de aventuras que atribuem importância a cada contato humano, a cada paisagem urbana. Alimentando-se do que vê e do que ouve, em todo ônibus que entra Abeliano vive um universo possível e fugaz, que se desfaz a cada fim de viagem para ressurgir na próxima, o que lhe possibilita 'adiar o mergulho no isolamento irremediável e definitivo'.

Abeliano, personagem central, é um professor de História da Arte aposentado. Que descobriu o prazer de viajar de ônibus coletivo gratuitamente, gozando de um ‘dos privilégios’ da velhice. A cada parada, o extraordinário aparentemente frívolo, porém, carregado de afetividade emocional. Só para contar, eu li Tango, com violino ao som de Édith Piaf. O resgate do afetivo é tão intenso na narrativa de Eduardo Alves, que, por vezes, lembrava-se nostalgicamente de uma infância com avós. #chorei

“Abeliano só se dá conta de que a garota está ao seu lado quando o ônibus faz uma curva fechada e ele sente a coxa macia e quente. Ela deve ter vinte e poucos anos. Abeliano procura manter a calma, pois esses contatos nos coletivos ocorrem com frequência. Muitas pessoas gostam de se esfregar, são saudáveis, necessitam de contato humano, íntimo. E não se pense que minha idade constitua impedimento. Há moças que se sentem atraídas pela naftalina, como se lhes desse um prazer especial encoxar velhinhos, algo muito próximo a desvirginar garotinhos, dois extremos da caridade – iniciação à vida e banquete de despedida.”

O rio fluido que é a vida de Abelino no ônibus o faz conhecer pessoas diversas, na personalidade e idade. E diversos diálogos são travados, interrompidos pelo ponto de partida de cada um. Algumas pessoas ele nunca mais encontra, outras, amizades se formam. Algumas paixões desabrocham, dando um clima, como o para no ar do beija-flor, de romance, dura alguns segundos, nos deixando com sabor de ‘vontade’, esperando o próximo beija-flor encantar o dia.

A narrativa do Eduarda pode ser melancólica, divertida, poética, nostálgica, porém, jamais depressiva. Doente. Com artrose. É uma dança. A dança da vida. A dança do tempo. Que integra aspectos da afetividade, vitalidade e transcendência. A leitura foi apreciada por mim com calma e coração aberto. Simplesmente amei!
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