Andre.Pithon 21/09/2022
3.5
Red Seas Under Red Skyes mantém os mesmos pontos fortes que o livro anterior: os personagens são carismáticos, o mundo – uma Veneza fantástica marcada por enormes estruturas quase alienígenas de vidro largadas por uma civilização anterior – é único e refrescante no gênero, os diálogos são bem feitos e vibrantes, o encadeamento de peças e manipulações, uma empurrando a outra, típica dos grandes golpes e roubos, é satisfatória de ver em movimento. E novas peças são adicionadas, Tal Verrar é diferente de Camorr e apresenta uma sociedade distinta para se roubar, o tema de pirataria prometido é bem explorado e divertido, temos um novo elenco de qualidade, com Ezri, Zamira e Selendri sendo grandes destaques, essa terceira me ganhando mesmo sendo mera coadjuvante. É um livro bom. É divertido. Quando tá funcionando, funciona bem. Pra quem gostou do primeiro, o segundo é uma continuação óbvia que não se afasta do molde.
Ainda assim, pareceu-me recheado de uns pecados estruturais.
O segundo livro de Scott Lynch abre in media res, e retorna temporalmente para deixar aquela cena marcante no fundo da mente de cada leitor, alimentando dúvidas e paranoias. Cena essa que, ao ser alcançada no seu momento correto, é extremamente descartável, honestamente não mudaria em nada o livro. É uma jogada ruim, bem título de clickbait que promete um absurdo e obviamente não é capaz de cumprir. Não serve nenhuma função narrativa estar ali, não justifica a quebra de linearidade, e é imediatamente descartada. Abrir o livro com uma cena futura, prometendo tanto e, ao chegar lá, ser literalmente nada. Mentira. Uma gota amarga em um final prazeroso.
Também há uma falha de identidade. O projeto para furtar Requin e esvaziar os cofres da maior casa de apostas do mundo, a Sinspire, acompanhada de todas maquinações e jogos políticos urbanos, com anos de profundo e detalhado planejamento, é fascinante. O levante pirata, o aprender a sobreviver no mar e a escalada dos ranques dos corsários, junto com seu diverso elenco de lordes capitães da cidade independente criminosa de Port Prodigal é igualmente fascinante. Duas ótimas narrativas em vácuo, que conversam pouquíssimo entre elas. É possível cortar a obra na metade, e cada uma irá lhe entregar uma história. Há leves intersecções na conclusão, mas os personagens de um núcleo mal tem noção do outro, separados não só em narrativa, mas em tema. A única conexão é o antagonista principal, que faz seu papel, mas passa longe de ser memorável. Eu realmente queria ver ambas histórias convergirem harmoniosamente em um final em que cada peça estalasse no lugar, mas não me senti satisfeito com o resultado. Não é ruim, só são promessas demais, e algumas se perdem na jornada.
Ainda assim, eu me diverti. Dei risadas. Me vi imaginando como os protagonistas iam escapar das mais absurdas das situações, cambaleando de problema para problema com só a mente afiada como arma e a capacidade espetacular de mentir. É divertido. É pulp. Não chega a afligir o leitor com as mesmas tragédias magníficas que marcaram o dolorido final do primeiro, mas tem sua boa dose de diversão, sofrimento, romance e vingança.
Mesmo sem talvez entender exatamente o que é, Red Seas Under Red Skyes sabe que é uma aventura. E nisso é uma obra claramente capaz e competente, que não negará entretenimento ao leitor.