jota 13/05/2018O pensamento parece uma coisa à toa...Dez de Dezembro é daqueles livros diferentes que finda a leitura fica bem na estante colocado ao lado de Tipos de Perturbação, de Lydia Davis, O Leilão do Lote 49, de Thomas Pynchon ou Breves Entrevistas com Homens Hediondos, de David Foster Wallace. É com Wallace que muitas vezes os críticos comparam seu autor, George Saunders, pelo uso criativo da linguagem em suas obras; ele é (ou era) professor de escrita criativa na Universidade Syracuse. Desse modo, não espere encontrar histórias lineares, tradicionais, com começo, meio e fim, que não é exatamente isso que os dez contos da edição brasileira trazem.
Todas as histórias esquisitas (no sentido de originalidade, inovação, contemporaneidade etc.) que Saunders nos conta dizem respeito à moderna sociedade americana, especialmente a classe média do país, e seus personagens exibem neuroses e motivações psicológicas profundas que explicam seu comportamento e modo de pensar. Muitas vezes na verdade nada está acontecendo de fato, apenas mentalmente os protagonistas estão antecipando o que poderia ou não acontecer em seguida ou lembrando de acontecimentos passados por outro ângulo, que poderiam ser ou ter ocorrido de outro jeito, qualquer coisa assim. Claro que isso cria certa confusão na nossa cabeça, não apenas na cabeça das imaginativas criaturas de Saunders, algumas delas irreais.
Eu desconhecia a existência de Dez de Dezembro e cheguei a ele quando buscava informações sobre Lincoln no Limbo, o livro mais recente do autor publicado no Brasil. Decidi lê-lo mas quase desisti logo no primeiro conto e fui até o final porque mais do que tentar entender o que lia fui lendo simplesmente e gostei de algumas coisas, não da maior parte, porém. Destaco Semplica girl – Os diários, conto bastante longo, quase uma novela, que é uma tragicomédia social pontuada de sarcasmo e que me pareceu a melhor coisa desse estranho livro.
Minha avaliação final diz respeito à minha relação com as histórias, não à obra em si, que várias publicações e autores cobriram de elogios no lançamento em 2013. Acho que é porque fiquei por demais viciado nos contos de Machado, Maupassant, Malamud...
Lido entre 08 e 12/05/2018.