Boniex 18/04/2017
O que dizer quando se acaba de ler um livro que te deixa sem o que dizer? Mas eu tenho muito a dizer; tanto que prefiro não dizer. Porque não dizer, neste caso, é dizer muito. E muito nem sempre é muita coisa, muito, às vezes, é só um amontoado de coisas. Muitas coisas. Muito, muitas vezes, é o que deveria ser calado.
Mas, insisto, o que posso dizer? Nada posso dizer, posso só insistir em dizer. Insistir em dizer que é a mais bela história, não "de" mas "com" ficção científica que já li. E já li algumas coisas desse gênero "com", li em Borges, em Murilo Rubião, em J. J. Veiga, em Bioy Casares (um livro muito lido aqui "Morel"), li em Bradburry, mas nada, nada pôde me convencer (me comover) tanto quanto este Fundo do Céu.
A profundidade deste céu me fez crer no céu realmente profundo que é esta arte que tanto amamos, a literatura. Que pode pintar um quadro tão colorido com apenas palavras pretas em um fundo branco. Um fundo de céu, que já vai desmoronar, em incontáveis fins de mundo, em inumeráveis finais de mundo. Mas que também se perpetuará em energia pura num esforço sobre-humano para projetar-se até o fundo de um outro céu.
Eu pouco disse, repito: tenho muito a dizer. Mas é melhor emudecer. Deixar aos novos viajantes intergalácticos a pureza de uma experiência sem influências pequenas. Deixar que os viajantes contemplem seus próprios entardeceres eternos e depois digam se foi bom ou não viajar até o fundo do céu.