Dhiego Morais 18/07/2016Mares de Sangue“— Se uma tempestade de final de verão vier até nós, estará se movendo para noroeste mais rápido do que podemos velejar para leste, logo teremos de passar por ela. Não adianta se esforçar para escapar, pois só iria nos deixar mais cansados. Eu vou fazer o máximo que puder, mas é melhor o senhor rezar esta noite na sua cabine por uma coisa.
— Para quê?
— Para que caiam gatos da porcaria do céu.”
Depois de derrotar o Rei Cinza em Camorr e perder tudo e todos os que os ligavam a cidade, Locke e Jean se veem em uma nova aventura, tentando esquecer o recente passado sangrento dos Nobres Vigaristas, partindo para Tal Verrar.
Pouco mais de dois anos se passaram, e, ainda que pensem ter deixado para trás seus inimigos, outros são mais tenazes e alimentam o momento em que poderão se vingar da dupla de ladrões, acreditando ser possível atravessar mais uma vez o seu caminho.
Agora, Locke e Jean têm um alvo diferente e não menos ambicioso. Na procura de um roubo perfeito, os remanescentes dos Nobres Vigaristas usam de todas as suas artimanhas e ensinamentos de Padre Correntes, além de seu mais puro instinto, almejando talvez, a joia mais preciosa de Tal Verrar: a Agulha do Pecado — a mais exclusiva casa de jogos do mundo conhecido, onde a pena para aqueles que tentam transgredir suas regras é a morte.
Liderada por Requin, a Agulha do Pecado permanece com o título de possuir um cofre ostentoso e inteiramente inexpugnável. No entanto, é este atrativo que leva a dupla a maquinar o plano ideal durante os dois anos em que se afastaram de Camorr.
Tentando permanecer entre as sombras, Locke e Jean não tardam a chamar a atenção de antigos e novos perigos, aguçando até mesmo, a atenção do Arconte de Tal Verrar, Stragos, um homem impiedoso, ardiloso e astuto de uma maneira que eles nunca enfrentaram.
“— Qualquer homem pode peidar num cômodo fechado e dizer que comanda o vento — comentou Locke.”
Em pouco tempo, o título do segundo volume se faz compreender, quando os Nobres Vigaristas mergulham em uma complexa intriga política envolvendo os homens mais poderosos da majestosa Tal Verrar. Ameaçados de morte, não lhes resta opção senão partir para uma delicada viagem em alto-mar.
É fantástica a mitologia engendrada por Lynch, que se deu mais liberdade, injetando uma dose ainda maior no mundo dos Nobres Vigaristas. Ciência e magia se entrelaçam de maneira fantástica, adornada e lapidada com o humor ácido tão característico de Lynch, À medida que se avança na leitura, fica nítida a pesquisa e o zelo na construção de uma obra que eleva Scott Lynch à vanguarda da literatura fantástica contemporânea.
“— Meus filhos realmente correm mais perigo do que algum pobre coitado convocado para lutar nas guerras de um duque? Ou alguma família miserável morrendo de peste devido ao fechamento do bairro pela quarentena? Ou morta depois de queimarem as casas até os alicerces? Guerras, doenças, impostos. Baixando a cabeça e beijando botas. Há uma quantidade suficiente de coisas famintas rondando a terra, Orrin. A diferença é que as do mar não usam coroas.”
Piratas, traições e reviravoltas, sangue, gargalhadas, criaturas sobrenaturais, roubos e diálogos espetaculares, intrigas políticas e batalhas em alto-mar, além de gatos! Essas são algumas das coisas que aguardam o leitor de “Mares de Sangue”.
“— Se virmos outra vela naquele horizonte, em qualquer direção, devemos persegui-la. Devemos provocar uma luta. Sabe por quê? Para ver se conseguimos pegar alguns malditos gatos. Antes que seja tarde demais.”