Vê 15/06/2014A família Kidd navega pelos quatro cantos do mundo em busca de grandes tesouros que acabaram se perdendo junto com as embarcações que os levavam há muitos e muitos anos. Como já dá para perceber, não é uma família convencional. Muito unida e apaixonada por tudo o que possui uma história misteriosa, além de amantes de uma boa aventura, os Kidd quase não deixam sua embarcação: O Perdido.
Mas quando, no meio de uma terrível tempestade, o famoso professor Kidd desaparece em meio às ondas revoltas, Tommy, Tempestade e os gêmeos Bick e Beck estão exatamente como o seu barco: perdidos! Com a mãe recentemente desaparecida durante uma viagem da família a Chipre, as crianças estão entrando em desespero, sem ter a menor ideia de por onde começar.
Entretanto, o que Bickford, nosso narrador, não sabia era que, à parte dos grandes mistérios que seus pais pareciam carregar, eles os haviam preparado sutilmente para seguir em frente com o negócio de caça aos tesouros e, além disso, muitas surpresas os aguardariam dali para frente.
Por conta própria, os Kidd sabem que a chave para conseguirem aguentar tudo isso é manterem-se unidos. E, por sorte, eles se dão muito bem...bom, com exceção de Bick e Beck que, de vez em quando, possuem suas "Tagarelices dos Gêmeos", em que discutem quase tão rápido quanto uma partida de ping-pong antes de terminarem fazendo as pazes no mesmo processo.
De personalidades muito distintas, Tempestade é o cérebro da família, com uma incrível memória fotográfica, capaz de decorar de tudo; Tommy é o cabeça de vento, mas com músculos de ferro, tem ótima habilidade para navegar; Bick e Beck são os gêmeos que se completam, enquanto um possui habilidade para contar histórias, o outro capricha nos desenhos. Juntos, eles serão capazes de viver as maiores aventuras que só as crianças, sem a supervisão de qualquer adulto, conseguem.
Caçadores de Tesouros é uma leitura aventureira para qualquer criança ou adulto que esteja à procura de um livro que mistura de tudo um pouco e não economiza na hora de colocar a união dessa família à prova. Reúna tudo o que há de melhor em histórias com crianças como protagonistas: piratas, tesouros, espiões, segredos, lutas e surfistas, tudo isso com a maior intromissão de adultos interesseiros e estranhos. Nesse mundo, as crianças Kidd comandam!
Com capítulos curtos e uma aventura seguida da outra, o ritmo de leitura é alucinante, permeada de lindas e caprichadas ilustrações em todas as páginas, além de uma capa dura que deixa o livro extremamente confortável e rápido de ler. Definitivamente é um prato cheio para os olhos.
No entanto, apesar de todas a beleza e diversão garantidas, existem algumas coisas que deixaram a desejar; uma delas foi a tradução. Não a tradução inteira, mas de alguns trechos que tratam da mesma coisa e que acabaram ficando completamente fora de contexto. É costume na dublagem dos filmes inserir expressões e nomes de lugares e artistas que condizem com a nossa realidade, mas que dificilmente correspondem ao texto original.
Essa regionalização sempre me irritou profundamente porque não tem nada a ver mudar algo que é da cultura do país de origem do filme. Temos que respeitar isso; pode ficar sem graça ou sem sentido? Pode. Mas o que podemos fazer? Para mim, o mais importante é relevar e passar para a próxima cena do filme.
Acredito que, até agora, eu nunca havia encontrado uma regionalização tão gritante em um livro, quanto encontrei nesse. Acreditem, ou não, foi inserido o nome do time do Palmeiras! Confiram no trecho a seguir:
"(Dois apitos significam: "O jantar está pronto", e quatro, "O Palmeiras venceu o campeonato".)"
(pág. 66)
Não só nessa parte, como em algumas outras, a mesma citação ao time se repetiu. Completamente fora de contexto, afinal, como um bando de crianças, mesmo conhecedoras de muitas partes do mundo, sequer conheceria o Palmeiras? Além disso, este é um livro notadamente norte-americano e nós sabemos que a paixão nacional deles esbarra no baseball e futebol americano. Mas jamais no nosso futebol. Depois de passar pelo hóquei, basquete e rugby, talvez os americanos curtam um pouco de futebol. E mais um detalhe: o Brasil sequer é citado no livro. Essa menção a um time de futebol brasileiro caiu totalmente do céu.
Passando por essa derrapada na tradução, outra coisa que me deixou profundamente aborrecida no livro foram as constantes e dispensáveis "Tagarelices dos Gêmeos". Além de irritantes, muitas delas levavam do nada a lugar nenhum, ou seja, não passavam de briguinhas bobas entre Bick e Beck que sempre acabavam nas pazes dos gêmeos, tornando tudo muito chato e que poderia ser facilmente resolvido na metade da quantidade de diálogos.
No entanto, em se tratando de um livro para o público mais jovem, talvez funcione melhor para uma criança do que para mim. Apesar de todas as ideias mirabolantes, a leitura fácil e gostosa, algumas coisas simplesmente não deram certo comigo. Tantas aventuras e tantas situações extraordinárias nem sempre funcionam e, na minha opinião, se os autores tivessem focado apenas em um ou em outro, teriam tido o mesmo enredo bacana e divertido, mas com maiores possibilidades de desenvolvimento e uma história menos "salada de frutas".
No mais, Caçadores de Tesouros é um ótimo passatempo; a revisão da editora Novo Conceito está ótima e a edição, demais de caprichada! Por mais que não tenha me encantado completamente, ainda indico o livro para quem estiver a fim de uma leitura descontraída e muito rápida. Apesar de suas quase 400 páginas, você irá devorá-las em questão de horas e a beleza no interior de suas páginas contribui demais para uma maior dinâmica na leitura.
Recomendado, mas já estejam avisados dos exageros que poderão encontrar n'O Perdido!
Caçadores de Tesouros é o segundo título lançado pelo selo #irado da editora Novo Conceito, que vai focar no público infanto-juvenil. Até agora, tudo muito bom. Vamos ver o que mais nos aguarda!
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http://onlythestrong-survive.blogspot.com.br/2014/06/resenha-cacadores-de-tesouros-james.html